sábado, 29 de março de 2014

PIZZA: SUCESSO, SIMPLICIDADE E VERSATILIDADE


Uma das minhas inquietações gastronômicas era não ter tentado fazer pizza, nesse dias de ócio criativo, em que chamo minha cozinha de experimental, testei, fiz e deu certo. Dai pensei como um disco plano de massa assado no forno, coberto por molho de tomate, queijo e outros ingredientes se tornou o alimento fundamental do fast food que conhecemos e amamos. Assim como outros pratos de sucesso sua simplicidade e versatilidade são o segredo.



Devemos o surgimento da pizza provavelmente aos antigos gregos que gostavam de pães chatos cobertos com azeite e aos romanos que adicionaram uma generosa camada de queijo, mel e folhas de louro. Porém a verdadeira magia culinária aconteceu na Itália na cidade de Nápoles, por volta da segunda metade do século XIX. Uma pizza napolitana contém tomate e mozarela sobre uma massa crocante.



Uma receita simples requer bons ingredientes e o segredo do sucesso é o tomate San Marzano. O tomate San Marzano cresce nas planícies onde há uma rara combinação de nutrientes que só uma terra que treme por causa de um vulcão pode oferecer. É doce e tem uma polpa macia e sem sementes. É essencial em 90% dos pratos italianos.



Em 1889, por ocasião da visita da rainha Marguerita a Nápoles foi solicitado ao pizzaiollo de renome Raffaele Esposito para criar uma pizza em homenagem a rainha. Ele criou uma com queijo e manjericão que a rainha logo se apaixonou. A Marguerita passou a ser o padrão de comparação de todas as outras pizzas. Os italianos viram a pizza se espalhar pelo mundo ganhando tantas coberturas que a lei determina que uma autêntica pizza Marguerita leva tomate San Manzano.


domingo, 23 de março de 2014

A POP ARTE DE ANDY WARHOL


            Andy Warhol é considerado um dos maiores artistas do século XX, sua obra sofreu influência de diversas fontes, incluindo o cinema, o jornalismo e até mesmo os detritos urbanos. Mas foi nas massas que ele encontrou mais inspiração. Fotos de artistas de cinema, de cantores de rock, de celebridades, latas de sopa, notas de dólar tudo poderia ser transformado em obra de arte.


            Através da linguagem utilizada em sua obra Warhol buscava comunicar suas ideias, seu fascínio pela comunicação de massa, seu ceticismo, sua ironia, sua visão democrática. Sua obra cultuava o objeto e se distanciava do mundo abstrato e se aproximava do caminho para a vertente pop. Pop se tornou o nome de um novo movimento quando o museu de Arte Moderna de Nova Iorque promoveu o seminário Symposium on Pop Art, que incluía entre os seus participantes nomes como Duchamp e Warhol.


            O que notadamente me interessa na obra de Warhol é que ela reflete a temporalidade da vida e dos objetos, mostrando o universo cotidiano como um conjunto de coisas a ser transformado em arte. Antes de sua obra ninguém poderia considerar uma lata de sopa como uma obra de arte, mas esse conceito foi transformado fazendo com que a arte e a vida se transformassem numa coisa só. Andy Warhol não era afeto a rótulos e repudiava a noção de invenção artística. Sua atitude é de alguém que negava a originalidade e a singularidade da arte, criando pinturas e esculturas virtualmente idênticas, chamava seu estúdio de fábrica.


Morte, vida, fama, publicidade, cinema, lixo, cultura urbana, cultura de massa, objetos do cotidiano. Todos esses elementos se unem para formar a linguagem artística de Andy Warhol. Através dessa linguagem, ele parece querer comunicar suas ideias. Warhol valoriza o simulacro em detrimento da obra de arte. Suas obras permanecem até hoje como um manifesto irônico a favor da democratização da arte, da fama e da ressignificação da morte.

quinta-feira, 20 de março de 2014

ELIS, PARA SEMPRE ELIS


Se viva fosse essa seria a semana de aniversário de Elis Regina conhecida cantora da Música Popular Brasileira. Embora hoje não escute tanto Elis, quando criança convivia com sua música que era ouvida em minha casa pelos parentes mais velhos. Quando estava na faculdade li Noites Tropicais do produtor musical Nelson Motta e conheci um pouco mais sobre sua trajetória e sua vida. É inegável sua voz dramática e o uso de diversos recursos vocais para acentuar essa característica.



