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sábado, 2 de novembro de 2013

PARA O GRANDE DARCY RIBEIRO




            Compreender o Brasil, passa pelo conhecimento de grandes nomes que defenderam de forma intransigente, os interesses do país, falo aqui, do mineiro Darcy Ribeiro, mas, representante de todo o país. Figura emblemática, polêmica, defendeu de forma veemente durante toda a sua vida duas bandeiras: a educação brasileira e o direito dos índios, daí o caráter humanista de sua pessoa. Ajudou a  criar o Parque do Xingu, o Museu do Índio e a Universidade de Brasília.


            Sua formação de antropólogo e sociólogo, lhe deram uma visão acurada das questões nacionais. Viveu temporadas entre os indígenas, e dessa experiência deu origem a envolvente obra Diários Índios: os Urubu Kaapor. A leitura dessa obra tem a capacidade mágica de nos fazer viajar com Darcy para as florestas do Maranhão, nos anos 1950 onde viviam esses povos. É a construção de um cotidiano que nos causa estranhamento diante da minúcia da descrição dos hábitos e costumes de uma cultura diferente da nossa.


            As vezes me faço um questionamento o que teria levado esse homem tão jovem, de apenas 27 anos a se embrenhar na solidão das florestas tropicais? Dos diários o que li foi a obra citada acima, esta apresenta uma leitura leve, é despretensioso, coloquial, possibilita uma agradável leitura. Penso na descrição dos Urubu Kaappor e vejo que se trata de um dos melhores estudos antropológicos brasileiros.


            O que me seduz em seu pensamento e em sua obra, é que com ele a palavra “selvagem” assume uma nova conotação, livre do peso, pejorativo usado por outros autores, aqui eles são os “moradores da floresta”, prova de sua relação respeitosa com esses povos. Darcy tem a garra, com um misto de romantismo dos utópicos, vejo isso, quando dedicou seus últimos dias a consolidar o projeto de fixar os “verdadeiros donos da terra" à Floresta Amazônica, isso fica explícito em sua próprias palavras :
“Dediquei a vida aos índios, à minha paixão por eles e também à escola pública. Minha vida é feita de projetos impessoais para passar o Brasil a limpo, porque o Brasil é máquina de gastar gente. Gastou seis milhões de índios e o equivalente de negros. Para eles? Não! Para adoçar a boca do europeu com acúcar, para enriquecer uns poucos. O povo foi gasto como carvão neste país bruto”.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O MAR ME LEMBRA CAYMMI



            Sou do sertão, e só vim conhecer o mar, quando já entendia de mim, e das minhas principais predileções, deve ser por isso, que quando lá estou e sinto sua grandeza física, energética e mística tenho uma trilha sonora que emoldura esse pensamento, as músicas do baiano Dorival Caymmi, notadamente, aquelas que falam do mar. Caymmi é um dos mais célebres músicos brasileiros, suas músicas são construídas, para exaltar sua querida Bahia, o mar e a mulher brasileira. Seu jeito meio ocioso lembra o cansaço que a maresia traz e as inevitáveis viagens que fazemos para dentro de nós mesmos.


            Caymmi é o artista figurativo, aquele que cria de forma harmônica crônicas e versos de inspiração folclóricas. Suas canções trazem: equilíbrio, ordem, beleza clássica, regularidade, harmonia liberta de amarras formais, e um tanto de sabor evocativo do samba urbano.


            Suas canções têm tamanha poeticidade, soam tão naturais que parecem acontecimentos vindos da natureza, com um que de brasilidade e baianidade. A sua voz é grave, porém mansa, chega a lembrar um canto erudito. Os seus ritmos e gêneros eram comuns aos pescadores da Bahia. Suas canções retratavam a crônica de uma época a linguagem de uma gente. Como na música Vida de negro é difícil, é difícil como o que (Retirantes), composta por ele e Jorge Amado. Trilha sonora da novela Escrava Isaura da TV Globo.


            O interessante de sua obra é a permanência e a vitalidade que ela desempenha no presente, têm relevância estética além do período em que foi produzida. O seu espaço canônico reservado na música brasileira ao lado de outros como Ari Barroso ou Noel Rosa é incontestável. Por fim fico com o conselho de João Ubaldo Ribeiro escutai Caymmi ele não quer que decifres nada a não ser vós mesmos, como é a empresa sagrada dos grandes poetas. E por tudo isso, fico com seu verso mais bonito é doce morrer no mar.
           
           
            

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

APARÊNCIA CORPORAL: UMA NECESSIDADE DA CONTEMPORANEIDADE





Vivemos em um momento histórico em que a valorização da aparência e do corpo se apresenta em seu período mais crucial, onde o investimento na imagem baseada na aparência é tema central de debate. A precariedade da carne com o envelhecimento progressivo e o descarte de produtos que alimentam a cadeia da aparência, permeiam o imaginário social relativo ao descrédito com o corpo real e com uma aparência menos elaborada.


