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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

MARIA ANTONIETA DE SOFIA COPOLA





Quando Maria Antonieta foi lançado em 2006 fui ao cinema, ver sua estréia, e lembro que me impressionei mais com as cores, e tom romântico da película, do que com o filme em si, nesses dias de ócio criativo, resolvi rever e tirar algumas impressões. O filme é considerado como uma das obras primas da diretora Sofia Copolla. De inicio causa impacto as cores alegres e as músicas atuais, que formam um contraste interessante com a atmosfera do século XVIII. Um outro fato de relevância no filme é que não está centrado na morte de Maria Antonieta, nem na propaganda negativa feita sobre sua pessoa, mas na sua vida.


No início mostra a jovem Maria Antonieta, que sai de sua Áustria natal, em busca do apático marido, de um novo reino já decadente, com problemas e desavenças internas. Aqui se mostra a inocência de uma adolescente diante de um mundo perverso e incomum. A jovem quando se despe dos ornamentos de sua corte, e assume uma nova vida, na França, se vê perdida diante de tantas regras de etiqueta e desnudada perto de estranhos.


Para mim, o ponto alto do filme, é quando ela passa a usar sua posição de soberana para criar uma atmosfera irreal, de sonho, e fugir da formalidade e das tensões da corte. A vida que levavam em Versalhes, era o de uma ilha da fantasia, estima-se que 6% do que era arrecadado no país era destinado ao castelo. Nesse ambiente, o decoratismo barroco é mostrado em toda a sua plenitude.


Uma reprodução fiel a história é a fase campestre de Maria Antonieta, quando ela se recolheu no Trianon para fugir do protocolo da corte. Ali ela abandona as vestes pomposas e se mostra em trajes campestres. O bom do filme é que ele desmente a famosa frase do brioche.


Após a queda da bastilha os então aliados fogem e outros são pegos, Maria Antonieta passa a ser odiada, e se instaura uma fase de luto, a família real é obrigada a se mudar para Paris dizendo adeus para sempre a vida de conto de fadas. E assim o filme é terminado e é aí, que está a melhor mensagem do filme, não mostrar Maria Antonieta como a figura construída pelos vitoriosos burgueses e por sua propaganda negativa.



O que Copola fez nesse filme foi ir na contramão dessa propaganda negativa em torno da figura de Maria Antonieta, mas fazer um tributo a imagem daquela mulher com sua vida e seus amores. Seu objetivo foi alcançado com uma prodigiosa festa de cores e lugares exóticos. O filme é festa para a história e para a educação visual. 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

ZÉ CARIOCA LEVA DONALD A BAHIA





            Algumas máximas que constroem a ideia de Brasil, de seus hábitos, costumes e características, foram construídas socialmente, um dos responsáveis por essa construção foram os filmes, em especial o filme Você já foi a Bahia? De Walt Disney de 1944 que trazia o icônico personagem Zé Carioca, criado quando Disney fez uma turnê pela américa latina como resultado do esforço estadunidense, para reunir aliados durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).


            A viagem foi realizada em 1941 e tinha como pretexto, demarcar a solidariedade entre as Américas, conhecer as músicas, danças e talvez um companheiro para os personagens Mickey e Pato Donald. Na verdade Disney tinha interesse em divulgar sua própria imagem e seus estúdios em outros locais do mundo. Contribuindo assim, para a divulgação do seu trabalho e de suas ideias. Zé Carioca foi criado por Walt Disney, no Rio de Janeiro no Copacabana Palace.


            O filme inicia-se no aniversário do Pato Donald e ele recebe uma caixa de presentes dizendo ser dos seus amigos da América Latina, agradecendo sua visita. Na caixa tem um projetor de cinema que mostra aves raras da região amazônica brasileira, depois dessa apresentação a caixa começa a vibrar e do livro sai o Zé Carioca tocando e sambando e perguntando ao Pato Donald Você já foi há Bahia? O interessante é que a apresentação da Bahia se dá de forma precipitada anunciando que tem vatapá, caruru e mungunzá, se você gosta de samba então vamos lá. Os dois entram num trem e sob o som de uma música contagiante chegam a Bahia.


            A cena mais irresistível é quando uma jovem baiana, protagonizada por Aurora Miranda, já que na época, Carmen Miranda estava contratada pela FOX, canta e encanta, interpretando uma vendedora de quindins, cantando a música de Ari Barroso, Os Quindins de Ya Ya. Donald se apaixona pela baiana, ganha um beijo dela e todos entram no samba. Nesse mundo colorido e fantástico, não tem negros nem pobreza, tudo é exótico, mágico e vibrante.


            Após a viagem a Bahia, Donald e Zé Carioca vão ao México e lá encontram o Galo Panchito, que mostra as belezas e a diversidade natural de sua terra. Esse foi o primeiro filme da Disney em que humanos e desenhos. O personagem mais caricato e que contribui com a construção da ideia do malandro brasileiro é o Zé Carioca, começando pela sua indumentária que é: paletó, gravata, borboleta, chapéu panamá, charuto e guarda chuva. É o malandro tipo exportação, e o primeiro da novelística brasileira, que conduz o estrangeiro numa viagem fantasiosa para uma terra imaginária, onde será centrada as bases para a influência cultural e política dos EUA na América Latina.