            Sua interpretação é tão marcante que chega a interferir nas músicas e como se seu gosto, estilo e imagem pública pudessem evidenciar os elementos inscritos em uma canção. Sua voz é sempre cúmplice suas primeiras interpretações me lembram as antigas cantoras de rádio. Ela cantava sorrindo e as vezes era irônica, podia cantar também malandramente, improvisava e as vezes no meio de uma música soltava uma gargalhada. Acho que Elis é muito maior do que qualquer rótulo e sempre preferiu a complexidade da fluidez seja em sua identidade artística, quanto na forma como pensou o Brasil, a cultura brasileira, o cotidiano, a indústria cultural ou mesmo a política. Embora suas apresentações tenham um que de um espírito revisionista.



            Sua figura é de alguém que sempre primou pelo aperfeiçoamento, a versatilidade, o domínio técnico combinado com a espontaneidade e a embriaguez equilibrista sendo uma referência para outras cantoras suas contemporâneas ou de gerações posteriores. Elis parece ter criado uma gramática do canto, onde várias intérpretes, não só brasileiras fariam seus estudos. Nesse processo, atravessaria fronteiras temporais, como alguém que deve ser lembrado a partir da excelência alcançada e largamente aclamada pela crítica.



Como essa lembrança vem de uma necessidade do presente, não podemos considerá-la apenas como um rastro do passado, mas sim como algo que, a partir das práticas deste presente, atualiza-se, ganhando novo sopro de vida com as diversas reedições de sua obra chegando até a minha geração  e provando a longevidade de seus discos. O que fazem dela uma Elis, para sempre Elis.


segunda-feira, 17 de março de 2014

REFLEXÕES DA RELAÇÃO ENTRE HOMEM E MULHER


Lendo uns textos de filosofia sobre universo interpessoal pensei em escrever sobre a relação homem/mulher  do ponto de vista filosófico. A principio acho que a relação homem e mulher tem algo de cultural e biológico. Uma das coisas que provavelmente trouxe a tona a ideia de que a mulher é um bicho esquisito, estranho, talvez se deva ao fato de que as mulheres passaram a maior parte da historia vivendo em um espaço reduzido com pouca circulação pública, sendo possível que elas percebessem detalhes que se tornavam imperceptíveis ao homem.



Na nossa cultura depois da ideia do feminismo não é possível conviver de forma tranquila com uma noção do que seja homem e mulher nem tampouco com a noção de gênero que seria a construção social do homem e da mulher. Uma ideia que torna a relação difícil é a nossa mitologia de relacionamento que o outro vem nos completar, a questão é pensar se existe relação existe o outro que é reconhecido e um outro que é representado e por isso a tolerância mútua é necessária. 



Existe feminismo para todos os gostos, mas existe uma coisa que acho bacana que é a defesa da construção da identidade das mulheres e de uma auto reflexão que incluísse sempre o homem com o qual elas não poderiam ficar em guerra. Se os homens hoje estão em crise com a sua masculinidade, com a sua identidade, porque são assim como as mulheres obrigados a se pensar. O feminismo sério que tem mais de cem anos já conseguiu romper com a noção de gênero, ou seja, com a ideia do natural e do cultural, agora é a vez dos homens, embora definir um gênero, ou como cada um deve ser acaba sempre caindo na vala comum do moralismo.



Não podemos esquecer que todas as definições que conhecemos do que é a mulher na religião, literatura, artes, cultura como um todo é uma construção dos homens, como já dizia a famosa Simone de Beauvoir, ela é a outra, o segundo sexo. O homem hoje vem marcado pela falta e pela impotência ele não precisa mais ser provedor, forte, nem herói e quando ele sente isso se vê meio perdido em sua identidade, isso gera um mal estar entre homens e mulheres que é fruto do cotidiano.




Mas o que pode melhorar a relação é conversar,  dizer o que se sente com o aprendizado da convivência que demanda esforços. Embora o dia a dia seja muito maior do que os esquemas que conseguimos montar sobre eles e no cotidiano real não sabemos o tempo todo para onde estamos indo, no mundo real é preciso fugir de arquétipos e aceitar o outro da forma que ele é sem grandes expectativas, sem muito esperar.  

sábado, 15 de março de 2014

O COZINHEIRO IMPERIAL: AS PRIMEIRAS RECEITAS BRASILEIRAS


            Passeando pela internet encontrei em versão digitalizada pela Universidade de São Paulo do acervo do José Mindlin o livro O Cozinheiro Imperial, considerado o primeiro livro de receitas brasileiro. Tudo no livro é interessante, desde o autor que não se identifica, o português da época até a reconstrução dos hábitos da sociedade. Publicado pela primeira vez em 1840, recebeu sucessivas edições até o final do século XIX.



