segunda-feira, 10 de março de 2014

A MODA NA BELLE ÉPOQUE BRASILEIRA



A Belle époque é aquele período carregado de uma aura de progresso e bem estar que a humanidade vivia em fins do século XIX e início do século XX. Era o período do progresso nas artes, na literatura, na música e na arquitetura com as reformas urbanas de Paris. Era também nesse momento que passou-se a se conhecer a criação de grandes invenções como: eletricidade, telégrafo, telefone, estradas de ferro e automóveis. Esse período só viria a terminar com o início da Primeira Guerra Mundial, terminando um período de paz e prosperidade, colocando em cheque a capacidade da humanidade em ser detentora do seu próprio destino.


            No Brasil, considera-se que esse período tem início em 1889 com o fim do Império e a Proclamação da República, indo até 1922 com a Semana de Arte Moderna, entretanto, alguns pesquisadores consideram esse período, como indo até o golpe de 1930. É o período que coincide com o crescimento demográfico do país, com a vinda de imigrantes para o sudeste, que branqueariam a população, e a marginalização dos negros libertos nas periferias das cidades.



            As compras já faziam parte de uma cultura urbana, que legitimava a permanência das mulheres nos espaços públicos frequenta-los tinha um sentido maior do que adquirir bens fazia parte dos hábitos da elite. Nos passeios nas cidades era comum as mulheres usar tailleur um conjunto com saia e casaco com gola inspirado diretamente no vestuário masculino com cores escuras em tons de cinza.



           As revistas especializadas da época determinavam o que seria uma mulher de classe. Seria alguém que tinha de trocar de roupa sete a oito vezes durante o dia. Começando pelo robe de manhã, depois o traje da cavalgada, uma roupa elegante para o almoço, o passeio pela cidade, o de visitas, a roupa de jantar e, finalmente, o traje de gala para ir ao teatro e outras ocasiões mais sofisticadas. Essas trocas de roupas eram bastante semelhante as parisienses.



            O vestuário testemunhava o tempo e os meios culturais e financeiros que seu portador dispunha para dedicar à aparência. A aparência não era formadas apenas por itens comprados, mas através de cuidados corporais, era o chamado processo civilizador. As moças deixavam o culto a palidez para se lançarem em banhos de mar, caminhadas e exercícios físicos que lhes proporcionavam um tom mais saudável. Na busca por uma pele perfeita, os cosméticos passaram a ser usados e eram sobretudo, sinal de modernidade.



A necessidade de corpos mais ágeis, pois fim ao reinado de 70 anos do espartilho, deixando a nova silhueta definida por um vestido simples de linhas retas com cintura alta marcada logo abaixo do busto. Nesse período da belle époque acho particularmente interessante a chamada moda do luto. Recomendações de como se deveria vestir nos casos de morte na família, estando desde o tipo de tecido, desde o tipo de luva e calçado apropriado.




Para as classes abastadas que consumiam moda, encenar o fenômeno da modernização na própria aparência era a maneira imediata de compartilhar o modelo europeu de civilização. Com esse intuito, suportava-se o desconforto da moda parisiense que não condizia com o clima quente dos trópicos. Mas não se deixava de andar na moda. 

sexta-feira, 7 de março de 2014

A LEITURA DA CASA DOS ESPÍRITOS DE ISABEL ALLENDE


            Comprei A Casa dos Espíritos de Isabel Allende em 2011 e ele ficou lá na estante um pouco esquecido, agora ao terminar a leitura me arrependi de não o ter feito antes. Desde a primeira página entrei num mundo encantado de misticismo e magia que logo entra em contraste com o conflito e a tensão do personagem central Estebán Trueba. No entanto, são as personagens femininas que realmente dominam a trama. Clara, Blanca e Alba três gerações de mulheres que lutam pelo que acreditam. Criticadas por uma sociedade conservadora encontram sempre meio de ajudar os outros.



            Clara é indiscutivelmente minha personagem predileta, o seu mundo é mágico ela convive com naturalidade com espíritos, lê a alma das pessoas, tem um cão incomum o Barrabás, escreve tudo em cadernos de anotar a vida. Sua sensibilidade é grande a tudo tem certeza do seu futuro que é casar com Estebán Trueba noivo de sua irmã de cabelos verdes Rosa que havia morrido. Trata todos com o mesmo carinho e simpatia que devota ao marido. É uma personagem extremamente profunda com imensa carga psicológica e sua grandeza está em se afastar dos estereótipos. Por sua visão de mundo se mantém superior a tudo de ruim que pudesse lhe acontecer.



