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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A INVEJA E A TRISTEZA PELA FELICIDADE ALHEIA



            Acredito ser difícil alguém admitir que sente inveja ter esse sentimento é considerado dentro dos nossos princípios filosóficos como algo vergonhoso. Quero começar fazendo uma distinção entre inveja e cobiça. Cobiça é desejar as coisas do outro é vontade de ter o que os outros têm, não significa que ela seja sempre negativa, eu posso dizer: gosto tanto da casa de fulano que vou fazer uma igual para mim. A inveja ao contrário é sempre negativa dizer que alguém têm inveja branca, está relacionada ao racismo brasileiro além de não entender o que é inveja. Inveja está sempre relacionada a tristeza pela alegria alheia, definição muito bem recortada por São Tomás de Aquino.


            A inveja não resulta na vontade de ter o que o outro têm, essa é a pura  e absoluta cobiça, a inveja é a tristeza que o outro tenha. No purgatório de Dante é um tipo de cegueira, colocada no topo dos pecados os invejosos têm como castigo os olhos costurados com arame, e isso está relacionado a não visão que a inveja provoca. Uma coisa interessante na inveja, é que a maioria das pessoas se considera invejável, mas não invejosa. Um outro elemento é que a inveja está relacionada sempre a alguém próximo: o colega de trabalho, o vizinho, o parente. É mais fácil perdoar o sucesso de alguém distante. Uma pesquisa americana diz que para as pessoas não importa quanto eu ganhe, contando que seja mais do que as pessoas ao meu redor.


            A inveja é a falta da máxima socrática do conhece-te a ti mesmo, escrita no templo de Apolo em delfos, fica mais fácil dizer que o meu fracasso se deveu a inveja do que a minha incapacidade. A inveja é dolorosa porque ela se relaciona sempre a uma homenagem indireta a quem eu invejo. Invejar o corpo, a renda, a inteligência ou a sociabilidade de alguém é dizer sempre que o que invejo é acima do que tenho. A inveja é sempre amargurada, porque nasce do reconhecimento da minha fraqueza. Ser feliz com a felicidade alheia é um grande desafio.


            Penso que todos nos amam quando estamos por baixo, mas poucas pessoas nos amam quando estamos por cima. Na tradição judaico cristã, Caim teria matado Abel por pura inveja. Na literatura Yago inveja Otelo, na peça de Shakespeare, O Mouro de Veneza, não suportando o sucesso deste acaba despertando o ciúme e destruindo a Otelo, Desdomena e a ele próprio. Yago representa a pessoa comum que ao não ser promovido no trabalho por exemplo, não faz uma auto avaliação sobre o seu desempenho, preferindo culpar os outros. A inveja é tratada filosoficamente porque ela traz o defeito socrático do invejo de não se conhecer, o invejoso não ver. Saber o que eu invejo é sempre um espaço possível para eu interpretar o que me falta.


            A inveja é a incapacidade de estabelecer os limites do meu narciso do meu eu, é o reconhecimento da incapacidade e do fracasso pessoal e social. Acredito que a solidariedade ao outro no sucesso é o teste máximo. No momento da dor não testamos os amigos, mas a caridade alheia, esse momento causa simpatia a muitas pessoas. Para Heidegger o teste da amizade é relatar ao amigo o sucesso. 


            O invejoso é aquela pessoa que coloca sua alma à exposição pública. É um pecado e um defeito universal que nasce da diferença humana. Apesar de sermos agrupados em conjuntos de incrível similitude, nós somos, absolutamente diversos. A inveja esconde a dor de que eu prefiro tudo, ao parecer dolorido, fraco ou fracassado. A inveja esconde a falta de convívio com o fracasso, uma habilidade superior a minha, mostra sempre o espaço daquilo que eu não sou. Acredito que a inveja é um grande erro porque ela impede que eu seja feliz, e é esse o seu elemento mais doloroso, ela me torna infeliz ao não me permitir pensar naquilo que eu tenho.