Lembro que quando eu era criança e morava
em uma cidade pequena do interior se dormia de janela aberta e o quanto que
aquilo era bom, senti o cheiro da noite e deixar a lua iluminar o quarto não
tinha preço. Ninguém tinha medo e todas as pessoas eram conhecidas, nem mesmo
um bêbado aos domingos, dias de festa na Cidade, causava qualquer temor.
Eu esperava ansiosamente o cheiro de
bolo vindo da cozinha, até hoje é um dos cheiros que mais gosto, não era
costume bolo de chocolate, mas o de fubá com cocó era divino e se comia na
hora, quente mesmo, apesar das rogativas dos adultos para não faze-lo.
O leite era fresco e o creme feito
em casa, assim como o queijo. A canjica de milho era feita com coco e
polvilhada de canela e o melhor era ter minhas iniciais gravadas no prato.
Domingo era dia de galinha, ou qualquer outra carne que fosse diferente do
usual. Não se comia salada e não havia preocupação com isso.
O domingo era um dia diferente,
ia-se a missa, se vestia a melhor roupa, comungava e a vida parecia tão leve, o
bom é que não se tinha medo de nada e nesse tempo não se complicava tanto a
vida.