Mostrando postagens com marcador linguagem. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador linguagem. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

REVENDO CLARICE



            Em vários momentos de minha vida, inusitadamente os mais difíceis sempre recorri a obra de Clarice Lispector, credito ao seu livro A Descoberta do Mundo, grande parte do meu entendimento sobre o mundo. Clarice revela sua alma através de sua escrita, em trechos simples pode-se sentir isso como: por que o cão é tão livre? Porque ele é o mistério vivo que não se indaga.


            Filha de família Judia, Clarice nasceu em 1920 na Ucrânia, criou-se no Nordeste brasileiro e fez carreira no jornalismo e na literatura no Rio de Janeiro, então capital do país. Viveu o Rio em seu apogeu de cidade culta, cosmopolita, centro do poder político nacional e ainda sem a barbárie atual.


            Marcou desde a estreia a impressão crítica e do leitores por traços raros no cenário da língua portuguesa: fez diminuir o valor do enredo e arredou para o fundo do palco o registro da vida social que foi a tônica da geração anterior à sua no romance, tudo isso em favor de uma elaboração mais sutil da linguagem, um empenho para imprimir na superfície do texto as tensões profundas de suas personagens.


            Ela sempre foi mais do que uma novidade psicológica, mas alguém que tinha uma tentativa de fazer a linguagem ser ela mesma um elemento de interesse para o leitor, que era convocado a aderir a ficção num patamar inédito no Brasil. Sua obra durante a sua vida só cresceu, ela queria que a revelação se fizesse ali, diante dos olhos do leitor diante daquelas palavras que sua prosa ia dispondo por meio de frases enganosamente lineares.


             Clarice sempre me deu alimento, com sua ficção que se vale de traços auto piedosos, o que nem de longe apaga a força dos seus acertos, que ocorrem especialmente quando sua literatura confronta os limites da representação do real vivido. Sua escrita é tão profunda que ela queria a vida e a arte ao mesmo tempo. 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

WITTGNSTEIN: O FILÓSOFO DA LINGUAGEM



Lembro que a primeira vez que ouvi falar em Ludwig Wittgnstein, foi no programa Café Filosófico da TV Cultura, depois disso comprei o Tractadus Lógico Philosofico, sua primeira e única obra publicada e demorei muito tempo para acompanhar seu pensamento. Wittgnstein tem uma importância fundamental para entender a filosofia do século XX, marcada pela linguagem. No Tractadus pode-se encontrar uma postura em que ele adota a posição de que o mundo e a linguagem possuem um isomorfismo.



Sua leitura é bem difícil, parece que ao ler eu estava montando um quebra cabeças, para o seu texto. Para Wittgnstein o real significado de uma palavra não aparece no dicionário, ele vai aparecer dentro do jogo de linguagem que se estabelece entre os indivíduos. Quando você conversa com um amigo você estabelece um ramo de linguagem e há uma vitória quando os indivíduos se entendem, o que não significa necessariamente concordar, mas compreender a linguagem e esse é o jogo da linguagem. Em cada jogo as palavras adquirem um novo sentido.



            Fora dum jogo de linguagem a palavra fica sem sentido, são os indivíduos que inserem sentido e significado as palavras, somos nós que inserimos sangue as gélidas palavras mortas. Filosoficamente, isso significa dizer que o significado de uma palavra não está relacionado ao objeto que ela representa no mundo real nem as estruturas mentais que podemos fazer a cerca da palavra, para Wittgnstein o que realmente importa na hora de estabelecer o significado de uma palavra é o momento que o falante consegue dizer o que quer e o ouvinte consegue entender o que está sendo dito.



            A linguagem é obrigatoriamente uma prática pública, um termo ou palavra vai ganhando significado pela aceitação popular. Pela correção que as pessoas vão fazendo em determinado tempo e cultura. Se não fosse assim, as palavras seriam somente um ruído, sem nenhum significado. Pensar diferente é possível, o papel do filósofo não seria converter ninguém a nada, mas, mostrar os erros que se cometem no discurso, mostrando as formas de transcender os limites da nossa razão.