sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

CEM ANOS DE SOLIDÃO DE GABRIEL GARCIA MARQUEZ



Fui apresentada a essa joia literária por um antigo amigo, e desde o começo percebi que o livro era tão bem elaborado, de uma riqueza tão imensa que dessa vez fiz diferente, li aos poucos para que durasse em minha vida livresca essa tão incrível história. Marquez narra a incrível e triste história dos Buendía a quem não é dada uma segunda oportunidade sobre a terra. Mas, na verdade eu entendo o livro como uma autêntica enciclopédia do imaginário, e jamais deixei de associar os Buendía a centenária casa de minha família.


Não irei montar esse meu entendimento com um resumo das minhas próprias palavras, acredito que por menor que fosse seria um sacrilégio, mas para que vocês leitores se orientem ele conta a história dos Buendía os fundadores da fictícia cidade colombiana de Macondo, passando por sua criação, anos de glória até o seu derradeiro esquecimento. Acho que é o romance que mais identifica a América Latina com ela mesma, além do que, enxergo nos Buendía traços de  minha própria família e vejo em Macondo elementos da cidade que moro a anos. Garcia Marquez cria com seu micro mundo uma verdadeira obra universal, contada por meio de coisas surreais.


No decorrer da narrativa somos apresentados a todos os Arcadios, Amarantes e Úrsulas todos da família Buendía, personagens singulares, mas que levam a fama de ter sempre um nome de um antepassado. O primeiro deles é José Arcádio Buendía que é uma mistura de louco com visionário e patriarca dessa família condenada a solidão. É ele que funda a cidade de Macondo e é casado com Úrsula Iguarán que viveu cerca de 122 anos, quando lembro da passagem em que ela envelhece e é esquecida como uma coisa qualquer, não deixo nunca de lembrar das minhas tias com mais de 90 anos que também sofreram esse mesmo esquecimento por parte da família.


José Arcádio Buendía e Úrsula têm três filhos, Amaranta, José Arcádio e Aureliano. Nenhum deles conseguirá ter uma felicidade plena no amor. São todos apaixonados e impulsivos mas acabam sempre sozinhos em seus desígnios. Tem também personagens secundários como Pilar Ternura que acaba se tornando concubina do irmão Buendía e o cigano Melquiades que vive a volta com sua família e é capaz de ressuscitar várias vezes é ele que escreve os pergaminhos que narra a história da família Buendía.


É daqueles livros que é preciso ler para entender o motivo de ser tão bom, a leitura chega a ser inusitada, uma pessoa é capaz de subir aos céus, outras conversam com fantasmas, algumas vivem mais de cem anos, e o bom é que tudo isso é normal; alguns personagens morrem e o autor não nos conta quem os matou, e mesmo assim a história é fascinante. Eu abria o livro estava no mundo de Macondo. Parava de ler e pensava no que ia acontecer com os personagens.


É um livro capaz de fazer exercitar a memória, embora a leitura seja de fácil entendimento, as invencionices mágicas do autor não foge do senso de realidade. Ao terminar uma leitura como esta, sentimos a nostalgia plena que só os grandes livros são capazes de provocar, e continuaremos a buscar em tantas outras páginas como um remédio para a saudade e a prevenção para a solidão. Digo sem nenhum exagero, sem demérito dos demais, esse é o livro da minha vida. 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

SOBRE BOB DYLAN





            Antes de escrever esse post sobre o cantor me perguntei o que dizer de Bob Dylan? Queria fugir dos clichês mas pensando, ouvindo suas músicas, analisando sua história e lendo seus textos é difícil não cair na vala comum. Não tem como negar que Bob Dylan é um dos maiores nomes da música popular do século XX, um dos definidores de uma era, o rock dos anos 1960 em diante, é um dos principais artistas americanos de sua geração. Trabalhando obstinamente sozinho e usando uma palheta de recurso vastíssima, do folk ao blue, ele criou um conjunto de obra que estilo e tema cria os contornos e as perspectivas da canção popular da metade do século passado.


            Em suas crônicas ele se mostra como um homem sofrido, atormentado por demônios praticamente invencíveis em conflito com um EU público que nunca consegue definir ou controlar e um EU privado que jamais revela, e sendo assim, jamais saberemos se é capaz de se compreender inteiramente.


            Ele nunca quis ser o porta voz jovem da Juventude Rebelde da América. Seu jeito atualmente chega a ser esquisito, acredita que subir a um palco por dinheiro beira a prostituição. Nos anos 60 foi uma das maiores sensações musicais do momento, era o primeiro Dylan e para mim o melhor, aquele das canções de protesto, o garoto operoso e brilhante sobre o guarda chuva  do cancioneiro folk americano. Ele é um artista popular, mas não um artista pop, nunca se misturou e exerceu influencia decisiva sobre as músicas dos Beatles.


            Na verdade Dylan é um artista moderno, conceito que se define entre controlar os impulsos, entre manter a coerência e buscar a originalidade. Antes dele as pessoas nunca tinham ouvido falar em originalidade, pode-se encontrar o fio condutor em sua própria condução que apresenta coerência sempre. Acredito que Bob Dylan tem origem nos poetas que se apresentavam sozinhos, nas ruas com uma temática quase sempre popular irreverentes e com tiradas enigmáticas, lidas para alguém poderoso como um bispo, um senhor feudal ou um rico comerciante.


