Quando escuto chorinho, não tem como
não ser reportada a uma ideia de uma música genuinamente nacional, apesar de
muitos considerar como música de natureza mais folclórica, é inegável sua
leveza, alegria e musicalidade transbordante. Foi com o chorinho que o Brasil
descobriu o seu som. O flautista e compositor carioca Joaquim Callado
(1848-80), foi uma figura fundamental nesse cenário musical. Considerado o pai
do choro e autor de mais de 600 canções.
Em 1876, Machado de Assis fez um
elogio rasgado a Callado em sua coluna quinzenal na revista Ilustração
Brasileira. Machado diz não levara a sério muitos deles, mas a respeito de
Callado diz: foram convidar um
lacedemônio a ouvir um homem que imitava com a boca o canto do rouxinol. Eu já
ouvi o rouxinol respondeu ele. A mim quando me falarem de um homem que tocava
flauta com as próprias mãos eu respondi: eu já ouvi o Callado.
Além de tocar divinamente Callado
compunha músicas com uma batida diferente, sincopada, que daria origem ao
choro. É bom lembrar no entanto, que na época de Callado o choro era mais uma
maneira de tocar do que propriamente um estilo musical. Ainda não havia uma
música popular brasileira consolidada. Ouvia-se o lundu de origem africana e
estilos como a polca e a mazurca, músicas de salão europeias. A polca parece
ter sido a mais contagiante, porque oferecia a oportunidade de pela primeira
vez dançar juntinho. A formalidade da valsa e outras danças de salão começava a
ficar para trás.
Essa nova música que nascia sob a
flauta de Callado, viria a se tornar a coroa do Brasil. Callado e sua música
eram discriminados pelos grandes salões, porque ouvir o erudito era considerado
chique. Ele foi criativo, acima de tudo e teve a coragem de arriscar num
ambiente impregnado de referências europeias. A partir daí a síncopa passou a
ser característica da música popular brasileira, era a hora e a vez do novo
som, e da formação da identidade musical brasileira, com notável contribuição
de Joaquim Callado.