sábado, 30 de agosto de 2014

O AMOR PLATÔNICO


            A contribuição platônica para o mundo metafísico é uma das maiores contribuições do pensamento do mundo ocidental que explica os muitos porquês presentes no nosso cotidiano. Platão entendia que só através do amor, o homem se organiza, tem sentimentos e desejos de estar bem consigo mesmo e com seus pares. A filosofia platônica tem como relevância a descoberta superior do mundo sensível, ou seja, da metafísica do ser, um mundo para além do físico. O objetivo de Platão é chegar ao conhecimento através da verdade, através de um conhecimento universal.


            No amor platônico o ideal é que o amor molde o caráter, a estrutura social, trazendo o seu maior legado que é o Bem, individual ou coletivo. Ao pensar no amor nos dias atuais é impossível não ver resquícios desse amor platônico que permanece vivo em nossas definições. Por mais que se mudem as palavras o sentido é o mesmo, as características são as mesmas, pois o tempo não muda o ser humano em sua essência. 


            No nosso tempo, o amor é encarado como impossível em meio a essa sociedade moderna, onde é confundido com o ter e não com o ser, mas ainda hoje ficamos perplexos diante da força que o amor pode exercer sobre o homem, sobre a natureza, pois ele nos move para a busca incessante da própria satisfação seja material ou espiritual, base para o bem é uma maneira de expressar a importância de nos mantermos vivos.



O entendimento do amor platônico, nos revela que, através do exercício intelectual, espiritual, material, evoluímos e somos melhorados  na perspectiva do conhecimento, do viver bem, de dentro para fora e vice- versa, na intenção de não guardar, mas expandir e difundir a verdade, dando sendo à nossa existência.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

MEMÓRIAS DO CÁRCERE DE GRACILIANO RAMOS


            Nos 60 anos da morte de Getúlio Vargas pensei em ver um dos episódios mais sombrios do seu governo a prisão do literato Graciliano Ramos, reproduzida com base no seu livro Memórias do Cárcere levado ao cinema pelas hábeis mãos do cineasta Luís Carlos Barreto e estrelado por Carlos Vereza em 1984. O filme dura três horas e sete minutos e exibe as humilhações sofridas por um homem detido sem processo sob suspeita de ter participado da Aliança Nacional Libertadora, a frente ampla organizada para combater as sombras do fascismo que Getúlio ameaçava projetar sobre o país.


            A via crucis de Graciliano começa na noite de 3 de março de 1936 quando ele aguardou paciente em sua casa com a esposa e os filhos esperando para ser preso. Graciliano passou pela Colônia Penal de Ilha Grande onde conviveu com assassinos e delinquentes comuns e na Casa de Detenção onde conviveu com intelectuais e militares de alta patente. Presenciou as atrocidades da ditadura getulista, como a deportação de Olga Benário Prestes, que também estava presa na ala feminina na Casa de Detenção, grávida de oito meses. Olga mulher do comunista Luiz Carlos Prestes morreria num campo de concentração nazista.


            O filme pretende ser uma elegia a liberdade e mostrar o cárcere como uma metáfora da sociedade brasileira. Revelando uma cadeia no sentido mais amplo, a cadeia das relações sociais e políticas que aprisionam o povo brasileiro. O filme baseado na obra homônima de Ramos contribuiu imensamente em ajudar que o Estado Novo fosse visto erroneamente, já que as pessoas tendem a ver o segundo Vargas, aquele da década de 1950. O texto de Graciliano Ramos muito bem adaptado no filme é de uma limpeza formal absoluta e constitui um documento político de inestimável valor.
           

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

FILOSOFIA E PENSAMENTO FILÓSOFICO



Comecei um curso de filosofia a alguns dias e algumas pessoas me perguntaram para que serve? Daí eu mesma me perguntei para que serve a filosofia hoje? Se a medida de todas as coisas é a praticidade imediata, o pragmatismo. Na contemporaneidade a filosofia parece anacrônica e nonsense, mas isso não é uma responsabilidade da filosofia, mas da nossa época.


Há tempos que pensar é considerado desimportante, o mundo ideal tem necessariamente uma finalidade prática. Talvez uma das dificuldades para se fazer filosofia é o fato que independe da vontade o amor ao saber. A filosofia envolve a nossa capacidade de sentir de sermos tomados por afeto. E isso desconstrói a ideia recorrente de que filosofia é algo altamente intelectualizado, voltado apenas para a racionalidade ou a erudição.



