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quinta-feira, 12 de junho de 2014

COLHEITA O SAMBA BOM DE MARIENE DE CASTRO


            Conheci a baiana Mariene de Castro no disco Ser de Luz em que ela interpreta músicas da sambista Clara Nunes. Recentemente comprei seu mais novo disco Colheita lançado em fevereiro de 2014. O disco expõe seu sincretismo musical com forte brasilidade e musicalidade nacional tocante. Suas músicas são elegantes, e ela já figura na lista das grandes cantoras brasileiras, ela tem a força que vem de raiz como diz o título do samba antigo Roque Ferreira.



            O samba do disco é interpretado com fé e expressa a melhor tradução do povo brasileiro. O reportório reúne 14 canções impecáveis, amparadas por um time de músicos de primeira. São sambas que vão dos filosóficos aos divertidos com letras que trazem temas como fé, amor, respeito, trabalho, esperança, luz, alegria, coragem e paz.




            Mariene tem profunda influência de Clara Nunes, mas não a imita. Sua voz tem fluência admirável, sem esforço, ela vai do grave aos tons altos, com uma segurança de quem sabe o talento que possui. Colheita é um disco refinado, mas que precisa emplacar e ser conhecido e ouvido pelo grande público. Mariene é uma grande cantora e hoje colhe frutos do seu talento.

quinta-feira, 20 de março de 2014

ELIS, PARA SEMPRE ELIS


Se viva fosse essa seria a semana de aniversário de Elis Regina conhecida cantora da Música Popular Brasileira. Embora hoje não escute tanto Elis, quando criança convivia com sua música que era ouvida em minha casa pelos parentes mais velhos. Quando estava na faculdade li Noites Tropicais do produtor musical Nelson Motta e conheci um pouco mais sobre sua trajetória e sua vida. É inegável sua voz dramática e o uso de diversos recursos vocais para acentuar essa característica.



            Sua interpretação é tão marcante que chega a interferir nas músicas e como se seu gosto, estilo e imagem pública pudessem evidenciar os elementos inscritos em uma canção. Sua voz é sempre cúmplice suas primeiras interpretações me lembram as antigas cantoras de rádio. Ela cantava sorrindo e as vezes era irônica, podia cantar também malandramente, improvisava e as vezes no meio de uma música soltava uma gargalhada. Acho que Elis é muito maior do que qualquer rótulo e sempre preferiu a complexidade da fluidez seja em sua identidade artística, quanto na forma como pensou o Brasil, a cultura brasileira, o cotidiano, a indústria cultural ou mesmo a política. Embora suas apresentações tenham um que de um espírito revisionista.



            Sua figura é de alguém que sempre primou pelo aperfeiçoamento, a versatilidade, o domínio técnico combinado com a espontaneidade e a embriaguez equilibrista sendo uma referência para outras cantoras suas contemporâneas ou de gerações posteriores. Elis parece ter criado uma gramática do canto, onde várias intérpretes, não só brasileiras fariam seus estudos. Nesse processo, atravessaria fronteiras temporais, como alguém que deve ser lembrado a partir da excelência alcançada e largamente aclamada pela crítica.



Como essa lembrança vem de uma necessidade do presente, não podemos considerá-la apenas como um rastro do passado, mas sim como algo que, a partir das práticas deste presente, atualiza-se, ganhando novo sopro de vida com as diversas reedições de sua obra chegando até a minha geração  e provando a longevidade de seus discos. O que fazem dela uma Elis, para sempre Elis.


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

ROBERTA SÁ canta Falsa Baiana


Esses dias tenho visto vídeos da cantora Roberta Sá em especial sambas da década de 1940 gravados por ela num disco de 2004 chamado Sambas e Bossa gosto notadamente da música Falsa Baiana de Ciro Monteiro. Sua interpretação é primorosa porque evidencia um ressurgimento do samba entre os jovens. Sua sensibilidade Pop que é difícil de definir mas se faz sentir em todos da sua geração chegam ao samba pela via da MPB e da Bossa Nova refletindo no momento atual do samba.



O que se percebe na gravação de Roberta Sá é que sua Falsa Baiana é atravessada principalmente por elementos de três tradições: o samba, a MPB/Bossa Nova e, não sei bem em que medida consciente ou inconscientemente, a Música Pop foi introduzida, mas isso fica claro pela maneira com que ela arredonda os saltos da melodia, mudando a entonação, e como ressalta os fins da frase colocando um vibrato leve, usando esse recurso, de uma forma totalmente diferente dos cantores de samba tradicionais.



