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sexta-feira, 16 de maio de 2014

O MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO DE FREUD


O Mal Estar na Civilização (1930) de Sigmund Freud é um texto muito curioso no percurso freudiano foi escrito em 1929 e publicado no ano seguinte, no momento de crise da Bolsa de Nova York em que o mundo passava por um processo de recessão e parece que ele já estava sentindo o que estava por vir (ascensão do nazismo e da Segunda Guerra Mundial). É um livro que ele transfere as questões da metapsicologia sobre o indivíduo para o social. Ele vai tentar entender com o social os mesmos conceitos que ele trabalhou com o indivíduo, enquanto sujeito dividido com questões de vida e questões de morte. Ele vai tentar entender o social a partir da divisão entre amor e agressividade.



Uma das primeiras perguntas colocadas no livro é o que querem os humanos? O entendimento seria que os humanos querem ser felizes, mas, tudo conspira para a infelicidade que provém de três fontes: primeiro a natureza é sempre mais poderosa do que o sujeito; segundo a decadência do corpo, somos mortais, adoecemos e envelhecemos; a terceira fonte seria a responsável de fato pelo mal estar da civilização que é o convívio com o meu semelhante, é o fato do sujeito ter que viver e dividir esse mundo com os outros.



O ser humano vive um paradoxo sozinho ele não sobrevive. Foi esse ser humano que criou a civilização, foi ele que decidiu se juntar aos outros para melhor dominar a natureza, para que o trabalho rendesse mais. O interessante, é que ele não suporta o que ele mesmo criou, a civilização, a família, a sociedade, o Estado. Para ele, nós humanos sofremos com aquilo que criamos.



Freud vai dizer que o homem moderno trocou o seu desejo de felicidade por aceitar não ser infeliz. É a ideia de que não há ganho sem perda, fio condutor de toda teoria analítica freudiana. Mas cada qual vai encontrar esse caminho como pode, uns viram emérita, outros se misturam na massa é esse equilíbrio que se busca para o que seja mais próximo da felicidade, já que para esta não existe modelo universal.



Freud retoma o entendimento de Hobbes de que o homem é o lobo do homem, ao dizer que os humanos têm uma agressividade inata, que não a usamos somente para nos defender quando somos agredidos, mas a agressividade está no cerne do nosso desejo e dá prazer ao ser humano. Essa agressividade se reflete na violência sexual; na exploração do trabalho; na exploração política; nas ditaduras; nas guerras; na violência social. Temos essa agressividade independente do estágio social a que chegarmos faz parte da nossa essência enquanto humanos. Conhecer essa essência humana permitiu a Freud dizer que não acreditava que a abolição da propriedade privada pela Revolução Russa fosse capaz de abolir a violência humana e a agressividade. a história provou que ele tinha razão. 




Não é um texto fácil de ser aceito porque acaba com qualquer possibilidade de harmonia entre o homens e entre o homem consigo mesmo. O ser humano iria suprimir essa destruição através do complexo de culpa e do superego. A violência que ele gostaria de cometer contra o outro vai acabar sendo contra si mesmo. E assim, Freud descontroi a certeza linear da modernidade. 

quarta-feira, 12 de março de 2014

A IDENTIDADE DO CASAMENTO CONTEMPORÂNEO


            Na sua origem o casamento era uma maneira de preservar a tribo. Até bem pouco tempo, casar era um modo de manter o patrimônio familiar. Na história da humanidade a ligação entre casamento e amor é recente e hoje o casamento tem a ver com a nossa identidade, partindo desses princípios  penso o que supera o laço afetivo do casamento? O que mais está em jogo nessa aliança que nos acompanha desde a aurora da civilização?


            Começar a falar sobre o casamento é lembrar de onde ele veio, ele existe como um fato das etnias. Os primeiros seres que habitaram esse planeta tinham dificuldades em sobreviver e a necessidade orgânica e instintiva da procriação. O homem quando se organizou em tribos viu a necessidade de manter esse grupo e o casamento era um alternativa a isso. Um fato curioso é que todas as tribos antropológicas têm em comum a proibição do incesto como resultado da sobrevivência do grupo e da diminuição da guerra. Até o século XIX e início do século XX nós ainda tínhamos para preservar a economia de alguns grupos os casamentos eram arranjados. Só ultimamente que o casamento passou a ser um fato afetivo.


            A relação de casal, a ideia do casal, a existência de pares não começou na história do homem, como um fato afetivo. Hoje ela tenta ser um fato afetivo. De 1950 em diante foi que o casamento passou a viver transformações de fato cultural, econômico, afetivo para atualmente um fato jurídico. Ele passou a ser uma fato jurídico baseado na ideia de que as pessoas não se unem mais pensando em continuar, mas como uma sociedade que dure enquanto de certo.


            A base do ser humano é a angústia que é a mãe de todos os sentimentos, de todos os comportamentos, é a sensação de que nos falta algo. O ser humano ta sempre correndo atrás de algo que lhe falta, segundo Freud para preencher esse vazio o homem constrói a civilização. Alguns de nós colocamos como objeto perdido a ideia de Deus e isso é um complemento, uma resposta as angústias. Mas a angustia é uma falta eterna porque essa coisa que buscamos não existe é um objeto perdido que nunca existiu e nós temos que conviver com a falta.


