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sábado, 16 de agosto de 2014

MACHADO DE ASSIS O MELHOR DO BRASIL


            Existe uma tese que diz que o homem ocidental foi criado por Shakespeare, na medida em que suas peças estabeleciam modelos de pensamento, sentimento e conduta que ainda hoje se aplicam a vida cotidiana. Machado de Assis (1839-1908) fez o mesmo em relação aos brasileiros em seus romances, sobretudo após a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas em 1881. Machado é importante porque ele foi além da literatura brasileira, com seus livros ele desvendou as bases psicológicas nacionais produzindo uma espécie de espelho em pleno século 19 que ainda é possível nos enxergamos nele até hoje.


            Os personagens de Machado ultrapassam os limites individuais para se converterem em metonímias do homem brasileiro e suas formas de afirmação pessoal, sua relação com a verdade e a mentira, com a cobiça e a vaidade, com as oscilações entre o bem e o mal, o absoluto e o relativo numa época de mudanças de valores. Somos todos criaturas suas, pintados com a pena da galhofa e a tinta da melancolia.


            Sua originalidade está em embalar a profundeza melancólica na leveza humorística: seu descrédito em relação a natureza humana não se manifesta de forma sóbria, mas sim com a suavidade da sátira. Sua obra é original porque ele nunca parou de meditar sobre os vícios de uma sociedade que não muda suas estruturas, e é aí que está a contemporaneidade de sua obra. Imagino que se ele visitasse o Brasil de hoje estranharia os avanços tecnológicos, mas ficaria familiarizado com as práticas da classe política, os bons e os maus costumes do povo, sobretudo sua capacidade de se deixar iludir por promessas e soluções grandiosas.

            

domingo, 2 de março de 2014

PARA OSWALD DE ANDRADE


José Oswald de Sousa Andrade ou simplesmente Oswald de Andrade nasceu em São Paulo no dia 11 de janeiro de 1890. Na época do seu nascimento São Paulo tinha apenas 65 mil habitantes, ele era um visionário que adorava sua cidade. Em 1920 ele dizia que São Paulo era o futuro e que não poderia parar. Ele vai pagar caro por sua verve, inteligência e ousadia e começa a ser esquecido ainda vivo.



Oswald de Andrade foi um dos promotores da Semana de Arte Moderna que ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo em 1922 com reunião de artistas e intelectuais em apresentações, conferências, leitura de poemas, dança e música. Oswald falava basicamente de São Paulo o que pode ser visto em suas obras como João Miramar, Serafim Ponte Preta ou Paulicéia Desvairada, essas obras retratam o progresso, a atualização e a vida urbana na Cidade é o início do ufanismo paulista.



Acho interessante o personagem Oswald de Andrade, porque foi uma pessoa extremamente revolucionária que teve uma vida sentimental bastante movimentada  com grandes histórias tendo sido casado com a pintora Tarsila do Amaral e a ativista política Patricia Galvão. Ele era um homem rico que vivia uma vida de glamour não somente no Brasil, mas também em Paris. Era um grande provocador uma pessoa que não tinha medo de escandalizar.




Só a antropofagia nos une, somos todos antropófagos. Considero o Manifesto Antropófago a sua melhor produção nessa tendência mais ousada do movimento modernista do final da década de 1920. Ao todo ele escreveu onze livros, seis peças de teatro e sete manifestos. Teve quatro filhos com três mulheres diferentes. O Movimento Modernista, esquecido durante os anos 1940 e 5o só foi revitalizado com a tropicália dos anos 1960 que resgatava a proposta antropofágica de digerir a cultura estrangeira dominante e regurgitá-la após ser mesclada com a cultura popular e a identidade nacional. Vivas a cultura nacional e a grandeza de Oswald de Andrade. 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

MORTE E VIDA SEVERINA


            Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto é daqueles livros que a leitura dura toda uma vida, tenho sempre a mão, já falei sobre ele em outros momentos aqui no blog. Na minha estante ele tem um papel de destaque. O auto de natal pernambucano, combina estrutura rigorosa e temática popular. Situado na terceira geração do Modernismo, o recifense João Cabral de Melo Neto (1920-1999), tem textos claros, objetivos, despojados de qualquer ornamentação.



            Embora fizesse parte da chamada geração de 45 que procurou desbastar os excessos do Modernismo por meio de um rigor formal de moldes parnasiano-simbolista, João Cabral soube superar os limites dessa vertente. O propósito de Cabral de cortar dos versos todos os elementos supérfluos inclusive os musicais, na busca por uma objetividade, empresta a sua poesia uma áspera expressividade de grande frescor.



            Gosto de Morte e Vida Severina , porque no texto harmonizam-se forma e temática social. O autor trata da luta de Severino, um retirante do agreste, pela sobrevivência. Guiado pelo rio Capibaribe rumo ao litoral, Severino busca chegar a capital, almejando uma vida digna. Pelo caminho depara-se com as diversas facetas da morte, causada pela seca; pela fome, que corrói as entranhas do país, e pela disputa por terras áridas.



            Ele tenta a todo custo fugir da destruição e corre em busca da perspectiva de dias melhores, mas a cidade grande revela uma situação tão dura quanto a do sertão. Diante de tal situação Severino planeja o suicídio atirando-se da ponte sobre o rio Capibaribe, que o guia até ali. Contudo, após presenciar o nascimento de uma criança reacende-se no coração do herói a esperança de vencer a vida severina, e Severino acaba por desistir de seu intento.




            Para mim esses versos são inesquecíveis: O meu nome é Severino, 
como não tenho outro de pia. 
Como há muitos Severinos, 
que é santo de romaria, 
deram então de me chamar 
Severino de Maria 
como há muitos Severinos 
com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria 
do finado Zacarias.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

REVENDO CLARICE



            Em vários momentos de minha vida, inusitadamente os mais difíceis sempre recorri a obra de Clarice Lispector, credito ao seu livro A Descoberta do Mundo, grande parte do meu entendimento sobre o mundo. Clarice revela sua alma através de sua escrita, em trechos simples pode-se sentir isso como: por que o cão é tão livre? Porque ele é o mistério vivo que não se indaga.


            Filha de família Judia, Clarice nasceu em 1920 na Ucrânia, criou-se no Nordeste brasileiro e fez carreira no jornalismo e na literatura no Rio de Janeiro, então capital do país. Viveu o Rio em seu apogeu de cidade culta, cosmopolita, centro do poder político nacional e ainda sem a barbárie atual.


            Marcou desde a estreia a impressão crítica e do leitores por traços raros no cenário da língua portuguesa: fez diminuir o valor do enredo e arredou para o fundo do palco o registro da vida social que foi a tônica da geração anterior à sua no romance, tudo isso em favor de uma elaboração mais sutil da linguagem, um empenho para imprimir na superfície do texto as tensões profundas de suas personagens.


            Ela sempre foi mais do que uma novidade psicológica, mas alguém que tinha uma tentativa de fazer a linguagem ser ela mesma um elemento de interesse para o leitor, que era convocado a aderir a ficção num patamar inédito no Brasil. Sua obra durante a sua vida só cresceu, ela queria que a revelação se fizesse ali, diante dos olhos do leitor diante daquelas palavras que sua prosa ia dispondo por meio de frases enganosamente lineares.


             Clarice sempre me deu alimento, com sua ficção que se vale de traços auto piedosos, o que nem de longe apaga a força dos seus acertos, que ocorrem especialmente quando sua literatura confronta os limites da representação do real vivido. Sua escrita é tão profunda que ela queria a vida e a arte ao mesmo tempo.