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segunda-feira, 1 de setembro de 2014

OS LIVROS ME SALVARAM


            Antes de conhecer o mar eu já sabia sua cor, como me sentiria lá e as sensações de sua exuberância através da leitura. Antes de entrar em uma universidade já tinha recebido instruções básicas com Platão, Danti Alighieri e Jorge Amado. Nunca tinha namorado, mas achava Romeu e Julieta um casal ansioso demais deviam ter aguardado um pouco mais e não se matado de forma tão precipitada.


            Em minha vida as maiores influências foram do meu pai, dos livros e do cinema. Meu pai foi a mais importante delas, porque com a sua permissão pude desde muito cedo comprar livros, ler em minha casa era coisa sagrada momento que não deveria ser profanado por amenidades da vida. O cheiro mais presente em minha infância sempre foi o dos livros, os novos, os da biblioteca e os velhos que tomava dos primos mais velhos. Eram livros espalhados, deitados, catalogados. Na minha meninice pensava do que deve falar a Divina Comédia? E Macunaíma, é um livro sobre índios? Porque Platão tem grandes barbas brancas?


            Os livros foram meu curso de inglês, minha incursão no mundo do francês, minha viagem a Paris, meu reforço escolar, minha aula de administração, minha cultura geral. Com eles tive assunto em mesas de bar, reuniões de trabalho e encontro de amigos. Agora depois que estou doente tenho certeza que a leitura com afinco melhorou minha memória, reduziu o estresse e combateu uma eventual depressão. A leitura me ajuda a escrever melhor, aguça o meu pensamento analítico e aumenta meu conhecimento.



            Tenho a convicção que existe um livro para cada pessoa, que nos permite viajar pelo mundo, pelo tempo e pelos lugares que nunca existiram. Com os livros é possível aprender sobre felicidade com Aristóteles, sobre o mal com Hannah Arendt, sobre a loucura com Foucault. As vezes tenho vontade de comer um sanduiche com Bukowski, tomar um chá com Virginia Woolf e falar de beleza feminina com Clarice Lispector. Não sou uma pessoa de dá conselhos, nem acredito em modelos de vida, mas para mim o caminho da felicidade passa necessariamente pela leitura.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

HANNAH ARENDT E A BANALIDADE DO MAL


Vi recentemente o filme da Hannah Arendt (2013) de Elisabet Van Trota a filósofa que da nome ao filme é autora de uma das mais importantes obras do século XX. Arendt para mim sempre foi uma figura dura, gostei particularmente do filme por ter retratado seu lado mais humano. Como uma professora que tem um trabalho acadêmico, boas relações com seu alunos, uma mulher feliz no casamento, mas com firme postura e decisões bem recortadas diante da vida. O enredo é centrado na época em que Arendt escreveu seu polêmico livro Eichemann e Jerusalém. O filme retrata sua viagem ao julgamento do carrasco nazista capturado na Argentina e julgado em Jerusalém em 1962.



            O que se vê é a polêmica que a produção do seu texto provoca ao desmistificar Eichemann como um louco sanguinário. Sua percepção a cerca desse homem como uma pessoa comum causou mau está entre seus amigos, comunidade acadêmica, judeus e muita gente que não compreendeu sua postura. Ela dentro de uma postura filosófica descompromissada com qualquer tipo de facção, ideologia ou religião, se abstém de personalizar o caso. Admiro sua postura porque ela não usava sua condição de judia como superior a de pensadora.



            Os que se posicionaram mais ofensivamente contra sua tese não a compreenderam, porque o seu caráter é difícil. O praticante do mal banal seria um cidadão comum, que não assume uma postura deliberadamente maligna é aquela pessoa que ao receber ordens, punha em funcionamento a máquina de morte do sistema nazista. Arendt retratou Eichemann como alguém vazio incapaz de pensar que apenas repetia clichês sem qualquer tipo de consciência. A banalidade do mal seria algo tão sério que quando ocupa grupos sociais e políticos ocupa espaços institucionais. 




            Trata-se de um filme denso, mas, uma biografia de alta qualidade ao retratar a personagem por suas ideias e não somente por sua vida pessoal. No Brasil, por exemplo, como se daria a banalidade do mal? Através da naturalização da corrupção da homofobia e de outras práticas excludentes. Filme profundo de ritmo lento, mas de excelente qualidade provando que o cinema é muito mais do que mera diversão.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A ÉTICA EM HANNAH ARENDT



As minhas últimas aulas como professora foi na disciplina de Ética, o que para mim foi de grande valia, porque a discussão sobre o assunto transcende os aspectos puramente acadêmicos ou filosóficos e alcançam a vida pessoal. Um dos principais textos que  gostei de trabalhar foi A Condição Humana de Hannah Arendt que apresenta uma ética com pressupostos ligados mais ao mundo, seu maior interesse, muito maior do que qualquer inquietação com o espírito, ou com o ser em si.


Essa ética não está centrada em elementos subjetivos, mas na política e no centro de suas questões. Daí comungo com o pensamento dela, o que pode ser visto em outros textos aqui no blog, de que a crítica da falência ética está centrada contra a consagração do sujeito moderno e seu processo de alienação do mundo, a ponto desse sujeito vir a ser somente mais um objeto passível de destruição.


Como o mundo é condição da existência da condição humana é preciso que se tenha cuidado com ele, é esse espaço em que o homem por meio de algumas atividades condiciona a sua própria existência, sendo assim, tudo que adentra esse mundo, ou por ele é trazido pelo esforço humano faz parte da condição humana.


O bom do pensamento e da obra de Arendt é que ela nos apresenta uma ética que não tem um modelo definido como na ética tradicional, é uma ética ativa em que o próprio movimento se configura na referencia de como agir novamente. A prática (práxis) é o que revela o conteúdo ético. Essa práxis é toda atividade que ao ser executada é um fim em si mesma. O caráter político de sua ética é reafirmada quando entende que transformações sociais só são feitas por muitos homens e nunca por um só.


Como esse pensamento de uma ética que pode ser mensurada na prática pode ser materializada? Pode ser através das respostas as questões que surgem da experiência cotidiana, do inesperado, do contingente que atuam em nossas vidas, não poderiam ter um único sentido nem uma essência invariável que predetermina o modo de agir, o ainda que existe o Bem essencial, onde todas as ações deveriam convergir para esse fim. O que existe são bens que surgem e se mostram a medida que os homes se movimentam em seus espaços de mundo.


A ética de Arendt apresenta uma proposta voltada não para o EU mas para o mundo. Sua ética se forma a partir de uma prática referenciada pelo cuidado em relação ao espaço que vivemos e compartilhamos com os outros, o qual garante nossa dignidade como seres singulares. E nossa visão crítica dos hábitos e costumes dos grupos sociais dos quais somos parte.