terça-feira, 6 de maio de 2014

TODAS AS MULHERES DO MUNDO


            Todas as mulheres do mundo (1966) de Domingos Oliveira com Leila Diniz e Paulo José é daqueles filmes que se tornaram clássicos do cinema nacional, lição obrigatória para quem discute, estuda, ou gosta de cinema. Comédia romântica de estética modernista, claramente influenciada pela Nouvelle Vague francesa, surge no contra fluxo temático e ideológico do cinema novo sendo taxada de “alienada” pela facção engajada da crítica. O filme foi um sucesso arrebatador de público, diferente de outros com estética menos palatável de sua época, colocava o indivíduo e seus afetos mais íntimos no centro das atenções.



            O filme não entra em questões sociopolíticas, o diretor investe no infatigável enredo romântico, apresenta traços autobiográficos, à época separado da atriz Leila Diniz, Oliveira oferece à ex-companheira o papel de Maria Alice, em uma trama que recria ficcionalmente aspectos de sua recente (e mal-curada) relação. O enredo de Todas as mulheres do mundo acompanha o reencontro fortuito entre dois jovens amigos: Paulo, um conquistador “incorrigível” (Paulo José, alter ego de Oliveira), e Edu (Flávio Migliaccio), um solteiro convicto. Inicia-se ali o longo diálogo que pontua a trama entre o narrador Paulo e seus atentos interlocutores.



            A estrutura narrativa do filme é composta a partir da colagem das memórias de Paulo em flashback, que descreve o percurso acidentado de sua história de amor com Maria Alice (Leila Diniz). Desde as artimanhas da conquista, passando por sucessivas brigas e reconciliações, o romance tem um desfecho tão banal, quanto surpreendente.  Quando finalmente cede ao matrimônio, Paulo assume um estado de indisfarçável excitação (evidenciado pela eufórica na atuação de Paulo José), como se após cumprir este ritual de passagem, o pesado ônus da liberdade juvenil lhe fosse tirado dos ombros.



            O filme culmina com o final feliz dos contos de fada, fato irônico, porém condizente com a utopia amorosa que Oliveira (ele próprio um confesso “Don Juan”), deseja urdir no universo possível da ficção. Gostei de ver o filme porque apresenta questões que hoje ainda reverberam como um equilíbrio delicado: de um lado, a franca consciência masculina sobre as prementes reivindicações da mulher e de outro, a resistência deliberada contra estes avanços, o que ainda limita até hoje questões de gênero dentro da relação tradicional entre homem e mulher. 


domingo, 4 de maio de 2014

FALAS, ÍCONES E ESTILOS DA MODA


            Novo e moda são termos que andam sempre juntos, isso porque, a moda com a sua natureza volátil é sempre nova. Analisando a história da moda vemos que as mesmas formas e cores reaparecem inúmeras vezes. Enumerei alguns elementos pensando na moda, suas falas, estilos e percepções, fazem parte de uma indústria que reflete o tempo em constante mutação e é, influenciado por ele. Hoje o consumo de moda é um dos segmentos mais promissores do comércio em geral, não havendo mais distinção de renda, idade, característica física, cultural ou social. Todos querem, todos podem e todos de uma forma ou de outra consomem moda.



 Coco Chanel.
Na década de 1920, Chanel simplificou as formas, reduziu o uso de enfeites, usou tecidos mais leves e linhas mais simples. Adotou as linhas quadradas do vestido. Criou para o dia, conjunto de cardigã com bolsos aplicados confortáveis e relaxados. Para a noite, Chanel criou o vestido preto básico, segundo ela uma peca tão chique quanto a sua simplicidade. O lançamento do perfume Chanel nº 5 em 1921, sintetizou sua simplicidade de luxo e ativou a maquina de criar marcas.



Christian Dior.
Christian Dior foi o grande costureiro dos anos 1950, seu New Look restabeleceu Paris como capital da moda e salvou a importante indústria da alta costura. Suas coleções recebiam nomes e tinham um toque de uma volta ao feminismo com o uso do espartilho e a acentuação da cintura. Era a cura de um mundo cansado pelo minimalismo imposto pela Guerra, o retorno a silhueta de saia longa e cheia. A feminilidade estava em alta e com ela a disseminação de mais um ícone da moda.



 O vestido preto básico.
Nos anos 1950, o vestido preto renasceu, com o estilo clássico para coquetel, dando ensejo a novas possibilidades de guarda roupa. A ideia era a mulher aparecer em um simples tubinho preto, usando diamantes com um Martini nas mãos. O vestido preto era o contraste dos tailleurs ou dos vestidos estampados usados durante o dia. A simplicidade do pretinho era o pano de fundo ideal para acessórios da época como o chapéu.



   O blue jeans
Ícone dos anos 1950, conquistou a imaginação dos adolescentes, calças e jaquetas de brim tornaram-se o uniforme dos jovens. Trata-se de um tecido resistente surgido de Nimes, cidade francesa, que era urdido com uma trama azul, traje do operário europeu. A maior referência são as peças fabricadas pela Levis, antes de 1971 e a grande figura que imortalizou seu uso foi o jovem James Dean representando os rebeldes sem causa no cinema e influenciando toda uma geração.



