terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O GÂNGSTER




            Vi o Gângster (2007) numa daquelas tardes tediosas, não dei muito crédito ao filme, depois senti que se tratava de uma grande obra e resolvi rever para tirar algumas conclusões aqui para o blog. Assim como O Poderoso Chefão, é um filme sobre a máfia. Não há no entanto, a romantização do crime, nos dias atuais sabemos que é possível combatê-lo com sucesso. Baseado na história real de Frank Lucas, que foi o rei da heroína em Nova York entre 1968 e 1975, o Gângster é ao mesmo tempo o tributo e uma revisão do gênero que consagrou Francis For Coppola, mas sabendo que o filme não pode ser comparado a obra de Coppola que deu status de arte ao gênero.


            O Gângster é uma tentativa de reproduzir essas proporções épicas, e traz dois dos melhores atores do cinema atual Denzel Washington e Russel Crowe. O resultado é um produto sólido, eficaz, digno, mas não uma obra prima. No início o personagem vivido por Denzel Washington aparece como motorista, segurança e cobrador de dívidas de Bumpy lendário dono do crime no Harlem. Quando este morre em 1968 Lucas é o mais próximo para sucede-lo. Mas ele consegue assumir o lugar do antigo chefe com uma mistura de atitudes discretas e ameaças de violência.


            Lucas é um homem que quer transformar o crime organizado não apenas como uma atividade racional, mas também um negócio regido pela lógica empresarial. E o essencial da lógica do Gângster não está na violência dos crimes ou no glamour do estilo de vida, e sim na organização do crime como um negócio. Lucas não pertence ao gangsterismo tradicional (italianos e irlandeses), e sim a comunidade negra, o que torna seu caso único não foi sua origem mas, seus métodos empresariais.


            O filme é descendente direto da política da tolerância zero, e do não as drogas e também resultante de uma visão menos cínica resultante do fato das cidades americanas provaram ser possível triunfar sobre o crime. O Gângster é uma obra legalista, que crê na redenção pela justiça em um país democrático. 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A INVEJA E A TRISTEZA PELA FELICIDADE ALHEIA



            Acredito ser difícil alguém admitir que sente inveja ter esse sentimento é considerado dentro dos nossos princípios filosóficos como algo vergonhoso. Quero começar fazendo uma distinção entre inveja e cobiça. Cobiça é desejar as coisas do outro é vontade de ter o que os outros têm, não significa que ela seja sempre negativa, eu posso dizer: gosto tanto da casa de fulano que vou fazer uma igual para mim. A inveja ao contrário é sempre negativa dizer que alguém têm inveja branca, está relacionada ao racismo brasileiro além de não entender o que é inveja. Inveja está sempre relacionada a tristeza pela alegria alheia, definição muito bem recortada por São Tomás de Aquino.


            A inveja não resulta na vontade de ter o que o outro têm, essa é a pura  e absoluta cobiça, a inveja é a tristeza que o outro tenha. No purgatório de Dante é um tipo de cegueira, colocada no topo dos pecados os invejosos têm como castigo os olhos costurados com arame, e isso está relacionado a não visão que a inveja provoca. Uma coisa interessante na inveja, é que a maioria das pessoas se considera invejável, mas não invejosa. Um outro elemento é que a inveja está relacionada sempre a alguém próximo: o colega de trabalho, o vizinho, o parente. É mais fácil perdoar o sucesso de alguém distante. Uma pesquisa americana diz que para as pessoas não importa quanto eu ganhe, contando que seja mais do que as pessoas ao meu redor.


            A inveja é a falta da máxima socrática do conhece-te a ti mesmo, escrita no templo de Apolo em delfos, fica mais fácil dizer que o meu fracasso se deveu a inveja do que a minha incapacidade. A inveja é dolorosa porque ela se relaciona sempre a uma homenagem indireta a quem eu invejo. Invejar o corpo, a renda, a inteligência ou a sociabilidade de alguém é dizer sempre que o que invejo é acima do que tenho. A inveja é sempre amargurada, porque nasce do reconhecimento da minha fraqueza. Ser feliz com a felicidade alheia é um grande desafio.


            Penso que todos nos amam quando estamos por baixo, mas poucas pessoas nos amam quando estamos por cima. Na tradição judaico cristã, Caim teria matado Abel por pura inveja. Na literatura Yago inveja Otelo, na peça de Shakespeare, O Mouro de Veneza, não suportando o sucesso deste acaba despertando o ciúme e destruindo a Otelo, Desdomena e a ele próprio. Yago representa a pessoa comum que ao não ser promovido no trabalho por exemplo, não faz uma auto avaliação sobre o seu desempenho, preferindo culpar os outros. A inveja é tratada filosoficamente porque ela traz o defeito socrático do invejo de não se conhecer, o invejoso não ver. Saber o que eu invejo é sempre um espaço possível para eu interpretar o que me falta.


