Clube
da Esquina é um disco lançado em 1971 por Milton Nascimento, Lô Borges, Beto
Guedes e Toninho Horta. É um disco de profunda musicalidade, com: música
instrumental; regionalismo; latinidade; religiosidade; rock; jazz; arranjos bem
definidos e a música brasileira das décadas anteriores. Gosto do disco porque
ao ouvi-lo me remeto de imediato o clima de serenatas e rodas de violão, soa
despojado.
É
uma obra que busca superar o óbvio o que se toca recebe influencias de
Clementina de Jesus a Beatles. Ouvindo as músicas é inevitável não lembrar das
tradições populares e das festas de rua do interior de Minas Gerais. A
influencia da Bossa Nova no Grupo, completa no que vou chamar aqui de
hibridização cultural, em que valores relativos a cultura de elite, convivem com
práticas ligadas aos meios populares e a cultura massiva.
É
um música despretensiosa, que não tem a intenção de ser vanguardista, nem
popularesca, é feita para o homem da cidade em si, o homem moderno, por isso, mais de quarenta anos de lançamento ainda se encontra uma certa dificuldade
em classificar o disco dentro de um padrão musical. Acho essas classificações
antes de qualquer coisa, mercadológicas.
Suas
músicas mostram um mundo próprio, capaz de ser cantado e alcançado como nos
versos: Eu já estou com o pé nessa
Estrada/
Qualquer dia a gente se vê/
Sei que nada será como antes, amanhã/ Que
notícias me dão dos amigos/
Que notícias me dão de você/
Sei que nada será
como está/ Amanhã ou depois de amanhã/ Resistindo na boca da noite um gosto de
sol.
Lançado
num momento político em que o Brasil vivia os horrores da Ditadura Militar, o
disco com suas músicas e seu lirismo doce, exala perfume no jardim seco que o
Brasil vivia. O disco é a expressão da música que soube conviver com seu tempo,
seus medos, angústias, derrotas, mas que não desistiu. Ouvindo o disco tenho a
sensação de uma doce tristeza mas não chega a ser uma sensação de melancolia
porque logo começa uma nova música, capaz de trazer alegria e sensação de que é
possível sempre ser alegre ouvindo de novo.
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