domingo, 12 de janeiro de 2014

A ARTE DE MATISSE



Um dos grandes expoentes da arte moderna, o francês Henri Matisse (1869-1954), é um artista que pensa. Revendo textos seus dá para perceber que o seu pensamento ecoa na moda, na publicidade, no cinema e na arte feita e consumida no faminto mercado mundial nesse instante. Ele foi moderno como agora pode ser contemporâneo, escrever e publicar é parte essencial de sua trajetória.


            No drama da Arte Moderna, Picasso e Matisse ocupam o lugar do novo mas com características totalmente excludentes. Enquanto o pintor espanhol foi viril, libertário, radical e politicamente engajado, o francês evitou a política em sua arte, preservava um ideal de calma e reclusão no casamento, lutava para ser visto como um bom pai de família.


            Para Matisse a arte era uma calma influência na mente algo, como uma cadeira de balanço que relaxa do cansaço físico. Ele sentia-se atraído demais pela beleza e pela força espiritual das artes. E é por isso que gosto tanto do seu trabalho porque o desejo de tornar as coisas belas era mais forte do que todo o resto. Em Matisse o moderno pode ser bem comportado. Para um ambiente da ativa vanguarda, sua posição era no mínimo controversa.


            Matisse com sua delicada relação com as cores, jamais esteve distante do impacto, sua calma e tranquilidade foi criada a partir da fúria, uma guerra travada com as telas. As sensações que sua obra provocam são mais pelos tons do que pelas formas. Era sempre por meio da cor que ele organizava suas telas. Para ele não existia regras a serem estabelecidas,  e menos ainda receitas práticas, caso contrário, seria uma arte industrial.


            Entendo que para Matisse a arte é mesmo um estado de espírito. Basta apenas se deter com toda atenção em suas cores. Elas não contam uma história do passado. São uma perfeita representação do presente e uma mensagem enviada ao futuro. 

sábado, 11 de janeiro de 2014

DESCONSTRUÍNDO A FEIJOADA



            Dizer que feijoada é comida de escravos é puro folclore. Os historiadores comprovaram que na verdade, quem comia esse prato que é uma instituição nacional brasileira era a elite. A comida dos escravos consistia de feijão aguado coberto com farinha de mandioca, e quando tinham sorte levavam dentro um pedaço pequeno de carne seca.



            Quem trouxe para o Brasil o hábito de comer feijão com linguiça, orelha e pé de porco foram os colonizadores que vieram do norte de Portugal. Os cozidos são comuns na Europa desde a época dos romanos que já comiam carnes cozidas com legumes e feijão branco, mas tornaram-se mais populares com a invasão moura dos anos 700. Daí vieram também o cassoulet francês, que leva feijão branco, linguiça de porco e carne de pato.



            Quando chegaram ao Brasil, porém os portugueses encontraram feijão-preto, que aqui existia em fartura, pois é de origem sul-americana, e a troca foi feita com satisfação e vantagem, já que o feijão preto é mais saboroso. E assim nasceu a feijoada a brasileira. O mais antigo registro escrito do prato, é de um anúncio no Recife, no Diário de Pernambuco de 1833, no qual informa que o restaurante do Hotel Théâtre, servia feijoada as quintas feiras. Em 1849, o Jornal do Comércio do Rio de janeiro, anuncia que o Novo Café, serviria a bela feijoada a brasileira.



            No tempo do Império a feijoada era comida dos ricos, porque os miúdos eram considerados iguarias. Um recibo de um açougue na cidade de Petrópolis comprova a compra pela Casa Imperial de carne bovina fresca, porco, linguiça, chouriço, rins, língua, coração, pulmões e tripas.



            A feijoada que conhecemos hoje acompanhada de arroz, laranja, couve, farofa  e torresmos, foi criação do restaurante carioca G. Lobo, no final do século XIX. Era chamada de feijoada completa e a partir dali se expandiu para outras cidades e Estados brasileiros sempre tendo por base o feijão preto. O que varia um pouco são as carnes de acordo com as preferências de cada região. Prato brasileiríssimo e embaixador de nossa cultura nacional. 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

LEILA E CARLOTA



            Era uma velha cansada e generosa. Cansou. Já não saia de casa e quase não escutava e pouco comia. Diminuíra, encurvara e emagrecera era um pedaço de coisa velha e branca. Os filhos contrataram um enfermeira que cozinhava e limpava a pouca sujeira que fazia.



            A enfermeira tinha quarenta anos, era calma e boa. Não posso dizer que se davam bem, porque a velha já não notava o mundo ao seu redor, fosse uns anos atrás ela não suportaria o matraquear da máquina de costura da enfermeira, agora gostava, sentia o vibrar do som e isso lhe trazia lembranças. Viagens de trens antigas, sem histórias, mas com a sensação de está no banco estofado percebendo a claridade e o mundo ao seu redor. Carlota, velha professora de piano por mais de cinquenta anos, os sons sempre foram carregados de significados e sentimentos. Por mais que se esforçara numa tinha conseguido ser amiga de pessoas com a voz muito aguda ou arrastada. Ao ouvir os sons da rua sabia com precisão a temperatura e a humidade do dia. Modulação, timbre, altura e ritmo foram os seus instrumentos para entender o mundo.