            O livro tem a curiosa apresentação: Cozinheiro Imperial ou nova arte do cozinheiro e do copeiro em todos os seus ramos, com receitas que deveria servir as esplêndidas mesas e delicados gostos, bem como ao alcance das mais moderadas posses e das mais simples necessidades. Mas, o livro não era propriamente uma novidade, pois reproduzia O Cozinheiro Moderno, publicação de Lucas Rigaud um francês que foi para Portugal cozinhar para Dona Maria I, a rainha louca.



            O livro tem desenhos dos alimentos a bico de pena, e costumes que já estavam em desuso na época como boas maneiras e trinchadores de carne à moda medieval. Mas é interessante pelo segredos dos molhos, o perfume dos alimentos, e a adaptação da cozinha internacional aos costumes dos trópicos. Reproduzo aqui uma das suas interessantes receitas: Língua de carneiro- estando meio cozidas em água, tire a pele e acabe de cozer em brasa; abra-se depois ao meio e ponha numa caçarola com azeite bom ou manteiga derretida; tempere-se com pouco sal, pimenta, cebolinha, alho, tudo bem picado, e cobertas muito bem de pão ralado. Assa-se na grelha e serve-se com molho de limão.

quarta-feira, 12 de março de 2014

A IDENTIDADE DO CASAMENTO CONTEMPORÂNEO


            Na sua origem o casamento era uma maneira de preservar a tribo. Até bem pouco tempo, casar era um modo de manter o patrimônio familiar. Na história da humanidade a ligação entre casamento e amor é recente e hoje o casamento tem a ver com a nossa identidade, partindo desses princípios  penso o que supera o laço afetivo do casamento? O que mais está em jogo nessa aliança que nos acompanha desde a aurora da civilização?


            Começar a falar sobre o casamento é lembrar de onde ele veio, ele existe como um fato das etnias. Os primeiros seres que habitaram esse planeta tinham dificuldades em sobreviver e a necessidade orgânica e instintiva da procriação. O homem quando se organizou em tribos viu a necessidade de manter esse grupo e o casamento era um alternativa a isso. Um fato curioso é que todas as tribos antropológicas têm em comum a proibição do incesto como resultado da sobrevivência do grupo e da diminuição da guerra. Até o século XIX e início do século XX nós ainda tínhamos para preservar a economia de alguns grupos os casamentos eram arranjados. Só ultimamente que o casamento passou a ser um fato afetivo.


            A relação de casal, a ideia do casal, a existência de pares não começou na história do homem, como um fato afetivo. Hoje ela tenta ser um fato afetivo. De 1950 em diante foi que o casamento passou a viver transformações de fato cultural, econômico, afetivo para atualmente um fato jurídico. Ele passou a ser uma fato jurídico baseado na ideia de que as pessoas não se unem mais pensando em continuar, mas como uma sociedade que dure enquanto de certo.


            A base do ser humano é a angústia que é a mãe de todos os sentimentos, de todos os comportamentos, é a sensação de que nos falta algo. O ser humano ta sempre correndo atrás de algo que lhe falta, segundo Freud para preencher esse vazio o homem constrói a civilização. Alguns de nós colocamos como objeto perdido a ideia de Deus e isso é um complemento, uma resposta as angústias. Mas a angustia é uma falta eterna porque essa coisa que buscamos não existe é um objeto perdido que nunca existiu e nós temos que conviver com a falta.


            Da angústia nasce todos os fenômenos psicológicos a doença, o amor, o ódio, o medo e tudo que possamos colocar como sensação e sentimentos. Da angústia nasce os nossos desejos. Pensando no casamento vemos que é a busca angustiante de um objeto perdido, acredito que ela se inicia de uma maneira social e não psíquica. Hoje as pessoas contabilizam com quantos ficaram, que é nada mais do que uma maneira narcísica de buscar a captura de um objeto de prazer. Esse sujeito que vai conseguindo essas uniões rápidas vai perdendo o desejo de ter uma união longa mesmo que se apaixone.


Hoje nós temos namoros apaixonados mas quando a angústia de cada um começa a ir por outro alguém interrompe isso, que vai fazer com que a união se esvazie. Valendo para tantos casamentos desfeitos, o que parece que contemporaneamente a busca pelo outro é a busca por preencher o nosso vazio e casar pode ser unir-se nas angústias.


Quando o casal passa da fase narcísica da conquista, que não precisa se embelezar tanto para impressionar o outro e da fase social que não precisa namorar no bar, o que liga o casal são as angústias paralelas sentimento base de nossa vida que vai gerar amor (ele me escuta, me entende, me dá a sua opinião). O bom andamento da relação depende do grau de conhecimento entre os parceiros e do nível das angústias que cada um pode suportar do seu cônjuge percebendo que aquilo que sente naquele momento de ira pode ser angustia e não desamor. Acredito que é possível sobreviver no casamento, a margem é perceber que o outro é só um sujeito humano.