domingo, 16 de junho de 2013

QUANDO LI TRAVESSIA DE UMA NOITE DE VERÃO





            Sempre me interessei pela obra de Truman Capote, em especial Sangue Frio e a sua mais memorável adaptação para o cinema que no Brasil recebeu o título de Bonequinha de Luxo, estrelado por Audrey Hepburn. Travessia de Verão é um livro que tenho desde o lançamento no Brasil em 2006, acho interessante a história dos originais terem se perdido e só tenham sido encontrado somente em 2004, o próprio final do livro nos passa uma ideia de não se saber ao certo se foi daquela forma, ou se o autor não terminou a história.


            A história fala de amores juvenis, quebras de valores e de paradigmas, encontra-se ambientada em Nova York, logo após a Segunda Guerra Mundial, onde uma moça da Alta Sociedade, prestes a debutar, Grade McNeil resolve passar o verão sozinha sem os pais em sua cobertura na quinta avenida, enquanto isso ela resolve viver um romance com um jovem judeu que trabalha num estacionamento de carros. A jovem não tem preocupação com padrões nem opiniões sociais o que deseja é curtir a vida fora dos padrões tradicionais.


            Travessia de Uma Noite de Verão conta a história de amor e de quebra de valores, de uma sociedade que era centrada em aspectos puramente tradicionais e individuais. A narrativa de Capote vai do simples ao rebuscado como podemos ver na pág. 59. Todo mundo é obrigado a querer casar? (...) sim: mas amor e casamento não são sinônimos notórios na mente da maioria das mulheres? Com certeza poucos homens conseguem o primeiro sem prometer o segundo.


            A narrativa é construída em terceira pessoa e conta muito sobre a sociedade da época, seus anseios, suas músicas, seus costumes suas perspectivas. O central do romance é a diferença social que se abre entre Clyde e Grady o que fica evidente em seu pensamento nessa fala pág. 89. Ela não tinha medo de dizer: eu sou rica, o dinheiro é a ilha onde eu piso; pois graças ao dinheiro podia sempre se dá ao luxo de substitui: casas, móveis, pessoas. Se os Manzers entendiam a vida de outra forma não estavam acostumados a tais facilidades. Clyde trata Grady mal como uma forma de se proteger do abandono que sabe que irá passar, cedendo ao caprichos, anseios e interesses da mimada garota rica.


            Apesar de não ser sua melhor obra Capote se mostra um prosista surpreendentemente talentoso, sua técnica de escrita de cunho jornalística considerada revolucionária nos anos 1960, é referência e copiada por muitos autores, mesmo sendo um romance inicial vale a pena conhecer e fazer a leitura da obra, do início da produção literária de Capote.  

sexta-feira, 14 de junho de 2013

PENSANDO A COMPAIXÃO HUMANA





       Ao que parece a compaixão é a mais humana das virtudes responsável por definir aquilo que nos humaniza, que nos tornam seres melhores mais próximos dos nossos semelhantes. A compaixão nos abre ao outro com a possiblidade do amor dolorido, com a possibilidade de se solidarizar e compartilhar a dor que é estranha a nós.  


            No exercício da compaixão alguns elementos estão implicados como o assumir a paixão do outro,  está ao seu lado e sofrer com ele. O interessante é que nenhuma ciência social nem biológica tem uma explicação plausível para mensurar porque um homem é capaz de socorrer uma criança que chora, arriscado sua própria vida para salva-la. Essa falta de explicação supera a expressão de racionalidade que todo ser humano carrega consigo.


            A compaixão é um mistério que o ser humano tem de melhor, acredito que é fruto do amor que ele traz no coração, algumas qualidades são essenciais para a paz de espírito e é a atitude humana de afeição e compaixão que nos leva a nos interessar pelo outro, pautada principalmente no respeito e no limite do desprendimento a situação do outro.


  A efetivação da prática da compaixão baseia-se no reconhecimento de que o direito dos outros à felicidade pode e deve ser idêntico ao direito à nossa felicidade. Tenho sentido esse sentimento de compaixão depois que fiquei doente, entre parentes, amigos novos e antigos da parte de pessoas de  quem nem esperava tal atitude e acredito que a natureza humana pode ser gentil e compassiva. Compaixão, responsabilidade e solidariedade são valores fundamentais para salvarmos o mundo e as nossas vidas do cinismo, da indiferença e da desumanização tão comuns de nossa era.