            Da angústia nasce todos os fenômenos psicológicos a doença, o amor, o ódio, o medo e tudo que possamos colocar como sensação e sentimentos. Da angústia nasce os nossos desejos. Pensando no casamento vemos que é a busca angustiante de um objeto perdido, acredito que ela se inicia de uma maneira social e não psíquica. Hoje as pessoas contabilizam com quantos ficaram, que é nada mais do que uma maneira narcísica de buscar a captura de um objeto de prazer. Esse sujeito que vai conseguindo essas uniões rápidas vai perdendo o desejo de ter uma união longa mesmo que se apaixone.


Hoje nós temos namoros apaixonados mas quando a angústia de cada um começa a ir por outro alguém interrompe isso, que vai fazer com que a união se esvazie. Valendo para tantos casamentos desfeitos, o que parece que contemporaneamente a busca pelo outro é a busca por preencher o nosso vazio e casar pode ser unir-se nas angústias.


Quando o casal passa da fase narcísica da conquista, que não precisa se embelezar tanto para impressionar o outro e da fase social que não precisa namorar no bar, o que liga o casal são as angústias paralelas sentimento base de nossa vida que vai gerar amor (ele me escuta, me entende, me dá a sua opinião). O bom andamento da relação depende do grau de conhecimento entre os parceiros e do nível das angústias que cada um pode suportar do seu cônjuge percebendo que aquilo que sente naquele momento de ira pode ser angustia e não desamor. Acredito que é possível sobreviver no casamento, a margem é perceber que o outro é só um sujeito humano. 


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

FREUD E O INCONSCIENTE



 Freud é tão importante para moldar o nosso pensamento contemporâneo que todos falam dele, seja quando falamos que uma pessoa é controladora ou permissiva, ou quando especulamos sobre o significado dos nossos sonhos. Ele era um intelectual, um excêntrico, um cientista por excelência. Tornou-se tão popular quanto a velha máxima: Freud explica. 


A história tem uma relação complexa com Sigmund Freud, ele é valorizado e desvalorizado ao mesmo tempo. Ele é idealizado e denegrido. Em 1938, durante seu último ano de vida, sua mente continuava afiada, e descobriu novos fatos importantes sobre o inconsciente, a partir de suas conversas foi desenvolvida a psicanálise, uma nova ciência. E com a psicanálise Freud abriu as portas para o inconsciente transformando para sempre a forma como vemos a mente humana.


O fim do século XIX, marcou o Fim da Era Vitoriana um período de muitas restrições em que qualquer manifestação da sexualidade humana era considerada ultrajante. Mulheres respeitáveis só iam ao médico acompanhadas. Questões pessoais nunca eram discutidas na sociedade refinada. Terapeutas profissionais não existiam e as pessoas com problemas psicológicos não tinham a quem recorrer. Pacientes com problemas mentais eram colocados em asilos onde recebiam tratamento antiquado e até bárbaro.


Foi no meio disso, que em 1886, dr. Freud começou a tratar pacientes com uma abordagem simples, porém radical. ELE ESCUTOU. Os profissionais da época só prescreviam, porém não escutavam, eles eram as autoridades e era esperado que os pacientes obedecessem. Escutar a historia de vida de um paciente foi algo totalmente novo. O objetivo de Freud foi fazer com que seus pacientes falassem sobre tudo e qualquer coisa. Em seu consultório nenhum assunto era tabu.


Seu método era tão revolucionário que invés dele entrevistar seus pacientes cara a cara ele preferia que eles deitassem em um divã de costas para ele. Pois assim, eles se sentiriam mais confortáveis para revelar seus pensamentos mais profundos. Ele introduziu a ideia de inconsciente, pois acreditava que seria nesse espaço que enterraríamos conflitos como as nossas memórias mais dolorosas, ou pensamentos considerados inaceitáveis com os quais não queremos lidar. E isso, pode tornar a vida consciente mais difícil.


Para ele, o inconsciente seria o nosso EU real, a quem só conhecemos uma pequena parte. E o que realmente nos faz é o inconsciente, nós somos movidos por desejos sexuais por exemplo, que são barrados, mas que de alguma forma afeta o nosso comportamento. O interessante é que essa noção de mente inconsciente é algo que todos têm que lidar, aceitando ou não, ela não pode ser ignorada.


Ele descobriu em áreas reprimidas da mente fantasias de incesto, de assassinatos e ódios reprimidos e introduziu uma outra forma de ver a sexualidade, suas teorias foram consideradas moralmente ofensivas. Ele uniu ideias revolucionárias, sobre sonhos, inconscientes e sexualidade em uma nova e radical teoria sobre a mente. Uma nova ciência, a psicanálise.


Na opinião popular ele passou aos nossos dias como um guru místico, alguém que oferecia verdades aos seres humanos. Nos últimos anos Freud tornou-se dependente de Ana a filha mais jovem a quem passou a analisar, ela era enfermeira, secretária e filha. Se o objetivo da paternidade é criar e depois libertar isso não aconteceu nessa relação. Em cartas que os dois trocaram fica subentendido elementos de uma relação com traços de complexo de édipo, mas, Ana tornou-se uma mulher determinada, subverteu convenções sociais e tornou-se mundialmente reconhecida.


 Por tudo isso Freud explica: O homem é dono do que cala e escravo do que fala. Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo...
 Sigmund Freud (1856–1939).