            Um filme que vale a pena ser visto e discutido, seja pela magistral trilha sonora, pela impecável atuação de Aurora Miranda, pelas cores que pintaram o Brasil, por um Pato Donald que se mostrava adorável. Nunca me diverti tanto com uma animação da Disney a combinação animação com live action tem qualidade superior se considerarmos que estamos em 1944. Clássico atemporal, que supera as histórias ideológicas criadas em torno da obra.
           
            

sábado, 2 de novembro de 2013

PARA O GRANDE DARCY RIBEIRO




            Compreender o Brasil, passa pelo conhecimento de grandes nomes que defenderam de forma intransigente, os interesses do país, falo aqui, do mineiro Darcy Ribeiro, mas, representante de todo o país. Figura emblemática, polêmica, defendeu de forma veemente durante toda a sua vida duas bandeiras: a educação brasileira e o direito dos índios, daí o caráter humanista de sua pessoa. Ajudou a  criar o Parque do Xingu, o Museu do Índio e a Universidade de Brasília.


            Sua formação de antropólogo e sociólogo, lhe deram uma visão acurada das questões nacionais. Viveu temporadas entre os indígenas, e dessa experiência deu origem a envolvente obra Diários Índios: os Urubu Kaapor. A leitura dessa obra tem a capacidade mágica de nos fazer viajar com Darcy para as florestas do Maranhão, nos anos 1950 onde viviam esses povos. É a construção de um cotidiano que nos causa estranhamento diante da minúcia da descrição dos hábitos e costumes de uma cultura diferente da nossa.


            As vezes me faço um questionamento o que teria levado esse homem tão jovem, de apenas 27 anos a se embrenhar na solidão das florestas tropicais? Dos diários o que li foi a obra citada acima, esta apresenta uma leitura leve, é despretensioso, coloquial, possibilita uma agradável leitura. Penso na descrição dos Urubu Kaappor e vejo que se trata de um dos melhores estudos antropológicos brasileiros.


            O que me seduz em seu pensamento e em sua obra, é que com ele a palavra “selvagem” assume uma nova conotação, livre do peso, pejorativo usado por outros autores, aqui eles são os “moradores da floresta”, prova de sua relação respeitosa com esses povos. Darcy tem a garra, com um misto de romantismo dos utópicos, vejo isso, quando dedicou seus últimos dias a consolidar o projeto de fixar os “verdadeiros donos da terra" à Floresta Amazônica, isso fica explícito em sua próprias palavras :
“Dediquei a vida aos índios, à minha paixão por eles e também à escola pública. Minha vida é feita de projetos impessoais para passar o Brasil a limpo, porque o Brasil é máquina de gastar gente. Gastou seis milhões de índios e o equivalente de negros. Para eles? Não! Para adoçar a boca do europeu com acúcar, para enriquecer uns poucos. O povo foi gasto como carvão neste país bruto”.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A INVENÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL




            Quando me reporto aqui a inventar, não significa, criar um Brasil que não existe, mas a partir da proposição de dados históricos, propor uma forma de conhecer o país e construir uma análise crítica de nossa realidade contemporânea. A invenção, ou construção social do consumo trilha esse caminho. Quais os fatores que contribuíram para a construção de uma sociedade de consumo nos anos 1950? São hábitos que modificados contribuíram para o que se considerava como baluarte da modernização do país e a integração deste ao mercado internacional.


            Com o governo de Juscelino Kubistchek, o país ganhou uma aura modernizante e o desejo de comprar produtos industrializados atendia ao slogan de campanha desenvolvimentista de 50 anos em 5. A criação desses novos hábitos era sustentada pela indústria, propaganda e pesquisa de opinião, gerando demandas até então inéditas.


            Vivia-se o período do crédito e o estímulo do consumo. Novos produtos foram introduzidos na vida das pessoas como: automóveis, TV, aspirador de pó, geladeira, enceradeira. Era o passaporte de ascensão para um novo patamar social e estilo de vida.


            Os produtos vão sendo lentamente impostos e seu grau de aceitação era feito através de pesquisas realizadas pelo Ibope. A indústria detinha o patrocínio dos programas de rádio, mídia mais importante da época. Todas as propagandas eram dirigidas ao público feminino, numa aposta que seriam decisivas na resolução das compras.


            Esses novos hábitos, tiveram influência na alimentação. Alimentos até então vendidos a granel, passaram a ser industrializados. Os legumes são enlatados, o consumo de chocolates e refrigerantes se multiplica. O supermercado, ganha o espaço, da venda, do mercado e da quitanda. Marcas como Helena Rubinstein, Avon e Elizabeth Arden passam a ocupar o banheiro das mulheres.


            O interessante dessa época é que foi vendido uma ideia de comportamento em que se ligava o consumo ao novo e ao moderno. A felicidade era o caminho do país, e assim, se construiu a imagem de Brasil país do futuro, pelo caminho da propaganda e da pesquisa, construiu-se um país moderno com a conta paga pelo consumo. O curioso que recentemente essa política se repete com a introdução das classes C e D do país, na rota do consumo.