O niilismo é um movimento filosófico
que nos revela a ausência de fundamentos, verdades, critérios absoluto e
universal e nos convoca diante de nossa própria liberdade e responsabilidade. Nietzsche
descreve o niilismo europeu como sendo o
mais estranho de todos os hóspedes em uma passagem dos seus famosos textos Vontade de Poder, pensando nisso, fico
pensando: Existe um niilismo especificamente brasileiro?
Quando Nietzsche fala do niilismo
europeu ele assume em sua afirmação o ponto de vista de um migrante, alguém que
está junto, mas que é possível olhar de fora. Descrevendo o niilismo europeu
como a experiência histórica de esvaziamento de categorias tais como: verdade,
propósito, sentido, gerando então uma crise de desorientação e insegurança. Um
dos sintomas dessa crise é a atitude de desprezo pelo corpo e os prazeres. Sob
essa ótica, não há nada menos niilista do que a cultura brasileira, já que aqui
impera o culto ao corpo e a sua saúde aparente. Mas na verdade o hedonismo
parece ser uma tendência comum na maioria das sociedades contemporâneas.
Afinal existirá alguma manifestação
específica de niilismo brasileiro? Acho que temos algumas expressões como na
separação entre o que é cultura de massa e cultura de elite; a primeira
manipulada pela elite, a segunda inacessível as massas. Um outro ponto é a
relação ambígua do brasileiro com a natureza, entre a fascinação deslumbrante e
a fúria exploratória. E principalmente, a tendência brasileira de preferir não
se comprometer, do tipo eu não to fazendo
nada.
A filosofia existencialista costuma
distinguir entre a atitude autêntica da atitude inautêntica daquele que delega
inconscientemente a responsabilidade de suas opções para os outros. O que os
existencialistas não previram foi o chamado
jeitinho brasileiro: a escolha intencional da não-escolha, da
inautenticidade, do cinismo. Os brasileiros diferente dos europeus que ao que
parecem só sabem jogar para ganhar muito ou pouco, assumem uma nova modalidade,
mudar as regras do jogo, uma metáfora inusitada presente no carnaval, no
futebol e sobretudo na nossa política.
O Brasil é uma utopia não no sentido
de lugar inatingível, mas de um fora de lugar, um lugar não determinado, mas
cheio de possibilidades. Em questionários aplicados por estudiosos da área das ciências
sociais encontrou-se como resultado que somos o país do jeitinho identificado em três dimensões: a criatividade,
a corrupção e a quebra de normas sociais. Ao que parece nossa grande
dificuldade está em conseguir separar as relações pessoais das relações que
necessariamente exigem impessoalidade e isso não deixa de ser uma forma de
niilismo.
Questionamento interessante,não tinha pensado ainda sobre um possível niilismo tupiniquim , seria um niilismo do dever religioso mesclado com a profanação cotidiana, não sei bem, vou pensar um pouco mais.
ResponderExcluirFelipe quando tiver uma posição poste aqui, vamos ampliar o debate!! Obrigada pela intervenção!!
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