            Blanca filha de Clara é desprezada pelo pai e não herdou os encantos da mãe. Tinha uma personalidade mais forte do que a mãe mas não o suficiente para enfrentar tudo e todos e fugir com seu grande amor Pedro Terceiro, camponês da fazenda do seu pai. No fim perdoa o pai pela não aceitação do romance e mostra ser uma mulher lutadora por ter persistido durante toda a vida para ficar com o homem que escolheu.



            Alba é uma mistura das duas antepassadas mostra ter dons como a avó compreensiva e avessa a certos sentimentos, mas é romântica como a mãe e vive um romance com o socialista Miguel acarretando problemas políticos num momento de mudanças em seu pai. Como as outras é corajosa sendo a única capaz de enfrentar o Estebán Trueba patriarca e dominador da família.



            O livro é uma saga épica. É possível sentir o sabor das grande obras em suas linhas, o passado e presente se entrelaçam para formar uma intriga brilhante de ódio, morte, traição e ira. Isabel Allende nos mostra a profunda visão que tem da história chilena do século XX, do caos do governo Allende ao golpe militar tendo como pano de fundo as desventuras da família Trueba. Os personagens mantém uma certa ambiguidade é possível em pouco tempo ama-los ou odia-los. Acho que o excesso de melodrama deixa o ritmo um pouco cansativo, mas como seus personagens são extremamente explorados é possível retomar o ritmo da obra.




            Considero Allende bem próxima do realismo mágico de Garcia Márquez com a deliciosa união entre o divino e o profano. Nos capítulos finais que trata da situação política a obra se torna mais madura e equilibrada. O livro todo é um tributo a luta das mulheres pela emancipação em uma sociedade machista e autoritária. Dou vivas ao seu feminismo doce e lírico que coroa a excepcionalidade da obra.

quarta-feira, 5 de março de 2014

A MODERNIDADE DA REVISTA O CRUZEIRO.


            Quando começou a circular em 1928 a revista O Cruzeiro já se auto qualificava como um veículo moderno, que trazia com o seu nascimento o anúncio de um novo mundo de arranha céus. O interessante é que no dia do seu lançamento a publicação atingiu simultaneamente todas as capitais do Brasil, o que lhe garantiu o pioneirismo em termos de abrangência nacional. A ideia inicial foi do jornalista português Carlos Malheiro que por dificuldades financeiras, vendeu o título a Assis Chateaubriand (1892-1968) empresário e jornalista. A época ele já possuía alguns jornais e a nova revista contribuiu para o seu conjunto de veículos.


            Em pouco tempo se transformou em um título de grande destaque no mercado editorial brasileiro, encontrando um sucesso de público que se estenderia por décadas até sua última edição em 1974. A revista possuía independência para definir a pauta e os procedimentos internos. Porém como os outros veículos do Diários Associados, estava sujeita a acatar as vontades e os interesses de seu proprietário. Sendo usada como ferramenta de pressão política e ideológica. Era vitrine e meio privilegiado para divulgação de notícias, assuntos variados e campanhas de interesse nacional.


            O Cruzeiro marcou época na história do jornalismo brasileiro ao incorporar a reportagem investigativa e o modelo de fotojornalismo. A fotografia substituiu a ilustração trazendo para as matérias mais impacto visual. A revista era a aproximação da jovem República com o  que se convencionou chamar de civilização ocidental, positivista e tecnocrática, um flerte com as ideias de Modernidade, modernismo e vanguarda. A revista buscou por enaltecer traços que ajudassem na representação do país como nação moderna e democrática.




            O Cruzeiro apresentava matérias jornalísticas sobre temas nacionais e estrangeiros, textos primorosos bem diagramados, apresentando boas fotos e ilustrações. Sua receita pode ser decifrada como uma resenha do noticiário semanal nacional e internacional com muito material fotográfico, literatura, reportagens sobre locais exóticos e quase desconhecidos da flora e fauna nacionais, colunas que abordavam um grande espectro de assuntos.