            Mesmo que a nossa vida e o mundo não se transforme com a velocidade de nossas ações, é sempre possível transformar a nossa própria vida contribuíndo com a melhoria da vida do outro. 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

E O HOMEM INVENTOU À RAZÃO





Desde o século XVIII e em forma acentuada no século XIX, os espaços da ciência pareciam reproduzir os espaços da tradição, superstição e religião. Um dos segredos da modernidade foi o abandono dos mitos, Deus e o Diabo, tradição e religião, o mundo se intelectualiza de tal maneira  que não existe mais espaços para visões e fantasmas.


Nesse mundo em que vivemos o homem passa a ser senhor do seu próprio destino, e a razão aquela medida que seria produto de um cálculo, tem a pretensão de captar, compreender, explicar e ordenar o mundo, essa razão descobre, nomeia, explica e exorciza visões e fantasmas. Descobre que eles não estão no além, mas aqui junto ao homem modificando o seu cotidiano, à luz do dia, transparentes, razoáveis.


Essa modernidade que desconstrói a tradição cria a falsa ilusão de que ele é capaz de desconstruir seus fetiches, criados por ele próprio. O fetichismo é uma fabulação do dia a dia criado por todos nós, são nossas atividades humanas que assustam e nos fascinam. As coisas criadas pelo homem projetam-se diante dele como seres dotados de vida própria, e dai resulta o sentido trágico da modernidade e da razão o homem agora sabe de tudo, e esse tudo é responsável pelos maiores vazios e desvios de nossa época em que o homem é um ser que busca um sentido para tanta explicação de seu próprio mundo. Tem tanta razão que desvenda os fetiches que ele próprio cria, e  esse desvendamento provado o vazio e o isolamento da individualidade moderna.


Nisso lembro de Baudelaire quando descobre que o individuo da cidade está perdido no meio da multidão no grande deserto de homens que existe no mundo moderno, é daí que se revela o que existe de breve, fugaz , aleatório na vida presente, a modernidade para lembrar Bauman é realmente o líquido tornando as relações humanas fluídas e breves.

terça-feira, 11 de junho de 2013

O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN





Quem disse que o cinema europeu não pode ser leve, divertido, bonito, instigante se engana ao ver O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, é o tipo de filme que você tem vontade de chamar todos para verem como você de sua mãe ou tia a seu companheiro amoroso. O roteiro é relativamente simples Amélie é uma menina do subúrbio que cresce isolada porque seu pai acredita que ela tem um problema no coração, não frequentando a escola nem convivendo com outras pessoas, a mãe morre durante a sua infância e ela passa a viver sozinha com o pai.


Na maioridade Amélie se muda para Montmarte e vira garçonete do bar Dois Moinhos, um dia no seu apartamento encontra uma caixa de brinquedos de um antigo morador, perdida a 40 anos e decide procura-lo para entregar o que acredita ser um tesouro da vida daquela pessoa, ao entregar os pertences ao dono e perceber o quanto ele se emociona Amélie muda sua visão de mundo, e decide praticar o bem de forma indistinta através de pequenas ações e tornar as pessoas com quem convive mais felizes, até ela própria se descobrir apaixonada e ver que para ter chance de ser feliz também precisa se permitir correr riscos.


O filme é expressivo através dos olhos do personagem somos levados a uma Paris peculiar onde cada recanto tem sua importância, seu valor, os personagens são deliciosamente caricatos, como a hipocondríaca, o vendedor de frutas, a zeladora do prédio e o pintor com os ossos de vidro. As figuras de linguagem como metáforas e metonímias são dignas de aplausos e dão ritmo e charme ao compasso dessa irresistível  comédia romântica.


O olhar expressivo de Audrey Tatou nos hipnotiza e dá a ideia de que o mundo pode ser um lugar melhor para se viver, lembro que vi o filme pela primeira vez a uns quatro anos e tive a sensação de está dentro de um mundo diferente, os elementos colocados no filme são estetizados e harmonizados de modo a passar quase que despercebidos pelo olhar do espectador, a fotografia causa estranhamento e aproximou minha visão de um conto de fadas moderno.


Acredito que o filme é um sucesso pelo seu olhar transcendental do mundo, o olhar de que é sempre possível melhorar, de que ajudar ao outro pode ser uma alternativa, e que a partir dessa ajuda você possa modificar sua própria vida. E no fim o espectador tem uma alternativa sorrir se encantar e mergulhar no conto de fadas moderno da Amélie Poulain que encontra um amor por quem se apaixona a primeira vista e mostra que viver de forma simples e despretensiosa vale muito a pena.