 As Super modelos (anos 1990).
Nos anos 1990, quando o desfile das passarelas alcançou o mesmo nível de combustão de um desfile de rock, a moda foi assimilada à cultura popular. Um grupo de modelos que passou a representar a fantasia glamorosa encarnada (as supermodelos) foi promovido por suas agências como personalidades e remunerado com valores nunca imaginados. O fenômeno centrou-se em torno de Linda Evangelista, Cindy Crawford, Claudia Schiffer e Noemi Campbell. Seu poder de venda era tal que elas eram requisitadas para endossar produtos como celebridades, apareciam em calendários como pinups e em filmes, livros, TV e vídeos sobre boa forma.



 A exposição do logotipo.
Perto do fim do século XX, a fixação de marcas tornou-se um exercício de extrema importância na moda, e auxiliado pelo estilo do hip hop, a ostentação passou a ser aprovada. Há uma tendência crescente e colecionável a logomania, com o uso de joias chamativas de ouro e diamantes. Passou-se a usar o logotipo para reafirmar o status da marca.



 As bolsas desejadas (it bags).
Nada definiu mais uma temporada de moda na virada do século XXI do que a bolsa do momento. Chamada de it bag por ser fotografada e vista no braço de todas as celebridades, significa não só o status atingido pelo preço, mas também que quem a usava estava por dentro da moda. A Birkin da Hermès foi criada em 1984, é feita a mão por artesãos tradicionais, custa aproximadamente 10 mil reais. O desejo de possuir bolsas de grifes é uma obsessão momentânea da maioria das mulheres, outras marcas são famosas e copiadas para quem não possui o calibre financeiro de compra-las como: Louis Vitton, Gucci, Prada, entre outras.


sábado, 3 de maio de 2014

MINHA COZINHA DE ORIGEM

Carne de Sol com queijo coalho.

            Esses dias fiz uma viagem gastronômica as minhas raízes nordestinas, sertanejas, maternais. Em especial ao carneiro guisado à moda da casa como se fazia na minha infância, a galinha que se criava no local e o cuscuz temperado com bastante coentro. Pensar esses alimentos me remete a geografia do lugar, clima, vegetação, relevo. Os costumes alimentares do meu povo demonstra os importantes fatos históricos que ficaram impregnados nas suas memórias e nas suas mesas de resistência aos tempos de escassez.


Buxada de carneiro. 

            Acho que a cozinha que sou originária é uma constante reinvenção dos significados culturais alimentares. Guardo hábitos na memória, ingredientes da terra, forma de elaboração dos pratos, condimentos que lhe dão sabor. Tenho impregnado em minhas imagens mãos femininas que se responsabilizavam pelo preparo dos alimentos.


cuscuz sertanejo. 

            A cozinha é para mim a exposição de todo um passado, das origens, porque ela comunica, identifica é memória. Gilberto Freyre entendia que o ato de comer, é um ato global porque se come com o corpo inteiro. Inicialmente come-se com os olhos, come-se com o olfato; come-se com o tato, come-se finalmente com a boca, com o prazer de um sentimento tão aguçado que já é sentimento. Simbolicamente, comendo-se a cultura, comendo-se a história, a civilização e, de certa maneira, come-se também o homem, uma metáfora antropofágica, pois come-se os valores e os significados plenos do que é oferecido em alimento e diria ainda, come-se a si próprio, como em contato quase litúrgico e profundo da intimidade do eu individual com o seu coletivo, a própria cultura.


Galinha Caipira. 

            A busca de rastros de minha identidade gastronômica me leva a uma cozinha regional, onde não se evidencia um prato específico como artífice do seu modo de ser, mas, deixa evidente o emprego de ingredientes básicos utilizados na sua preparação, que lhe dão o perfume e o sabor característicos. Para mim é um cozinha de resistência onde se transformava escassez em fartura.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

SELFIE: O EGOCENTRISMO COLETIVO


Esses dias estive pensando na moderna obsessão da maioria das pessoas em se fotografar freneticamente seja em espelhos de banheiros, academias, bares ou qualquer lugar que possa faze-lo. O tal do “selfie” é a febre do momento todos querem, todos fazem. Junte-se a isso, a mania que vem crescendo nos últimos anos a de fotografar as comidas, seja nos restaurantes ou em casa. Parece que comer ficou em segundo plano, deixe o prato esfriar, em primeiro lugar vem fotografar. Mesmo que seja um simples mexido de segunda feira a noite tem que ser imediatamente publicado em redes sociais como face book e instagram.


Mas a moda “selfie” (publicar em redes sociais fotos que a pessoa tira do próprio rosto), superou tudo até a mania que considero irritante de fotografar a comida. Hoje cada um com seu celular cheio de recursos tecnológicos dirige o filme da própria vida, onde cada um, logicamente é a estrela e protagonista. E tome pose blasé, olhares fatais, cabelos arrumados e biquinhos (ah o infame biquinho) sensuais, caras e bocas não faltam. O “selfie” não tem classe social, muito menos limites.



Me sinto num surto coletivo de egocentrismo e hedonismo. Parece que a maioria das pessoas não faz questão de companhia, já que o principal parceiro e companheiro é o telefone celular. No mais acho que estou velha já que me assusto com fotos publicadas em funerais, banheiros, hospitais, mesas de família e em outros lugares que a pouco tempo seriam inimagináveis.