sábado, 14 de dezembro de 2013

QUEIJO: UMA CONQUISTA DA HUMANIDADE



            O queijo é uma das grandes conquistas da humanidade. Não falo aqui de um queijo em particular, mas do queijo em sua fascinante multiplicidade recriada todos os dias, através das leiterias do mundo. O queijo nasceu como um meio simples alimento para concentrar e preservar a fartura na estação das ordenhas. Onde vivi a infância, no sertão nordestino brasileiro, queijo sempre foi sinônimo de fartura, de bons tempos. Queijo é algo que vai muito além da simples nutrição física, vejo como uma expressão intensa e concentrada dos pastos e dos animais, dos microrganismos e do tempo.


            O queijo é uma forma concentrada do leite, é um alimento mais durável, mais concentrado e mais saboroso. É feito através da coagulação do leite e pela remoção de boa parte de sua água. O ingrediente essencial de todos os queijos é o tempo. A técnica básica de coalhar o leite, drenar e salgar os coágulos passou pela Ásia Central e Oriente Médio, até chegar na Europa, onde foi introduzido as variações e os tipos tendo sempre o tempo como aliado. A arte de produção progrediu nos feudos e mosteiros da Idade Média.


            No fim da Idade Média, a corte francesa recebia encomendas das localidades de Brie, Roquefort, Comté, Maroilles e Gerome. Os queijos feitos perto de Parma na Itália e de Apenzol na Suíça eram conhecidos em toda a Europa e sempre gozaram de boa reputação. Na Inglaterra, o cheddar e stilton já eram famosos no século XVIII. O queijo desempenhava dois papeis: para os pobres, os tipos frescos ou pouco amadurecidos eram um alimento básico as vezes chamado de carne branca, ao passo que os ricos desfrutavam de vários queijos envelhecidos como parte de seus longos banquetes.


            A era de ouro dos queijos certamente, foi o sim século XIX e o início do século XX que já possuía linhas de escoamento da produção estruturadas e os produtos rurais eram levados para as cidades em sua melhor forma, além, da técnica de produção já está dominada. A produção, a qualidade  e o consumo viveram uma crise na Segunda Guerra Mundial, principalmente na Europa quando os campos de laticínios viraram campos de batalha. Os queijos padronizados e baratos alcançaram proeminência de lá para cá, a produção mundial é dominada por técnicas industrializadas. Nos Estados Unidos os processados, uma mistura de queijos maduros e frescos ligados por produtos industriais e atendem a sua função maior, servir de ingredientes aos alimentos de fast food. 


            Mas a base do alimento, sua beleza e qualidade, são os queijos feitos com arte, de forma tradicional, preferencia entre os apreciadores da boa mesa. Acredito que a beleza do alimento está em imaginar que por traz de cada queijo há um prado de verdes diferentes, sob céus distintos, com campinas perfumadas de aromas e  métodos que chegam a ser secretos transmitidos através dos séculos. 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O NOME DA ROSA DE UMBERTO ECO



            O Nome da Rosa de Umberto Eco foi o romance em que ele ficou conhecido do grande público, é uma obra de grandes dimensões com a pluralização de discursos das áreas de história, sociologia, teologia, ciência política, filosofia, semiótica e crítica literária. É um livro longo com mais de 600 páginas e tem um caráter meio detetivesco, contextualizado em um mosteiro beneditino da Itália, em 1327, durante a leitura fiz um mergulho temporal entre os anos 1316 a 1327, quando o Papa era João XXII.


            A história é montada de forma magistral, sete mortes misteriosas ocorrem ocorrerem e todas elas ligadas a existência ou não de um livro de Aristóteles sobre a Comédia. Eco critica impiedosamente questões que os teólogos medievais trocavam entre si, se Jesus Cristo sorriu em alguma vez da sua vida. Para os teólogos tal comportamento era inconcebível com a gravidade da missão do filho de Deus. Para investigar as mortes um investigador religioso com grande poder de indução é chamado Frei Guilherme que relaciona as mortes ao dito livro que estaria oculto em uma das partes de uma complexa biblioteca.


            A obra suscita uma reflexão já proposta pela Idade Média, sobre a consciência semiótica de que todos os signos mudam ao longo do tempo. Assim, a codificação e a decodificação dos signos aparecem por meio de debates entre os personagens. E nos permite refletir sobre o conceito de língua enquanto contrato social, além de permitir longas digressões com as ampliações dos conceitos de imaginário e fantástico de realismo e história.


            Há obra explora arquétipos que subvertem nossos aspectos habituais como: a biblioteca como labirinto que encaminha o homem para dentro de si mesmo, para o seu inconsciente. Outro arquétipo explorado na obra é o da rosa, que na iconografia cristã representa a taça a qual recolhe o sangue de Cristo. A obra é atraente não só pelos arquétipos, mas pela aventura detetivesca como a morte, o risco e elementos do bestiário medieval.


            É uma obra densa, porém imensamente agradável, capaz de suscitar discussões consistentes pela mistura auto-reflexiva e ideológica, permitindo justamente aquilo que costumamos separar no pensamento humanista. Ao ler O Nome da Rosa, aprendi que a linguagem pode ter muitos usos e abusos. As coisas importantes estão além da palavra, mais ainda são intensamente reais, e até mais reais por não serem articuladas e nomeadas. O mais significativo para mim que sou fascinada por história, é que o historiador pode escrever em conjunto com outro e entre si.


