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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A IMPORTÂNCIA DA BOSSA NOVA E DO MOVIMENTO TROPICALISTA


            A vida vem em ondas como o mar, assim como os reencontros com o passado, senti isso ao comprar uma coletânea de músicas dos movimentos da Bossa Nova e do Tropicalismo, momentos marcantes da cultura brasileira na segunda metade do século 20 que continuam a bater às portas da atualidade. Vista por alguns como manifestações antagônicas,  a Bossa Nova e o Tropicalismo demarcam uma década de intensa criatividade na cultura do país e de importantes acontecimentos em sua vida política. Entre 1957 e 1958 pode-se dizer que “tudo” aconteceu.



            É preciso reconhecer que o tropicalismo como movimento estritamente musical pouco teve de bossa novista, quando se pensa na insuperável formalização de gênero, realizada por Tom, Vinícius e João Gilberto, este bem mais do que um mero intérprete, na verdade um dos inventores da coisa, ou o inventor. A invasão tropicalista era diferente, ruidosa e se fez acompanhar do mais moderno conjunto de rock da época, o paulista Mutantes, e de orquestrações vanguardistas que mesclavam instrumentos tradicionais e modernos.



            Enquanto a melhor tradução bossa novista, semanticamente superada pelos novos ventos políticos, era substituída pelo samba jazz e assemelhados, e ecoava o conteúdo engajado das letras de protesto, prosperavam os gêneros comerciais clássicos dos anos 60 que mostravam elementos da emergente cultura de massas de uma Brasil que já era bastante internacionalizado. Esses guardiões do templo, queriam erguer um dique contra a invasão imperialista.




            O tropicalismo era uma bomba cultural que propunha na música o que já vinha sendo feito em Terra em Transe de Glauber Rocha ou no Rei da Vela montado por Celso Martinez Correa. Obras que se inserem dentro da temática modernista antropofágica de Oswaldo de Andrade. É difícil superar a Bossa Nova, algo que atingiu um grau de sofisticação e acabamento formal absolutamente invejável e alcançou reconhecimento tão amplo, mas, no sentido de tentarem recriar a música brasileira os dois movimentos se completam e o tropicalismo não deixa de ser bossa novista.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

NARA LEÃO INTERPRETAÇÃO APURADA E OUSADIA MUSICAL


            Nara Leão foi considerada musa da Bossa Nova, sua interpretação da música A Banda é magistral. Tinha de 14 para 15 anos quando o apartamento de seus pais na Avenida Atlântica, em Copacabana no Rio de Janeiro, virou ponto de encontro dos amigos, todos mais velhos que ela que passavam as noites tocando violão, compondo e conversando sobre música. Sylvia Teles, Roberto Menescal, Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli eram uns dos frequentadores mais assíduos das famosas reuniões. Pelas quais também passavam Tom Jobim e João Gilberto. Tudo isso quando a Bossa Nova começava a nascer.



            Nara Leão não foi musa apenas da Bossa Nova, foi uma artista que marcou a música brasileira. Foi musa da música de protesto e da tropicália. E essa é uma das suas características mais marcantes, já que passou 20 anos cantando quando era, na verdade soprano: a de não se prender a formato algum. Em 1966, rompeu com a Bossa Nova, período que coincidiu com o fim do seu noivado traumático com Ronaldo Bôscoli.




            Nara Leão foi uma das grandes mulheres do cenário artístico nacional. Fez o que quis da sua vida, da maneira que quis, com ferrenha dedicação em tudo. Deixou a carreira de lado para se dedicar a maternidade, escolheu seus relacionamentos a dedo, fez todos os discos que teve vontade, mesmo indo contra a corrente, lançou moda, atacou a ditadura, estudou psicologia. Cantou samba, Bossa Nova, cantigas de roda, chorinho, música popular, americanas, música de seresta, protesto e até música dançante. Lutou como pode por sua independência, pelos seus ideais e pela vida, a única batalha que não conseguiu vencer, vencida por um câncer em 1986.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

TOM JOBIM O MAESTRO DO SAMBA



            A arte do Brasil por excelência é a música popular. Este é o país de Noel Rosa, Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Chico Buarque. Tom Jobim é o maior compositor popular num país de compositores populares. Tom Jobim é o grande artista brasileiro é o nosso Beethoven. Ele era um virtuose da composição, um mestre em dizer coisas usando as diferentes formas de canção. Para falar do doce balanço a caminho do mar, compôs um samba com batida igualmente rebolante.


            Muitas de suas canções são verdadeiros mergulhos na tradição da música brasileira. A popular canção Luiza é uma valsa brasileira. Sua habilidade não era fruto de uma intuição prodigiosa como Noel Rosa, mas de muito estudo e disciplina. Tom é um dos poucos compositores brasileiros que escrevia seus próprios arranjos. Suas influências, segundo ele próprio, eram Debussy, Villa Lobos, Stravinsky e Chopin.


