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sábado, 11 de janeiro de 2014

DESCONSTRUÍNDO A FEIJOADA



            Dizer que feijoada é comida de escravos é puro folclore. Os historiadores comprovaram que na verdade, quem comia esse prato que é uma instituição nacional brasileira era a elite. A comida dos escravos consistia de feijão aguado coberto com farinha de mandioca, e quando tinham sorte levavam dentro um pedaço pequeno de carne seca.



            Quem trouxe para o Brasil o hábito de comer feijão com linguiça, orelha e pé de porco foram os colonizadores que vieram do norte de Portugal. Os cozidos são comuns na Europa desde a época dos romanos que já comiam carnes cozidas com legumes e feijão branco, mas tornaram-se mais populares com a invasão moura dos anos 700. Daí vieram também o cassoulet francês, que leva feijão branco, linguiça de porco e carne de pato.



            Quando chegaram ao Brasil, porém os portugueses encontraram feijão-preto, que aqui existia em fartura, pois é de origem sul-americana, e a troca foi feita com satisfação e vantagem, já que o feijão preto é mais saboroso. E assim nasceu a feijoada a brasileira. O mais antigo registro escrito do prato, é de um anúncio no Recife, no Diário de Pernambuco de 1833, no qual informa que o restaurante do Hotel Théâtre, servia feijoada as quintas feiras. Em 1849, o Jornal do Comércio do Rio de janeiro, anuncia que o Novo Café, serviria a bela feijoada a brasileira.



            No tempo do Império a feijoada era comida dos ricos, porque os miúdos eram considerados iguarias. Um recibo de um açougue na cidade de Petrópolis comprova a compra pela Casa Imperial de carne bovina fresca, porco, linguiça, chouriço, rins, língua, coração, pulmões e tripas.



            A feijoada que conhecemos hoje acompanhada de arroz, laranja, couve, farofa  e torresmos, foi criação do restaurante carioca G. Lobo, no final do século XIX. Era chamada de feijoada completa e a partir dali se expandiu para outras cidades e Estados brasileiros sempre tendo por base o feijão preto. O que varia um pouco são as carnes de acordo com as preferências de cada região. Prato brasileiríssimo e embaixador de nossa cultura nacional. 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A BOA LEITURA DE 1889 DE LAURENTINO GOMES




Gosto de tudo que está relacionado ao Brasil, quando estava na academia procurava entender o país sob o ponto de vista de estudiosos que usavam como ponto de partida o método científico, comecei apresentando trabalhos com base no clássico Casa Grande e Senzala e daí entender o Brasil foi um tema que nunca mais saiu de mim. Além disso sou fascinada por história, em especial a chamada micro história, aquela que é mais próxima do mundo da história que não é contada pelos vencedores. Deve ser por isso que gosto tanto do trabalho do jornalista Laurentino Gomes, que com esse livro 1889 encerra uma bem sucedida trilogia sobre a história do país, os outros textos são 1808 e 1822.


Quando estava no mestrado me questionava quem vai ler minha dissertação? Terá eficácia prática ou ficará apenas arquivada e empoeirada em alguma estante de uma biblioteca de uma Universidade? Acredito ser esse o fim da maioria das teses, principalmente no Brasil, não atingem o grande público, e Laurentino Gomes com o seu trabalho, vai na contramão desse ostracismo, possibilita o alcance dos acontecimentos sobre o viés da micro história, ao grande público, os fatos que ele narra na trilogia foram essenciais para a formação e consolidação do país que temos.


Acredito que por sua linguagem objetiva, mais próxima da realidade é que seus livros são sucesso de crítica e de público, o que mostra que existe um grande contingente de pessoas interessadas em nossa história, talvez não o fizessem porque as opções que tínhamos no mercado eram emolduradas pelo rigor e pedantismo academicista.


Sua linguagem flui, ler o seu texto é como ler uma revista, com o mérito de está discutindo a formação do país, elemento primordial para compreendermos a nossa contemporaneidade. 1889, não traz novidades, nem está dividido através do rigor cronológico, os capítulos, mostram os dois lados da revolução e são divididos, entre outros, da seguinte forma: O Marechal, O Professor, D. Pedro II, A Redentora. Para mim o mais interessante é o capítulo que traça o perfil do Imperador D. Pedro II, ele humaniza a figura do homem que viveu pelo Brasil e para o Brasil, o seu relato é tão fiel, que nada fica a dever a nenhum acadêmico.