            O romance me permitiu rever meus conceitos prévios e por consequência ampliar minha visão de mundo. Leitura que além de entreter enriqueceu as bases da formação dos meus conceitos de mundo. Livro essencial em minha estante e em minha vida. 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

MANDELA: O ARQUÉTIPO DA ESPERANÇA




Jung o mais famosos discípulo de Freud determinou que os símbolos coletivos emergem na medida em que as situações vividas por um só individuo nunca são completamente únicas. Mandela, que em vida foi considerado terrorista e subversivo por nações como os Estados Unidos e Inglaterra, emerge com sua morte como o arquétipo universal da pessoa injustamente condenada que teve a grandeza de sentimento de não guardar magoas ou rancores.


Depois de passar 27 anos na prisão e ser eleito presidente da África do Sul em 1994, lembro do acontecimento nas páginas da revista Manchete que vinha semanalmente para minha casa e de um primo falando que o seu grande desafio era transformar uma sociedade estruturada na suprema injustiça do Apartheid, perguntei o que era, e daí esse acontecimento nunca mais saiu do meu inconsciente particular, imaginava como um povo poderia desumanizar uma maioria negra condenando-os a ser não pessoas. Coube a Mandela o desafio de recriar uma nação democrática e livre.


Ao escolher perdoar, ele foi na contramão da nossa cultura individualista e marcou a condenação moral de uma sociedade exclusivista. Esse perdão cala fundo no nosso imaginário coletivo, o que geralmente não fazemos ele foi capaz de fazer. A imprensa mundial e os futuros manuais escolares o elegerão como o arquétipo da paz e isso chega a ser consolador e renova os nosso votos de um futuro melhor, porque temos chegado a um núcleo central de uma conjunção de crises que pode minar o nosso futuro como espécie humana.


São tempos de desespero, barbárie e desesperança, as questões ambientais, só para ficar com um exemplo, atingiram níveis insustentáveis biólogos nos advertem que se as coisas continuarem como estão em 2030 viveremos um processo devastador. O crescimento econômico não está aliado ao desenvolvimento cultural, social e espiritual. Acreditar no contrário é uma ilusão.


Mandela com sua figura em defesa da democracia e dos direitos humanos, alimenta a nossa esperança de que o ser humano possa se reconciliar consigo mesmo, e que possa conviver conjuntamente de forma harmônica na mesma casa que é o nosso planeta. Para mim seu maior legado é o de esperança, que possamos viver numa realidade sem discriminações, e com a minimizações das injustiças sociais. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O MAGNETISMO DO CINEMA



            O cinema foi um dos principais meios influenciadores da estética na modernidade. O olhar, a percepção e a recepção do homem moderno sofreram modificações. A importância do cinema é tão grande que mudou as experiências estéticas e a percepção sensorial das coletividades humanas nos grandes centros urbanos, como o Rio de Janeiro no Brasil.  A partir dos anos 1930 Hollywood nos Estados Unidos da América, passou a ser líder do setor e influenciar hábitos e costumes dos públicos de seus filmes.


            O mercado de distribuição cresceu rapidamente e as salas de cinema se multiplicaram por toda parte se tornando suntuosas, edificadas segundo o código modernista e ousado do Art decó. Ir ao cinema pelo menos uma vez por semana, vestido com a melhor roupa, tornou-se uma obrigação para manter a condição de moderno e ter reconhecimento social. Se o cinema era Hollywood, Hollywood era os seus astros e estrelas, que passaram a ter a vida esmiunçada e a filmografia divulgada por revistas especializadas. Ama-los era inevitável.


            Hollywood passou a criar clichês como o jeito de sentar, de dirigir o carro, de acender o cigarro, de olhar a moça do lado, de namorar, de tratar o garçom, de comer comida fast food, as roupas que veste, tudo passou a vim da tela. Após a exibição do filme Platinum blond, nos anos 1930, as mulheres do Rio de Janeiro, passaram a pintar o cabelo e a se tornar loiras. Nunca um sistema cultural teve tanto impacto e exerceu efeito tão profundo na mudança de comportamento do que Hollywood no seu apogeu.


            O cinema se tornou a vitrine por excelência da glamourização dos novos materiais e objetos utilitários, é a forma que se traduz pela ampla demanda atendida pela invasão crescente de plásticos, blue jeans, acrílicos, napas, entre outros. Materiais todos esses que tinham a imensa vantagem de ser produzidos em massa, ser baratos, resistentes, multicoloridos, e democratizar o acesso a um acervo de bens multiutilitários. As casas passaram a ser iguais e a decoração seguia o script determinado pelo cinema, com a convenção de duas poltronas, o sofá, a TV e o abajur ao lado com o vaso de antúrios para todas as salas, assim como a garagem e o quarto das crianças.


Acredito que quando as pessoas dizem que amam o cinema, há vários sentidos na frase, pois ele é afinal de contas uma máquina de simbolização e difusão do amor, à sua maneira. Essa forma simbólica transborda para a publicidade, as historias em quadrinhos, os livros de bolso, as canções populares, as fofocas, as fórmulas pelas quais a imprensa modela as informações sobre as pessoas e sobre as suas vidas, chegando aos olhos, ouvidos, mentes e corações de todos por toda parte.