            Tais características fizeram O Cruzeiro se firmar como a grande revista de penetração nacional em poucos meses após seu lançamento. Muitos leitores se dirigiam à redação da revista na tentativa de encontrar o exemplar que não haviam conseguido comprar nas bancas. O Cruzeiro circulava em todas as classes sociais; tinha como público fiel mulheres e homens, idosos e adolescentes, moradores de grandes e de pequenas cidades, circulavam do Sul ao Norte do país, como desejou “Chatô”, ao projetar a revista.


            Eram destaques na revista as colunas O Amigo da Onça e a seção Garotas coluna de ilustração impressa em cores sobre as jovens modernas e breves textos de ironia e humor. Carmen Miranda era campeã de capas nos anos1940 e Getúlio Vargas figura frequente.  Tinha em seu quadro nomes como: Millôr Fernandes, Ziraldo, Raquel de Queiroz, Anita Mafalti entre outros. E foram eles que construíram um outro patamar sobre a imprensa nacional. Desconsiderando as questões ideológicas, O Cruzeiro inaugurou um outro estilo mais maduro e profissional, com grandes reportagens que fizeram história com iniciação no candomblé, índios, misseis, personagens políticos, extra terrestres, sobre tudo que pudesse ver e ser visto.


            O Cruzeiro trouxe incontestável contribuição para os estereótipos, arquétipos e modelos que temos do Brasil em seus aspectos visuais, culturais, sociais, econômicos e políticos do que seja a nação brasileira e sua chamada modernidade.


segunda-feira, 3 de março de 2014

JOSEPHINE BAKER: A VÊNUS NEGRA


Os anos 1920 são para mim um período de admiração e curiosidade já falei outras vezes aqui no blog sobre essa época, há tempos vinha pensando em escrever um texto sobre Josephine Baker mulher ambivalente complexa e multifacetada. Grande estrela do período. Sem levantar bandeiras políticas ou se engajar no movimento de emancipação feminina, assumia um comportamento vanguardista. Seus biógrafos contam que era uma mulher de personalidade forte, dinâmica, extrovertida e desprovida de maiores pudores. Quando sentia atração por um homem, fazia sexo com ele.



Josephine Baker nasceu em 1906 nos Estados Unidos no Estado de Missouri. Filha de uma afro americana de descendência indígena e um músico negro passou a infância num ambiente de penúria. Foi garçonete e deixou sua terra natal com um grupo de artistas mambembes. Fez algumas apresentações americanas, passou por dificuldades financeiras e  na década de 1920 vai para Paris. Em 1925 a jovem sorridente e de olhos esbugalhados explodia no palco com uma energia vulcânica.



Vendo seus vídeos hoje para mim ainda parecem impactantes é uma mulher que mexe com as emoções explorando suas habilidades pantomímicas, fazia caretas, contorcia-se, remexia-se e gingava-se freneticamente de um lado para outro. Balançava as nádegas ao som sincopado do jazz e do Charleston, a mais nova sensação musical do momento. O interessante é que ao vê-la em cena as plateias francesas ficavam em estado de excitação, convictas que tinham encontrado algo novo, insólito, porém fascinante e hipnotizador. Ao que parece ela era o arquétipo de uma nova fantasia moderna, fonte de prazer, vitalidade, desprendimento e liberdade.



A performance de Baker nos palcos não passava silenciosa. Misto de teatro, dança e música, a linguagem artística de seus espetáculos fundia elementos corporais e sonoros afro, mas extremamente criativos e engenhosos. No final da década de 1920 o sucesso da Vênus Negra era engenhoso foram lançados perfumes, brilhantinas, roupas e bonecas com sua marca. Seu cabelo alisado e grudado a cabeça tournou-se a moda do momento entre as mulheres. Pela primeira passou a ser bonito substituir a brancura da pele pela aparência bronzeada.  




Foi uma dessas mulheres liberadas dos anos 1920 que não se submetia a códigos de conduta. Foi alvo de alvo de diversas polêmicas de natureza moral. Referência indiscutível do movimento artístico do século XX, o Modernismo, foi uma das mulheres mais cultuadas do período. Era sobretudo, um espírito iluminador, símbolo do cosmopolitismo artístico-cultural da vez. Ícone moderno, mulher enigmática e grande artista.