Sempre me pareceu sem sentido a
frase “coca cola é isso aí”. Mas me dou conta que minha instrução não abarca a
sabedoria do lucro. Aliás é interessante como a sequência de palavras de ordem
dessa mercadoria símbolo acompanha os tempos. Começa com um simples “Beba Coca
Cola”, que vai de 1886 a 1892, e continua com uma série de orientações a cerca
do valor do produto. Em 1900 é o “tônico cerebral ideal”. Ano após anos segue
os apelos baseados nos alegados encantos, refrescante, delicioso, revigorante,
até que em 1982 vem a revelação “coca cola é isso aí”.
Acompanhando a maré vitoriosa da
economia de mercado e as previsões do fim da história, o produto se torna
bíblico e sua apresentação revela uma pujante pretensão ufanista. É o absoluto
a mercadoria não se envergonha mais do seu caráter. Seu fetiche se tornou
desnecessário. A etiqueta não habita somente o interior da bolsa o verso da
camiseta. Sua natureza se espalhou por toda a superfície visível, a mercadoria
é um valor em si.
De todos os apelos de produtos essa
é a frase que fica em minha memória. Sua devastadora força marca a rendição das
utopias. Talvez não tenha do que me queixar afinal, a coca cola vai orientando
meu caminho, já que a inefável entidade divina e o misterioso cotidiano
necessitam de uma figuração. Sabemos escrever nossa história a somente 4 mil
anos, então como viver sem bezerros de ouro?