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sexta-feira, 7 de junho de 2013

QUANDO CONHECI GLAUBER ROCHA





Acho que as Ciências Sociais deveriam servir como base para a grande maioria das profissões, possibilitaria uma abertura maior do entendimento do mundo em que o indivíduo está inserido, para mim um dos conceitos mais caros no entendimento desse mundo é o de estranhamento as coisas que não são comuns a meu entendimento. Uma delas é a estética, com suas sensações do belo, das emoções e das técnicas de arte. Quando conheci Glauber Rocha tive essa sensação de estranhamento estético tão forte que chegou a me causar um certo mal estar.


Fui apresentada a ele através de um livro em que o próprio escrevia cartas para pessoas ligadas a sua vida, após isso, não deixei mais de pesquisar, ler ou ver seus filmes sempre embalada pelo furacão de ideias e novo formato que suas obras trazia. A busca por fazer um trabalho que fosse contrário aos padrões importados dos Estados Unidos que não fosse colonizado, como o próprio Glauber diz já traz por se uma mudança considerável na nossa viciada construção cinematográfica.


Sua filmografia é inquieta como sua vida, é forte como sua personalidade, busca uma identificação genuinamente nacional como o Brasil deveria ser. Sempre achei Glauber Rocha, o menino baiano grande demais para o nosso meio artístico viciado na estética comercial, naquilo que é mais fácil de vender e de ser visto, haja vista nossas barreiras educacionais. Fico imaginando toda a efervescência cultural do Cinema Novo em busca de uma linguagem que se aproximasse do povo e vejo Terra em Transe (1967) uma vigorosa alegoria política do populismo, das ilusões das liberdades de esquerda e da mistura das culturas (africana, índia e branca), se coloca até hoje num grau apurado de atualidade.


Essa busca de uma linguagem nacional causa impacto Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) fortemente influenciado pelas raízes baianas de Glauber, traz o sertão, as mazelas sociais entre os patrões e o empregados, os cangaceiros e toda a carga social que esse cenário representa. Manoel o empregado, símbolo do povo brasileiro escapa, testemunha das teses de suas obra.


Sem medo de parecer lugar comum vejo Glauber como um homem incompreendido em seu tempo, atacado por ambos lados (tanto esquerda, quanto direita), seu mundo era permeado pela onda apocalíptica da decadência. O que não pode ser negado é a influencia da Nouvelle Vague e do Neorrealismo Italiano. O que não pode deixar de ser mencionado ainda é o reconhecimento do valor de suas obras com prêmios como no Festival de Cannes. Glauber é tão grande que uma frase sua não deixa de ecoar em minha mente inventar-se antes que os outros o transformem num mal entendido.