Sua imparcialidade no texto é notável, mas, sabe analisar com precisão os acontecimentos que narra, quando diz que a República se impôs, mas pela fragilidade da Monarquia do que propriamente pelo vigor do movimento republicano ou pela agilidade do Marechal Deodoro. Acredito que o grande mérito do livro está em mostrar um fato que os acadêmicos já trouxeram e agora com o livro chega a conhecimento de um número muito maior de pessoas, a falta do elemento povo, na participação da proclamação da República e da queda do antigo regime, o povo de forma apática via os novos donos do poder dominar o país e a família real ser expulsa de sua pátria e ninguém se pronunciar. Uma mostra da nossa inoperância e desorganização enquanto movimento social político, na defesa dos nossos direitos.


Outro fato que eu gostava de dizer em conversas e discussões sobre o assunto, parafraseando Machado de Assis era que uma grande maioria, aqueles que estão sempre perto do poder, independente de quem esteja no mando, o que importa é sombra que o manto público proporciona, foram dormir ideologicamente monarquistas e acordaram ideologicamente republicanos desde sempre e para concluir fico com a frase do Capitão Feliciano do Espírito Santo (bisavô do ex presidente Fernando Henrique Cardoso) Vocês fizeram a República que não serviu para nada. Aqui agora, como antes continuam mandando os Caiado”.


Está de parabéns Laurentino, por descrever de forma tão bem elaborada esses acontecimentos que foram as raízes da formação e do caráter do povo brasileiro, leitura que transcende o prazeroso, já que tem o condão de aguçar a nossa percepção dos sistemas políticos do país. 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

OS ANOS 1800 NO BRASIL E A INVENÇÃO DA FOTOGRAFIA



            Quando chegou a terras brasileiras, o engenhoso instrumento de Daguerre, causava admiração a facilidade com que se obtinha, se conservava e se mantinha a imagem. A necessidade por uma experiência visual era uma constante, numa sociedade em que a maioria era analfabeta tal artifício possibilitaria um conhecimento mais rápido, mais generalizado, possibilitando também que os grupos pudessem se auto representar.


            A fotografia que se ambicionava era a de paisagem, e está se aproximava aos cânones da pintura romântica. A partir de 1862, os fotógrafos do Império participaram de exposições universais e receberam prêmios. Foi o período da pose por excelência, os preços da fotografia eram módicos e um trabalhador poderia tirar uma foto no centro do Rio de Janeiro.


            No Brasil ganhou grande público a foto pintura que fornecia um ar aristocrático a fotografia e a aproximava da pintura a óleo. Fazia sucesso também os retratos em porcelana, que era dado a parentes e amigos como lembranças da pessoa retratada. As idas ao fotógrafo não era frequente iam-se geralmente de uma a duas vezes por ano.


            Nenhuma família se interessou tanto por fotografia quanto a imperial, D. Pedro II é citado como grande incentivador da fotografia. As fotografias pertencentes a família imperial, incluem uma gama variada de temas: desde os retratados posados mais formais, passando pelas imagens do cotidiano e indo até a acontecimentos formais do Império.


            Além da família imperial, a clientela dos estúdios era formada pela classe senhorial agrária e pela população urbana, enriquecida pelo comércio e serviços prestados a burocracia imperial. Uma das imagens mais comuns retratadas nessa época que chegaram até nós é a de escravos que era produzida dentro e fora dos seus ateliês. Os escravos apareciam em atividades cotidianas, encenadas no estúdio do fotógrafo, em outras, pousavam em trajes bem cuidados as mulheres com turbantes e os homens de terno, sempre descalços, marca indelével da escravidão.


            Encontramos registros fotográficos que recriam com precisão o cotidiano da sociedade da época como vendedores ambulantes em sua maioria negras, de frutas, doces e fazendas. A reprodução do trabalho das fazendas ficou conhecido internacionalmente, com reprodução do trabalho em fazendas de café, amas de leite, vestidas com elegância com a criança nos braços e negros idosos com o aspecto cansado por não terem sido donos da própria vida. O interessante é como a retratação em preto e branco expressa a melancolia e a riqueza desse período, mostrando como a fotografia é importante para notificar a cara de uma sociedade.