            Acho que o que mais gosto nele é que desde o começo desconfiou das amarras da fama e resolveu fugir delas. Lutou sempre para não sucumbir aos ditames dos fãs e o monstro devorador da indústria cultural. Considero Dylan genial, trouxe a música rural americana para o primeiro plano, seja como for ele continua produzindo músicas poderosas, já que o artísta só vira peça de museu quando começa a se citar constantemente. Ele teve o condão de fundar uma tradição e continuar contemporâneo, poeta profícuo ou delirante, ele está vencendo a fugacidade da cultura pop.


            Para concluir fico com os seus versos mais queridos, pelo menos para mim: I Like a Rooling Stone (1966): e que tal está sozinha sem casa e sem direção. Que é baseada num conto do próprio Dylan e não tem nada a ver com a famosa banda, embora tenha sido regravada por ela.  Em Blowin’in the Wind (1963): a resposta meu amigo, está soprando com o vento. Era o somatório dos anseios da  geração dos anos 1960, no fim da idade. Em Lay Lady Lay (1969): Deite-se senhora cama de metal na minha grande. É simples e irreverente ao cânon country, e melhor exemplifica Dylan em busca da modernidade. 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A PAISAGEM BRASILEIRA CRIADA POR BURLE MARX



            Fiz mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, quando comecei a dá aulas a temática   que mais me interessou foi o desenvolvimento urbano, principalmente as criações do paisagista Roberto Burle Marx que com Oscar Niemayer e Lúcio Costa formou o trio central do modernismo arquitetônico brasileiro. Sua obra é tão notável que quando observamos milhares de pessoas desfilando no calçadão de Copacabana no Rio de Janeiro, um dos maiores cartões postais do país fica difícil deixar de notar que o desenho ondulante das pedras do passeio dialoga perfeitamente com a própria baía e o pão de açucar ao fundo.


            O interessante é que a curva da praia não dialoga somente com o piso da calçada mas também com as árvores plantadas na ilha central da Avenida Atlântica e com os jardins calculadamente dispostos ao lado dos prédios. Vista do alto dá a ideia de uma pintura modernista. O brasileiro Roberto Burle Marx (1909-1994), ajudou a desenhar também com plantas, flores e lagos, alguns dos endereços mais divulgados do Brasil como o Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro, o Parque o Ibirapuera em São Paulo, e o conjunto da Pampulha em Belo Horizonte.


            Burle Marx, sempre entendeu que ao artista, vale a mesma máxima que a distância, no caso atemporal ajuda a mostrar a real dimensão das coisas. Juntamente com Oscar Niemayer forma os elementos do nosso modernismo arquitetônico, com características próprias que vai além do racionalismo em voga na época na Europa por Le Courbisie. Além do instável em sua obra ele é ainda inovador por: incluir aos jardins um caráter pictórico; incorporar plantas a sua criação, atitude pioneira na década de 1930; precursor do pensamento ecológico na década de 70; fez do jardim uma experiência estética para criar sensação.


            Uma coisa é certa não houve no mundo quem levasse a estética moderna para o paisagismo como fez Burle Marx, daí sua dimensão; as curvas que surgiram depois das construções de concreto armado de Lúcio Costa e Burle Marx apareceram pela primeira vez nos jardins de Burle Marx. Admirar os seus jardins é perceber seus contrastes texturas e volumes. Ele abandonou o modelo quase estático europeu em que predominavam as rosas azaleias e magnólias. Para se aproximar a criações mais livres que se assemelham a própria mata virgem.


            Eu particularmente gosto de sua obra e o que sempre procurei mostrar aos meus alunos foi que sua experiência do jardim é toda ela feita de ritmos. Como experiência física põem em cheque toda a experiência do corpo, sua verticalidade. É uma peça em puro deleite para deixar os sentidos em forma de amostra. Considero-o modesto e em uma das entrevistas que deu ao longo da vida, disse que foi poeta de sua própria vida. E o interessante é que com sua poesia mudou os parâmetros da arte moderna no país, provocando até hoje um deleite aos nossos sentidos. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

VIAGEM A LUA DE Méliès



            Quem gosta de cinema e se interessa pelo assunto, conhece, já viu ou já ouviu falar do filme Viagem a Lua de 1902 do ilusionista francês Georg Méliès, um dos precursors do cinema que usava inventivos efeitos fotográficos para criar mundos fantásticos. Já tinha lido muito sobre o assunto, mas ontem, assisti o filme no You tube e me questionei se faria ou não uma crítica aqui para o blog. É muito difícil analisar esse filme, primeiro para os nossos olhos contemporâneos, um filme desse soaria tolo e simplório, mas é preciso avaliar o período em que ele foi lançado e para a época seria até ousado, já que o homem só veio a pisar a lua 67 anos depois. Um outro problema seria o que dizer de um filme que tem apenas 12 minutos? Vamos as impressões.  


            O filme apresenta um mundo de paisagens fantásticas, onde um grupo de velhos professores entram em uma cápsula de metal em formato de bala, disparada de um canhão em direção a lua. Lá os viajantes são submetidos a um julgamento pelos tribunal e pelos habitantes de lá, esse são um mistura de crustáceo, papagaio e esqueleto. O filme apresenta uma violência infantil, os viajantes matam alegremente os nativos e viajam de volta a terra. 


            O filme vale ser visto, pela técnica inovadora para a época, a imaginação apurada do diretor que era capaz de pensar como seria a lua, satélite que fascina a humanidade a tanto tempo e que na época era apenas um mistério. Os cenários magnificos para a época com cogumelos gigantes e palácios lunares. E sobretudo, pela manipulação engenhosa dos cenários teatrais, como a lua que é apenas um rosto humano coberto de massa e que chora quando o foguete atinge seu olho. É um mundo mágico e encarpado, onde impera acima de tudo a criatividade.