Mostrando postagens com marcador Cultura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cultura. Mostrar todas as postagens

domingo, 22 de dezembro de 2013

A FOTOGRAFIA DE PIERRE VERGER



Pierre Verger (1902-1996) não gostava muito de dizer que sua fotografia era arte. Para ele fotografar era parte de sua profissão a de etnólogo, que viajava pelo mundo em busca de outras culturas. Mas o curioso de sua fotografia é que ela não pode ser reduzida a dimensão etnológica ao passo que quase sempre foge a tentação de estetizar seu objeto de estudo. Para mim ele está ao lado de grandes como Cartier Bresson. Verger fotografava numa Rolleiflex, o que dá uma aura meio mítica ao seu trabalho.


            Suas fotos têm um caráter de descoberta, um frescor que se traduz sempre por um olhar interessado nas figuras humanas, sem deixar de obter uma composição cuidada e bem elaborada. Elas têm uma instantaneidade de um flagrante e o apuro de uma pintura, justamente os elementos fundamentais que formam um bom fotógrafo. Refletem o olhar do viajante que não se basta do imediatismo, chavões como alegria e mistura são reducionistas para definir seu mundo.


            Pierre Eduard Leopold Verger nasceu em Paris na mesma geração de fotógrafos que viu a cidade se entregar a arte e a liberdade nos anos 1920 e depois a veria perde-la para as guerras e as ideologias. Verger saiu da Franca antes disso e em 1932 esteve no Japão, Taiti, na África, nos EUA, no México, sempre fotografado para publicações e museus. Só nos anos 1940 descobriu a América Latina, passou pela Argentina, mas chegou ao Brasil em 1946, depois de já ter visto o mundo todo. E foi a Bahia que fascinou o seu olhar de fotojornalista e etnólogo. Na Bahia ele ficou extremamente interessado na cultura negra, preservada em salvador desde a época da escravidão, em especial pela religião do candomblé e pelas palavras do iourubá.


            Ele foi sobretudo, um fotógrafo que sabia ver beleza mesmo onde a simetria falhava e o sombrio se insinuava. Ele mergulhou fundo na cultura do candomblé, que para ele não bastava chegar a ela como observador acadêmico, mas como participante aceito. Seus livros sobre iourubá e o fluxo de escravos entre África e Brasil se tornaram referência.


 Verger descobriu com sua fotografia que o candomblé no Brasil desempenhou o papel fundamental de reação a uma sociedade que marginalizava o negro, servindo também para desviar sua amargura e seu ódio para outros modos de cultura e expressão. Suas fotos denunciam o seu olhar, que é de uma curiosidade daquela realidade social.
            

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

SOBRE CULTURA E FUTEBOL



            Das muitas ideias sobre o que seja cultura, quero me restringir a duas. A ideia de que seria uma espécie de passaporte aristocrático: tanto a cultura como os pequenos gestos de solidariedade de ampla divulgação podem servir para levar o nome, e os próprios produtos culturais a se tornam mercadorias. Outro sentido é o de elemento que permeia as relações humanas: na produção, no consumo e na distribuição dos meios de viver, nas relações de poder e dominação, usufruto e prazer. São os modos e ritos de nascer e reproduzir, do amor e da morte.


            Se cultura é o que dá significado as relações sociais, depois das polêmicas políticas em torno do acontecimento da Copa do Mundo no Brasil, fiquei pensando, por que não celebramos o futebol, injustiçado fenômeno cultural desdenhado pela chamada alta cultura? Afinal é um espetáculo que paralisa cidades e até países inteiros. O teatro grego, que hoje assistimos que respeitoso silêncio em sua formação era exibido entre vaias e aplausos. Vejo algo em comum entre os dois, afinal ambos despertam paixões e intermediam o prosaico humano e divino.


            Não entendo bem as regras de futebol, não assisto a jogos nem sei quem está ganhando os campeonatos, mas uma coisa tenho por certa, trata-se de uma arte imperfeita, afinal é executada com os pés. É inexorável o erro humano e o que considero curioso no futebol, é que ninguém estranha o 0 x 0 e uma única partida é capaz de formar contradições como as grandes questões ontológicas. As contendas entre os autores gregos também eram permeadas de paixões.


            Passeando pelas redes sociais da internet em dia das grandes partidas, vendo comentários dos torcedores fico pensando, como a vida o futebol não é justo e ao que parece os bons nem sempre vencem. A sorte compete e colabora com o mérito, qualquer gol é válido, do mais magistral ao mais canhestro. A mimese futebolística alcança a pós modernidade, qualquer vídeo da Copa do Mundo de 1986, dá para ver o Deus Maradona vingando sua nação da humilhação das Maldivas marcando gol contra a Inglaterra, os argentinos enlouquecidos o veneram até hoje.