            A inveja é a incapacidade de estabelecer os limites do meu narciso do meu eu, é o reconhecimento da incapacidade e do fracasso pessoal e social. Acredito que a solidariedade ao outro no sucesso é o teste máximo. No momento da dor não testamos os amigos, mas a caridade alheia, esse momento causa simpatia a muitas pessoas. Para Heidegger o teste da amizade é relatar ao amigo o sucesso. 


            O invejoso é aquela pessoa que coloca sua alma à exposição pública. É um pecado e um defeito universal que nasce da diferença humana. Apesar de sermos agrupados em conjuntos de incrível similitude, nós somos, absolutamente diversos. A inveja esconde a dor de que eu prefiro tudo, ao parecer dolorido, fraco ou fracassado. A inveja esconde a falta de convívio com o fracasso, uma habilidade superior a minha, mostra sempre o espaço daquilo que eu não sou. Acredito que a inveja é um grande erro porque ela impede que eu seja feliz, e é esse o seu elemento mais doloroso, ela me torna infeliz ao não me permitir pensar naquilo que eu tenho.

domingo, 12 de janeiro de 2014

A ARTE DE MATISSE



Um dos grandes expoentes da arte moderna, o francês Henri Matisse (1869-1954), é um artista que pensa. Revendo textos seus dá para perceber que o seu pensamento ecoa na moda, na publicidade, no cinema e na arte feita e consumida no faminto mercado mundial nesse instante. Ele foi moderno como agora pode ser contemporâneo, escrever e publicar é parte essencial de sua trajetória.


            No drama da Arte Moderna, Picasso e Matisse ocupam o lugar do novo mas com características totalmente excludentes. Enquanto o pintor espanhol foi viril, libertário, radical e politicamente engajado, o francês evitou a política em sua arte, preservava um ideal de calma e reclusão no casamento, lutava para ser visto como um bom pai de família.


            Para Matisse a arte era uma calma influência na mente algo, como uma cadeira de balanço que relaxa do cansaço físico. Ele sentia-se atraído demais pela beleza e pela força espiritual das artes. E é por isso que gosto tanto do seu trabalho porque o desejo de tornar as coisas belas era mais forte do que todo o resto. Em Matisse o moderno pode ser bem comportado. Para um ambiente da ativa vanguarda, sua posição era no mínimo controversa.


            Matisse com sua delicada relação com as cores, jamais esteve distante do impacto, sua calma e tranquilidade foi criada a partir da fúria, uma guerra travada com as telas. As sensações que sua obra provocam são mais pelos tons do que pelas formas. Era sempre por meio da cor que ele organizava suas telas. Para ele não existia regras a serem estabelecidas,  e menos ainda receitas práticas, caso contrário, seria uma arte industrial.


            Entendo que para Matisse a arte é mesmo um estado de espírito. Basta apenas se deter com toda atenção em suas cores. Elas não contam uma história do passado. São uma perfeita representação do presente e uma mensagem enviada ao futuro. 

sábado, 11 de janeiro de 2014

DESCONSTRUÍNDO A FEIJOADA



            Dizer que feijoada é comida de escravos é puro folclore. Os historiadores comprovaram que na verdade, quem comia esse prato que é uma instituição nacional brasileira era a elite. A comida dos escravos consistia de feijão aguado coberto com farinha de mandioca, e quando tinham sorte levavam dentro um pedaço pequeno de carne seca.



            Quem trouxe para o Brasil o hábito de comer feijão com linguiça, orelha e pé de porco foram os colonizadores que vieram do norte de Portugal. Os cozidos são comuns na Europa desde a época dos romanos que já comiam carnes cozidas com legumes e feijão branco, mas tornaram-se mais populares com a invasão moura dos anos 700. Daí vieram também o cassoulet francês, que leva feijão branco, linguiça de porco e carne de pato.



            Quando chegaram ao Brasil, porém os portugueses encontraram feijão-preto, que aqui existia em fartura, pois é de origem sul-americana, e a troca foi feita com satisfação e vantagem, já que o feijão preto é mais saboroso. E assim nasceu a feijoada a brasileira. O mais antigo registro escrito do prato, é de um anúncio no Recife, no Diário de Pernambuco de 1833, no qual informa que o restaurante do Hotel Théâtre, servia feijoada as quintas feiras. Em 1849, o Jornal do Comércio do Rio de janeiro, anuncia que o Novo Café, serviria a bela feijoada a brasileira.



            No tempo do Império a feijoada era comida dos ricos, porque os miúdos eram considerados iguarias. Um recibo de um açougue na cidade de Petrópolis comprova a compra pela Casa Imperial de carne bovina fresca, porco, linguiça, chouriço, rins, língua, coração, pulmões e tripas.



            A feijoada que conhecemos hoje acompanhada de arroz, laranja, couve, farofa  e torresmos, foi criação do restaurante carioca G. Lobo, no final do século XIX. Era chamada de feijoada completa e a partir dali se expandiu para outras cidades e Estados brasileiros sempre tendo por base o feijão preto. O que varia um pouco são as carnes de acordo com as preferências de cada região. Prato brasileiríssimo e embaixador de nossa cultura nacional.