Pensar pode ser arriscado e o grande perigo é você perder a segurança sobre certas verdades. Nessa época de relativismo em diversos campos do mundo social, uma das tarefas da filosofia é mostrar que é possível a construção de novos paradigmas. A crise da nossa época aponta que o olhar de admiração do filósofo está em processo de extinção. A filosofia nos mostra que o mundo é agressivo, e como elemento norteador que nenhum princípio é inquestionável. O estranhamento do mundo ainda é a grande jogada da filosofia. 

sábado, 16 de agosto de 2014

MACHADO DE ASSIS O MELHOR DO BRASIL


            Existe uma tese que diz que o homem ocidental foi criado por Shakespeare, na medida em que suas peças estabeleciam modelos de pensamento, sentimento e conduta que ainda hoje se aplicam a vida cotidiana. Machado de Assis (1839-1908) fez o mesmo em relação aos brasileiros em seus romances, sobretudo após a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas em 1881. Machado é importante porque ele foi além da literatura brasileira, com seus livros ele desvendou as bases psicológicas nacionais produzindo uma espécie de espelho em pleno século 19 que ainda é possível nos enxergamos nele até hoje.


            Os personagens de Machado ultrapassam os limites individuais para se converterem em metonímias do homem brasileiro e suas formas de afirmação pessoal, sua relação com a verdade e a mentira, com a cobiça e a vaidade, com as oscilações entre o bem e o mal, o absoluto e o relativo numa época de mudanças de valores. Somos todos criaturas suas, pintados com a pena da galhofa e a tinta da melancolia.


            Sua originalidade está em embalar a profundeza melancólica na leveza humorística: seu descrédito em relação a natureza humana não se manifesta de forma sóbria, mas sim com a suavidade da sátira. Sua obra é original porque ele nunca parou de meditar sobre os vícios de uma sociedade que não muda suas estruturas, e é aí que está a contemporaneidade de sua obra. Imagino que se ele visitasse o Brasil de hoje estranharia os avanços tecnológicos, mas ficaria familiarizado com as práticas da classe política, os bons e os maus costumes do povo, sobretudo sua capacidade de se deixar iludir por promessas e soluções grandiosas.

            

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

SOBRE A SOLIDÃO


            Talvez a solidão não seja simplesmente falta do outro, mas nada mais do que a falta de nós mesmos. O homem é um ser social que necessita compartilhar sua afetividade, que necessita está com o outro. O ser humano necessita compartilhar, mas para isso é necessário ter algo a oferecer e não simplesmente algo a receber. O homem que não tem vida interior vai esperar que o sentido de sua vida seja preenchido pelo outro. Evidentemente o sentido de sua vida não pode ser preenchido pelo outro tem que ser encontrado por você mesmo.


O isolamento externo nasce do interno, da falta de vida interior, de termos um conteúdo com o qual compartilhar, da falta de um diálogo interno conosco mesmos. Uma das ferramentas filosóficas que se colocam como necessárias para que o homem esteja acompanhado de si próprio é exatamente a solidão. Solidão no sentido de você avaliar o seu dia, a sua vida, buscar as respostas dentro de si mesmo para a sua motivação, para os seu direcionamento, quais são os seus princípios, o porque de você está fazendo as coisas. O homem que convive saudavelmente consigo mesmo normalmente ele não sofre de isolamento.


            Nós vivemos em uma sociedade que os apelos externos são muito grandes, vivemos virados para as circunstâncias para o barulho do mundo e fugimos de nós mesmos, talvez pelo medo do que iremos encontrar se nos virarmos para dentro. A vida assim como a natureza tem fases de recolhimento e expansão, necessitamos de períodos que nos façam refletir sobre nossas raízes. Tenho a impressão que na nossa sociedade contemporânea com todo o aparato tecnológico ao nosso alcance o ser humano conhece muito sobre as coisas e pouco sobre si mesmo.



            A grande saída para essa sociedade de “N” estímulos é você buscar aquilo que você não é, ou seja, sua individualidade. Solidão é a possibilidade do costume a reflexão, de um encontro marcado com a própria alma. Com a reflexão abrimos a possibilidade de perceber que o outro é como nós um ser humano que necessita de preenchimentos, vivemos no mesmo drama humano, estamos todos juntos.