Na sua origem o casamento era uma
maneira de preservar a tribo. Até bem pouco tempo, casar era um modo de manter
o patrimônio familiar. Na história da humanidade a ligação entre casamento e
amor é recente e hoje o casamento tem a ver com a nossa identidade, partindo
desses princípios penso o que supera o laço afetivo do casamento?
O que mais está em jogo nessa aliança que nos acompanha desde a aurora da
civilização?
Começar a falar sobre o casamento é
lembrar de onde ele veio, ele existe como um fato das etnias. Os primeiros
seres que habitaram esse planeta tinham dificuldades em sobreviver e a
necessidade orgânica e instintiva da procriação. O homem quando se organizou em
tribos viu a necessidade de manter esse grupo e o casamento era um alternativa a isso. Um fato curioso é que todas as
tribos antropológicas têm em comum a proibição do incesto como resultado da
sobrevivência do grupo e da diminuição da guerra. Até o século XIX e início do
século XX nós ainda tínhamos para preservar a economia de alguns grupos os
casamentos eram arranjados. Só ultimamente que o casamento passou a ser um fato
afetivo.
A relação de casal, a ideia do
casal, a existência de pares não começou na história do homem, como um fato
afetivo. Hoje ela tenta ser um fato afetivo. De 1950 em diante foi que o
casamento passou a viver transformações de fato cultural, econômico, afetivo
para atualmente um fato jurídico. Ele passou a ser uma fato jurídico baseado na
ideia de que as pessoas não se unem mais pensando em continuar, mas como uma
sociedade que dure enquanto de certo.
A base do ser humano é a angústia
que é a mãe de todos os sentimentos, de todos os comportamentos, é a sensação
de que nos falta algo. O ser humano ta sempre correndo atrás de algo que lhe
falta, segundo Freud para preencher esse vazio o homem constrói a civilização.
Alguns de nós colocamos como objeto perdido a ideia de Deus e isso é um
complemento, uma resposta as angústias. Mas a angustia é uma falta eterna
porque essa coisa que buscamos não existe é um objeto perdido que nunca existiu
e nós temos que conviver com a falta.
Da angústia nasce todos os fenômenos
psicológicos a doença, o amor, o ódio, o medo e tudo que possamos colocar como
sensação e sentimentos. Da angústia nasce os nossos desejos. Pensando no
casamento vemos que é a busca angustiante de um objeto perdido, acredito que
ela se inicia de uma maneira social e não psíquica. Hoje as pessoas
contabilizam com quantos ficaram, que é nada mais do que uma maneira narcísica
de buscar a captura de um objeto de prazer. Esse
sujeito que vai conseguindo essas uniões rápidas vai perdendo o desejo de ter
uma união longa mesmo que se apaixone.
Hoje
nós temos namoros apaixonados mas quando a angústia de cada um começa a ir por
outro alguém interrompe isso, que vai fazer com que a união se esvazie. Valendo
para tantos casamentos desfeitos, o que parece que contemporaneamente a busca
pelo outro é a busca por preencher o nosso vazio e casar pode ser unir-se nas
angústias.
Quando
o casal passa da fase narcísica da conquista, que não precisa se embelezar tanto
para impressionar o outro e da fase social que não precisa namorar no bar, o que
liga o casal são as angústias paralelas sentimento base de nossa vida que vai
gerar amor (ele me escuta, me entende, me dá a sua opinião). O bom andamento da
relação depende do grau de conhecimento entre os parceiros e do nível das
angústias que cada um pode suportar do seu cônjuge percebendo que aquilo que
sente naquele momento de ira pode ser angustia e não desamor. Acredito que é possível sobreviver no casamento, a margem é perceber que o outro é só um sujeito humano.