O que mais gosto de suas apresentações é a tentativa de cantar como os cantores da velha guarda variando a divisão melódica e tentando sugerir leveza, despojamento e até uma certa irreverência. Sua maneira de cantar usando a voz limpa, aproveitando o ar sem forçar demais e no entanto, mantendo homogeneidade e regularidade na intensidade das notas em cada frase, revela com relativa clareza que estão em jogo ali referenciais do que é cantar de forma afastada dos intérpretes tradicionais como: Zeca Pagodinho, Clara Nunes ou Beth Carvalho.




            Tenho especial predileção pela interpretação da Falsa Baiana de Roberta Sá, pelo frescor e novidade que trouxe para a velha composição dos anos 1940. Com ela a composição se mostrou um samba mais corporificado, por outras tradições além de trazer o lastro histórico que dá uma carga simbólica específica a cada uma delas, entrando portanto na própria constituição da canção. Música das boas para ser ouvida sem moderação. 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

CARMEN MIRANDA E SUA BAIANA


            A década de 1930, assistiu no Brasil a construção de uma nova identidade nacional, onde elementos das camadas populares foram incorporados a ela. A construção dessa identidade tinha como agente o Estado e diversos elementos sociais. Carmen Miranda foi o maior ídolo popular da época e a cantora mais famosa daqueles tempos, chegando a representar o Brasil no exterior.



            O desenvolvimento do rádio como novo meio de comunicação foi fundamental na construção dessa nova identidade. Antes de ser a baiana, sua imagem pública suas canções traziam o modelo de uma mulher bem sucedida, batalhadora, bela, sedutora. Na música as Cantoras do Rádio, essas mulheres eram as matriarcas que uniam o país de norte a sul.



            Carmen em suas canções popularizava a nação e vivenciava as narrativas de suas canções. Resumia a imagem que se queria da capital brasileira: Rio lindo sonho de fadas. Noites sempre estreladas e praias azuis. Rainha branca do samba, em suas canções a natureza era personificada bem como as cidades e as grandes massas populares.



            A baiana foi sua marca mais forte, Em 1939, num momento fortemente influenciado pela aversão estatal à figura do malandro, foi gravada “O que é que a baiana tem”. É um samba típico baiano de Dorival Caymmi, que, além de compositor, também a ajudou a montar o figurino de baiana e participou da gravação da música para o filme “Banana da Terra”.


CM: O que é que a baiana tem?
Coro: O que é que a baiana tem?
CM: Tem torso de seda, tem (tem)
Tem brinco de ouro, tem (tem)
Corrente de ouro tem (tem)
Tem pano da Costa, tem (tem)
Tem bata rendada, tem (tem)
Pulseira de ouro tem (tem)
Tem saia engomada, tem (tem)
Tem sandália enfeitada, tem (tem)
E tem graça como ninguém
Coro: O que é que a baiana tem?
CM: Como ela requebra bem
(...)
Coro: O que é que a baiana tem?
CM: Um rosário de ouro
Uma bolota assim
Ai, quem não tem balangandãs
Não vai no Bonfim
Oi, quem não tem balangandãs
Não vai no Bonfim.



            A cantora mais famosa do Brasil, identificada com o Rio de Janeiro, nessa música passava a se apresentar vestida com os trajes típicos das negras da Bahia. Na verdade, a imagem de baiana construída por Carmen não foi uma cópia fiel das baianas que vendiam comidas em Salvador. Ela selecionou alguns elementos dos trajes dessas baianas e acrescentou outros. Foi algo muito chocante para a época: uma cantora que sempre havia se vestido dentro das tendências da moda urbana do Rio de Janeiro, nesse momento construiu um figurino totalmente distinto. Mais impressionante ainda foi o resultado disso.




            Carmen teve um claro feeling para se tornar “mais brasileira”, ou seja, mais aceita pelo imaginário nacional, a figura da baiana. A baiana, como o próprio nome diz, não deixou de ser uma figura regional, mas as alterações feitas pela cantora deram a ela a possibilidade de, além disso, também ser nacional. Seu papel ultrapassava a bela voz e o requebrado e ajudavam a consolidar a imagem cultural que temos do Brasil.