Hoje abrimos a
geladeira e encontramos alimentos já previamente processados e cortados, o uso
do gás e do micro-ondas deixa as refeições prontas em poucos minutos. Vamos
pensar no preparo das refeições há mais ou menos 400 anos atrás. A cozinheira
tinha que correr atrás da galinha que ficava no terreiro, depois tinha que matar;
depenar e limpar as vísceras. Depois tinha que acender a fogueira, se agachar e
começar a preparar o alimento do fundo do quintal. Assim é que funcionavam as
primeiras cozinhas brasileiras.
Os
hábitos trazidos pelos portugueses, como utensílios para o preparo dos alimentos
e a instalação da chaminé, foram sendo abandonados e o jeito indígena de
cozinhar foi sendo aos poucos incorporado. A índia foi à primeira empregada
doméstica brasileira, numa época de carência de mulheres brancas, e sempre que
ela podia resistia aos costumes do colonizador e impunha o seu. Para cozinhar
usar a trempe, três pedras colocadas diretamente sobre o chão. Para assar
usavam o jirau. Segundo Câmara Cascudo, em
História da Alimentação no Brasil, os indígenas e escravos incorporaram o
design português e passaram a esculpir os utensílios de argila no formato de
potes, panelas e moringas trazidas pelo colonizador.
Após
séculos de mesmice, a cozinha experimentou um salto de desenvolvimento na
segunda metade do século XIX. E começou a se parecer, com o ambiente que
conhecemos hoje. As inovações da Revolução Industrial, financiadas pelo
dinheiro do café, da borracha e do açúcar, facilitaram a vida e mudaram a
rotina dos cozinheiros. As donas de casa continuavam longe do fogão, a área de
serviço permanecia para as serviçais no fundo do quintal. Com a construção da
rede de abastecimento de água em 1876, acabou de vez a obrigação de buscar água
no chafariz e não havia mais desculpas para sujeira. O gás chegou às cozinhas
em 1901, com fogões importados. Até o século XVIII comer com a mão era uma
prática aceitável socialmente e o uso do garfo e faca só “pegou” em meados do
século XIX.
A
popularização da eletricidade, nos primórdios do século XX, transformou
radicalmente a cozinha. Em poucos anos, um arsenal de eletrodomésticos chegou
ao Brasil, fazendo com que o ambiente de serviço adquirisse outro status. Nos anos
1950 bonita e bem decorada, a cozinha anexa à copa já era um dos ambientes mais
usados pela família. Na década de 1980 ela começou timidamente a se abrir para
a sala. Em 2000, escancarada e exibida, ganha nome e sobrenome: cozinha gourmet.