            Leila era forte e negra, todos paravam espantados com o par que passeava nas ruas nas manhãs sem chuva. Para Leila esse contraste nada significava, Carlota no braço sólido e macio de quem se apoiava sabia ser lenta e silenciosa. No quarteirão pequeno sempre as mesmas árvores floridas eram notadas e nomeadas por Carlota. Com tempo ela cansou de falar e apenas parava e olhava demoradamente para cada uma das árvores com o mesmo espanto original e nostálgico.



            Os sonos ficaram compridos e a comida cada dia mais rala. No apartamento quando não estava dormindo, Carlota sentava-se em sua poltrona em frente a janela e ficava horas vendo o vento balançar a cortina de crepe branca. Leila não sabia mas aquele crepe acompanhava Carlota a muitos anos, na casa grande, na pequena e agora no apartamento. Carlota não prestara maior atenção, não era dada a afetos, o crepe veio junto porque veio, podia servir e acabou servindo em uma janela ou outra. Agora estava meio manchado e a luz do sol passava de maneiras diferentes em cada centímetro do pano.



            Carlota imaginava o som do vento do crepe. Pensava na associação feliz entre peso e maleabilidade que o crepe possui, deixando-se estofar para depois voar arrebitado. Refletia também sobre a estrutura atual do tecido, afinal, o pano tem uma história que fazia soar de um modo pessoal e único. Encontro com o sol, o vento e a água, de quantas lavagens já sofrera para começar tudo de novo de forma bem diferente.



            Leila sabia que a velhinha estava perto do fim, aceitava mais não conseguia imaginar que ela sofria. Não havia muito o que fazer mas esse pouco ela faria. Se a audição da velha não mais existia, Leila sabia que sua visão continuava boa ao se encantar com cada nova florada e ficava imaginando como ela poderia sofrer vendo aquela cortina velha. No dia seguinte comprou com seu próprio dinheiro uma nova e levou Carlota para ver, quando foi para cozinha pegar uma bandeja com um copo de  água para os remédios da tarde, ao voltar Carlota já não mais respirava. 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

AS MELHORES MÚSICAS DE CINEMA



            Ao longo da nossa história várias formas de arte incorporaram a música como elemento de expressão. Tirando partido do seu poder de sugestão, compositores procuraram, durante séculos, evocar ou simbolizar elementos da natureza. A música esteve presente em vários momentos da história, no teatro das feiras, das marionetes, no circo, na ópera, no balé, acompanhando a lanterna mágica e o melodrama. No cabaré e em inúmeras manifestações artísticas que tiraram partido do seu poder de sugestão e do seu potencial narrativo.



            No cinema a música sempre acompanhou o seu percurso, durante o período do cinema mudo, no início do século XX, era essencial para o acompanhamento dos filmes, o que muitas vezes era feito ao vivo pro músicos dentro das salas de cinema. Mesmo após o cinema falado, ela continuou a ser imprescindível para a composição de uma cena. Acho que o mundo é todo ritmo e é possível ao som corresponder ao mesmo tempo, o mundo objetivo e a percepção do homem desse mundo.



            Quando elaborei essa lista queria que fosse pequena e o principal critério para a escolha foram as minhas preferências pessoais, entendo que não foi quem escolheu, essas músicas, elas que me escolheram, por isso que não tive dificuldades na escolha, são músicas que trazem encanto e magia misturado as cenas de cinema, vejo e revejo inúmeras vezes, sempre com o espanto de uma nova descoberta. A imagem pode reter o temo, mas o som segue o ritmo variável das percepções do homem.


Singing and Rain (Cantando na Chuva)- Gene Kelly cantando e dançando essa música não tem preço, é o tipo de som capaz de causar a sensação de que tudo vai dá certo, que a vida é um grande sol que brilha e ilumina a alma. O amor aqui, é o maior passaporte para a felicidade. Cena inesquecível e memorável.


Over the Raibow (O Mágico de Oz)- para mim a melhor parte do filme é a interpretação de Judy Garland, interpretando essa canção, quando vejo essa cena penso num mundo imaginário, onde tudo que for sonhado será possível. Música triste e sentida, mas carregada de esperanças.


Flashdance...what a Feeling (Flashdance)- adoro essa música contagiante lembro que quando era criança em fins dos anos 1980, esse filme era presença garantida nas minhas tardes, dava vontade de dançar e de procurar ambientes descontraídos, música alegre que me remete ao melhor da infância.


As time Goes By (Casablanca)- Gosto de tudo nessa música, a escrita doce, os acordes, e as mudanças de execução de acordo com o enredo do filme. Para mim é tema de qualquer romance, assim como no filme, a música é capaz de emoldurar as mais doces lembranças.


Mrs. Robinson (A Primeira noite de um homem)- além de ser a cara da melhor comédia romântica de todos os tempos, essa música acompanha o dinamismo do filme. A música tem uma pegada folk que amo, é daquelas músicas atemporais que quanto mais se escuta, mais é possível gostar.


Moon River (Bonequinha de Luxo)- Uma das minhas cenas preferidas do filme é Hepburn na janela do seu apartamento, cantando e tocando essa música, confesso que quando vi a primeira vez fiquei surpresa. A música já foi composta pensando nas limitações vocais da atriz, seu jeito despretensioso de cantar me encantam sempre que vejo.


Cheeck to Cheeck (O Picolino)- Essa música foi engraçado, conheci a interpretação de Sinatra e já gostava, quando vi Fred Astaire cantando e dançando para Ginger Rogers entendi o quanto que a música poderia ficar muito melhor, sem sombra de dúvidas uma das melhores cenas do cinema de todos os tempos, expressando o melhor dos musicais e o encanto de toda uma época.