            A busca na atualidade é por um corpo perfeito onde a aparência trabalhada na aquisição do consumo, é o local de expressão da felicidade e da representação da identidade social, caminhando tudo para a lógica da mercadoria do sistema capitalista. Vivemos em uma época em que o corpo além de ser cultuado é coisificado, a TV, o cinema, a medicina, a publicidade, a moda, os esportes asseguram seu sucesso, sua valorização, e colocam a aparência corporal como núcleo do glamour, da prosperidade, da saúde e da felicidade humana.


            Esse entendimento é contraditório com a realidade cotidiana que se apresenta de forma instável, caótica e incerta. A contemporaneidade apresenta um cenário de desemprego, violência, miséria, doenças, crises econômicas e ecológicas. A realidade do mundo da fama e o espetáculo das imagens contribuem para que o próprio corpo seja considerado a única coisa que resta ao ser.


            A reflexão em torno da temática da aparência se mostra mais relevante se for levado em consideração os indícios que a sociedade contemporânea capitalista apresenta em toda parte, com a crescente obsessão pelo corpo, a aparência e a imagem que será projetada a partir disso. Não se trata de qualquer corpo, mas de um fabricado, construído, que apresente uma saúde perfeita. A aparência tem que ser fundamentada além do básico e o que passa a valer é a uniformização de produtos que representem luxo e glamour. A moda é a padronização dos usos desses produtos que constroem a aparência calçada na cultura do consumo.


            Nesse sentido, a cultura da aparência ganha espaços significativos na contemporaneidade, através dos meios de comunicação. O assunto circula na pauta de jornais e revistas, encartes de cultura e programas publicitários. Além disso, a obsessão atual pela construção da aparência como resposta a instabilidade, fragmentação e efemeridade marcam a vida social, ajudando no entendimento da centralidade assumida pela cultura da aparência na sociedade contemporânea. Neste sentido, a mídia é um elemento influenciador, pois apresenta um desejo de modelo corporal dito ideal. A preocupação com a aparência atinge traços de obsessão e está cada vez mais enraizada em todas as profissões e idades.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

QUANDO CONHECI GLAUBER ROCHA





Acho que as Ciências Sociais deveriam servir como base para a grande maioria das profissões, possibilitaria uma abertura maior do entendimento do mundo em que o indivíduo está inserido, para mim um dos conceitos mais caros no entendimento desse mundo é o de estranhamento as coisas que não são comuns a meu entendimento. Uma delas é a estética, com suas sensações do belo, das emoções e das técnicas de arte. Quando conheci Glauber Rocha tive essa sensação de estranhamento estético tão forte que chegou a me causar um certo mal estar.


Fui apresentada a ele através de um livro em que o próprio escrevia cartas para pessoas ligadas a sua vida, após isso, não deixei mais de pesquisar, ler ou ver seus filmes sempre embalada pelo furacão de ideias e novo formato que suas obras trazia. A busca por fazer um trabalho que fosse contrário aos padrões importados dos Estados Unidos que não fosse colonizado, como o próprio Glauber diz já traz por se uma mudança considerável na nossa viciada construção cinematográfica.


Sua filmografia é inquieta como sua vida, é forte como sua personalidade, busca uma identificação genuinamente nacional como o Brasil deveria ser. Sempre achei Glauber Rocha, o menino baiano grande demais para o nosso meio artístico viciado na estética comercial, naquilo que é mais fácil de vender e de ser visto, haja vista nossas barreiras educacionais. Fico imaginando toda a efervescência cultural do Cinema Novo em busca de uma linguagem que se aproximasse do povo e vejo Terra em Transe (1967) uma vigorosa alegoria política do populismo, das ilusões das liberdades de esquerda e da mistura das culturas (africana, índia e branca), se coloca até hoje num grau apurado de atualidade.


Essa busca de uma linguagem nacional causa impacto Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) fortemente influenciado pelas raízes baianas de Glauber, traz o sertão, as mazelas sociais entre os patrões e o empregados, os cangaceiros e toda a carga social que esse cenário representa. Manoel o empregado, símbolo do povo brasileiro escapa, testemunha das teses de suas obra.


Sem medo de parecer lugar comum vejo Glauber como um homem incompreendido em seu tempo, atacado por ambos lados (tanto esquerda, quanto direita), seu mundo era permeado pela onda apocalíptica da decadência. O que não pode ser negado é a influencia da Nouvelle Vague e do Neorrealismo Italiano. O que não pode deixar de ser mencionado ainda é o reconhecimento do valor de suas obras com prêmios como no Festival de Cannes. Glauber é tão grande que uma frase sua não deixa de ecoar em minha mente inventar-se antes que os outros o transformem num mal entendido.