Na Cidade
em que moro, a prefeita foi afastada do cargo pela justiça 12 vezes por conduta
vedada pela lei no período das eleições, o ambiente social divide opiniões que
quase sempre são inflamadas por paixões antagônicas em que cada um a sua
maneira, defende seus próprios interesses, ninguém pensa na coletividade
propriamente dita. Passeando pela estante de livros que tenho, vi Triste Fim de Policarpo Quaresma, que li na adolescência e resolvi rever agora
para tirar algumas observações sobre o impasse do mundo político e social.
Lima
Barreto não conheceu notoriedade em vida. Foi preciso que o tempo lhe fizesse
justiça. Triste Fim de Policarpo Quaresma sua obra mais famosa, se consolidou
como um clássico, porque nasceu de um lance de gênero e traduziu os impasses do
Brasil do seu tempo. No romance, o major Policarpo Quaresma, vive de idealismos
nacionalistas. A primeira parte o retrata como um nacionalista que vive em seu
gabinete cercado de livros, alimentando uma imagem distorcida do país; a
segunda parte, como um proprietário de terras que percebe que as saúvas são
arrasadoras para a plantação. A terceira, como voluntário na Revolta da Armada,
que é preso após criticar o Marechal Floriano Peixoto, a quem idealizava.
Quando
Quaresma se dá conta da própria postura quixotesca está prestes a ser executado
pelo exército. Quaresma queria basicamente três reformas: da cultura, da
agricultura e da política, quanto a isso, ele continua mais atual do que nunca.
Seu sonho mais singular foi de oficializar o tupi-guarani como idioma
brasileiro. Certas desventuras e encantos do protagonista, poderiam ser vistas
como do próprio autor, mas seu brilhantismo nesse romance passa ao longe da
autobiografia.
Lima
Barreto carregou preconceitos ao longo da vida, filho de mestiços ficou órfão
de mãe aos 7 anos e mais trade viu o pai enlouquecer; tendo de amparar a
família, não conseguiu terminar o curso na Escola Politécnica. Enfrentou
depressão e alcoolismo e foi internado duas vezes no Hospício Nacional. Ele foi
sobretudo, um intelectual combativo que, também marginalizado no meio
literário, expressava as contradições de uma sociedade que ainda vivia a
transição da Monarquia para a República. O que mais gosto da leitura desse
livro é sua ironia sarcástica do momento histórico que retrata.
Triste Fim
de Policarpo Quaresma se insere no Pré-Modernismo brasileiro pela forma e temas
que desenvolve. A rejeição de Barreto ao eruditismo e ao rebuscamento
estilístico se explica como uma postura de oposição a chamada elite literária;
com isso, seu coloquialismo antecipava características modernistas. Livro
indiscutível para repensar os interesses coletivos de uma sociedade.