            O mundo em que vivemos somos acossados por todos os meios de apelo para que sejamos ricos, belos, magros, com função sexual permanente, antideprimidos. Mas o inevitável é que a melancolia se apresenta e a arte do futebol se impõem como crítica, como política enfim. Um novo ano começa então vou vestir minha camisa, inflar minhas paixões e acompanhar o mundial, afinal, futebol também é cultura. 

domingo, 17 de novembro de 2013

A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO AMOR ROMÂNTICO



            Ontem fui a um casamento e diante do simbolismo e da carga de emotividade da cerimonia me questionei quando construíram a ideia de amor romântico? O amor romântico é um dos maiores sistemas energéticos do pensamento coletivo na nossa cultura, acredito que chega mesmo a transcender a religião, espaço em que as pessoas procuram transcendência, plenitude e sentido para a vida.


            Como fenômeno massificado, o amor romântico é uma invenção do Ocidente, estamos tão acostumados a ele que imaginamos ser essa a única forma de amor, ou o amor verdadeiro. Nas culturas orientais, por exemplo na Índia, encontramos que os casais se amam com cordialidade, devoção e estabilidade que chegamos a desconhecer. Eles não impõem aos seus relacionamentos os mesmos ideais que impomos aos nossos, nem fazem exigências inimagináveis, nem alimentam as expectativas que temos.


            O ideal de amor romântico chegou a seu auge no século XIX, nas primeiras décadas do século XX, o sexo era inseparável do amor e do laço conjugal. O ideal romântico integra a sexualidade natural do homem com o amor e o casamento propondo intenções recíprocas e indissolúveis. Assim, esse amor romântico que chegou a nossa contemporaneidade é construído com base numa combinação de ideais crenças e expectativas. Influenciados por esses modelos de comportamento, de forma inconsciente, predeterminamos como deve ser o relacionamento com a outra pessoa, o que devemos fazer e o que vamos lucrar.


            No amor romântico não basta amar, é preciso está apaixonado, que é a sensação de êxtase que o nosso parceiro tem que constantemente nos alimentar com a emoção intensa que a paixão proporciona. O mundo ocidental nos dá a sensação de que estamos sempre com razão e daí achamos que o amor romântico é o certo, o único possível de nos proporcionar a tão sonhada felicidade.


            Levando em consideração o número de casamentos desfeitos e de relacionamentos amorosos fugazes, dá para intuir que o amor romântico não está dando muito certo, acredito que é preciso, a libertação de nossas presunções e expectativas inconscientes, porque daí será possível atingir um novo patamar nos relacionamentos e sobretudo, uma nova consciência de nós mesmos.
            

sábado, 9 de novembro de 2013

A OUSADIA DE DAVID BOWIE



Existem alguns artistas que tem a capacidade de nos remeter a elementos recônditos do nosso psique como a curiosidade, a atenção, e a sensação de se está diante de um bom trabalho. David Bowie (1947), faz para mim parte desse time, quando vejo os seus clipes e escuto sua música me questiono, como ele consegue ser atual em tempos de bisbilhotice exacerbada da internet?


Ele começou sua carreira nos anos 1960, cantando rock e é considerado um dos mais importantes artistas da música pop de todos os tempos. Nos anos 1970 quando começou a ficar famoso, começou a encarnar o clichê do camaleão, e, é possível vê-lo com trajes de inspiração eduardiana, languidamente estendido num divã. Ele é o tipo de artista de quem sempre é possível esperar uma novidade, nos anos 1980 antecipou-se a moda e lançou música dance, assim como, nos anos 1990 lançou música eletrônica, e agora lança a pré venda do seu disco através do I tunes.


Mas Bowie não é somente interessante pela sua vanguarda ou irreverência, sua música é boa. Ele faz boas letras e boas canções. Meu disco preferido dele é Pin Ups de 1973, que aparece na capa com a modelo Twiggy, é o disco mais rock dele, e o que mais rápido vendeu na Inglaterra, é uma seleção de covers de suas canções preferidas da década de 1960. Sua vida é marcada pela invenção contínua e pela forte apresentação visual, é considerado como grande influenciador de artistas, da libertação gay e da nova juventude independente.


Quem o conhece vale a pena ouvir sempre, que não o conhece, convido a conhece-lo, pois é um artista capaz de transformar suas aspirações e seus problemas pessoais em cultura popular, como podemos ouvir nos versos de Space Oddity.