            Ele começou sua carreira ja pronto, aos 29 anos para fazer a trilha do musical Orfeu, em cima de versos de Vinícius de Moraes. Tom Jobim é o autor das músicas de 30 acordes e dezenas de dissonâncias que todo o mundo assobia. Tom mostrou ao mundo um Brasil elegante, o país continuava a ser uma praia latina, mas essa praia tinha o charme das canções suaves, em lugar dos sambas rasgados ou boleros derramados.


            O Tom que renovou a música popular incorporando elementos da música erudita se tornou algo próximo de um compositor de música clássica. Chegou mesmo a projetar um concerto para violão. Não concretizou suas intenções nessa área, mas também não precisava disso para permanecer. Ele fica na história não como um Beethoven de segunda, mas como um Tom de primeira, o número um na especialidade a que se dedicou: seduzir e fascinar as plateias com excelente música popular, essa arte da banalidade que umas poucas vezes atinge o nível do sublime. 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

ROBERTA SÁ canta Falsa Baiana


Esses dias tenho visto vídeos da cantora Roberta Sá em especial sambas da década de 1940 gravados por ela num disco de 2004 chamado Sambas e Bossa gosto notadamente da música Falsa Baiana de Ciro Monteiro. Sua interpretação é primorosa porque evidencia um ressurgimento do samba entre os jovens. Sua sensibilidade Pop que é difícil de definir mas se faz sentir em todos da sua geração chegam ao samba pela via da MPB e da Bossa Nova refletindo no momento atual do samba.



O que se percebe na gravação de Roberta Sá é que sua Falsa Baiana é atravessada principalmente por elementos de três tradições: o samba, a MPB/Bossa Nova e, não sei bem em que medida consciente ou inconscientemente, a Música Pop foi introduzida, mas isso fica claro pela maneira com que ela arredonda os saltos da melodia, mudando a entonação, e como ressalta os fins da frase colocando um vibrato leve, usando esse recurso, de uma forma totalmente diferente dos cantores de samba tradicionais.



O que mais gosto de suas apresentações é a tentativa de cantar como os cantores da velha guarda variando a divisão melódica e tentando sugerir leveza, despojamento e até uma certa irreverência. Sua maneira de cantar usando a voz limpa, aproveitando o ar sem forçar demais e no entanto, mantendo homogeneidade e regularidade na intensidade das notas em cada frase, revela com relativa clareza que estão em jogo ali referenciais do que é cantar de forma afastada dos intérpretes tradicionais como: Zeca Pagodinho, Clara Nunes ou Beth Carvalho.




            Tenho especial predileção pela interpretação da Falsa Baiana de Roberta Sá, pelo frescor e novidade que trouxe para a velha composição dos anos 1940. Com ela a composição se mostrou um samba mais corporificado, por outras tradições além de trazer o lastro histórico que dá uma carga simbólica específica a cada uma delas, entrando portanto na própria constituição da canção. Música das boas para ser ouvida sem moderação. 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O SAMBA E O NASCIMENTO DA BOSSA NOVA


O samba é considerado o gênero musical brasileiro por excelência, porque é o resultado da mistura da cultura africana com a européia com a realidade e o jeitinho brasileiro. O samba nasceu na Bahia e surgiu nas comunidades negras em ritmo de escravidão. Logo foi conhecido e desenvolvido no Rio de Janeiro, São Paulo e em outras regiões do país. O seu ritmo é caracterizado pela marcação que é o que o surdo faz numa bateria de samba.


            No começo da era do rádio no Brasil, o samba foi o carro chefe da música nacional, embalado por sucessos de artistas como Donga, Ismael Silva, Noel Rosa, Wilson Batista, Ataulfo Alves e Carmen Miranda. Nas décadas de 1940 e 1950 o samba passa por um processo de modernização estabelecendo um diálogo com a música erudita, o jazz e a literatura moderna. Nomes como Pixinguinha, Garoto, Dorival Caymmi, Johnny Alf, Ary Barroso e Vinicius de Moraes estavam contribuíndo nesse processo que iria resultar na tão consagrada Bossa Nova.


            Em 1959 foi lançado o disco Chega de Saudade do baiano João Gilberto, com arranjos e direção musical de Tom Jobim esse é o marco da Bossa Nova que surgiu como um jeito diferente de tocar o samba, mais intimista com mais suavidade e valorizando mais a harmonia, utilizando harmonia mais sofisticada com acordes cheios de tensões. Uma diferença com o samba é a origem, a Bossa Nova veio de um grupo de artistas, em geral de classe média, enquanto o samba veio das classes mais pobres.


            A Bossa Nova transformou-se num movimento de vanguarda na música popular, seus representantes Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto, Nara Leão, Carlos Lira, Luiz Bonfá, entre muitos outros alcançaram expressiva projeção internacional, a partir de então, o mundo passa a referenciar a música popular brasileira.