quarta-feira, 10 de abril de 2013

NIETZCHE, RELIGIOSIDADE E ENTORPECIMENTO





            Quando era aluna no Mestrado me divertia vendo um programa que passava na TV Cultura chamado Café Filosófico, através deste discuti um pouco mais sobre a filosofia de Nietzsche, suas indagações sobre o mundo e sobre a vida. Para ele o mundo é a única parte da realidade que é impossível de ser rejeitada. Suas indagações se fundamentam na crítica aos valores morais da sociedade que lhe é contemporânea. Ele acredita que os fundamentos da sociedade derivam de civilizações já inexistentes como a grega e a judaica.


            Um fato interessante é que para ele esses valores não teriam origem divina, mas na vontade de poder de cada um, embora reconhecesse que o homem necessita de valores religiosos, para enfrentar as dificuldades da vida, valores esses que originariam uma espécie de entorpecimento frente ao mundo real, ou seja, para se viver é preciso o entorpecimento seja ele religioso, ou etílico capaz de aliviar a dureza da vida.


            O bom de Nietzsche é que ele propõe um supremo desafio ético ao colocar a possibilidade de repensar esses valores morais da sociedade. Esse desafio seria marcado pelo individualismo e pela lei do mais forte, que acredito hoje não se adequar a nossa realidade contemporânea. Mas, esse individualismo que o filósofo prega é o que mais me chama atenção em sua obra, essa filosofia da solidão, onde a tradição exige exacerbadamente do homem, que não tem mais a quem apelar, já que para ele os deuses estão mortos.


            Sua filosofia ainda é atual no sentido que vê a vida como expressão artística como um permanente campo de experimentação sem pré determinação e constantemente aberto à criação. Além da importante contribuição de introduzir na filosofia moderna os conceitos de sentido e de valor. Por tudo isso vale muito reler, pensar e discutir com base no pensamento de Nietzsche. 

sábado, 6 de abril de 2013

SOBRE A REPÚBLICA




            Quando criança vivi numa família que assumia cargos políticos em minha cidade, cresci ouvindo meu pai dizer que fazer política era servir ao bem comum, achava aquilo tão bonito que me fascinava sobremaneira, quando descobri que vivia num regime chamado República fiquei orgulhosa em saber que  significava o governo de todos e estava relacionada a coisa pública.


            Com o tempo vi que existia uma discrepância entre os fundamentos teóricos e a prática, principalmente no Brasil, onde a República foi instaurada através de um golpe defendendo interesses de poucos e não do povo propriamente dito. Mas a virtude republicana corresponde ao meu ideal político. Cada vida encarna a dignidade  da pessoa humana que se encontra acima de tudo e de todos os outros interesses.


            Qualquer prática que defenda interesses particulares degenera o ideal republicano. A pessoa humana livre, criadora e sensível é quem detém o poder de escolha dos sistemas, mas efetivamente na prática as massas continuam arrastadas por uma dança infernal de imbecilidade e embrutecimento. Mas creio profundamente na humanidade. Sei que o câncer que corrói os interesses públicos colocando-os abaixo dos particulares há muito deveria ter sido extirpado.


            E quem são os culpados? Na atualidade são vários: sistema de ensino, imprensa, mundo dos negócios, mundo político. Tenho forte amor pela justiça e pelo compromisso social e cada vez mais o cenário de nossa era é difícil em tempos em que a humanidade se apaixona por finalidades irrisórias que têm por nome a riqueza, a glória e o luxo. 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

LEMBRANÇAS




            Um dia li que não sabemos o tamanho do nosso inconsciente, acrescento a essa máxima uma tentativa de parafrasear Clarice Lispector, quando esta diz que “não sabemos ao certo qual o nosso defeito cortar, pois pode ser que ao cortar qualquer um  todo o nosso edifício venha a cair. Digo isso porque não sabemos ao certo qual lembrança devemos cortar para segurar o nosso edifício inteiro. É certo que o homem é o único animal capaz de expressar emoções através das lembranças, ao que parece as melhores são sempre aquelas que nos remetem a infância e aos momentos de amadurecimento psíquico.


            Essas lembranças da infância ficam armazenadas em nossa memória de longo prazo, e desperta um fenômeno de sensações como algo já conhecido, já vivido que os franceses chamam de déjá vú. Essa capacidade de guardar parte do passado, salvando-o da perda total é o elo capaz de provocar reflexões sobre o que fomos, o que fizemos e qual o projeto que queremos para o nosso futuro.


            Penso que essas lembranças são a garantia de nossa própria identidade, é a representação do nosso EU, é quem realmente somos. A grande capacidade que a memória tem de armazenar acontecimentos, pode também assustar, pois como dizia Santo Agostinho temos medo de esquecer o que de mal vivemos, mas igualmente temos medo de não lembrar a felicidade vivida. Assim vejo que o bom da vida é que somos essa mistura entre presente, passado e futuro e as lembranças são as nossas luzes que se projetam sobre nós mesmos, daí somos hoje o resultado daquilo que fomos nos passado, assim como, do nosso futuro depende integralmente o que fazemos com o nosso presente. 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

IMPRESSÕES DO CARNAVAL ANTIGO EM VÍDEOS DO YOU TUBE



            Ontem vendo na televisão, o desfile das escolas de samba carioca, vi que vivemos em tempos de alegria, plastificada, onde cada um deseja se mostrar e o ideal é ver e ser visto. Revi uns vídeos do You tube e tirei algumas impressões da festa popular. Primeiro: Qual a origem do carnaval brasileiro? A festa é descendente do entrudo português, uma festa pagã europeia que chegou ao país com os colonizadores, era realizada entre famílias amigas e pessoas conhecidas, só ganhando as ruas mais tarde. O entrudo acontecia num período anterior a quaresma e tinha o significado de liberdade, esse sentido permanece atualmente. A festa chegou a ser proibida e aos poucos foi incorporando elementos como confetes, serpentinas e limões de cheiro, cheios de água perfumada.


            O entrudo foi influenciado por festas carnavalescas da França e da Itália onde se usavam máscaras e fantasias. Personagens como: a colombina, o pierrô e o rei momo foram incorporados ao carnaval brasileiro, embora sejam de origem européia.


            No Brasil no final do século XIX começaram a aparecer os blocos carnavalescos, cordões e os famosos corsos. Em 1890 Chiquinha Gonzaga compôs a primeira marcha especialmente carnavalesca, o Abre Alas, para o bloco rosas de ouro no Rio de Janeiro. O crescimento do carnaval se deve em grande parte, as marchinhas carnavalescas, músicas como Taí na voz da cantora Carmen Miranda, se espalharam pelo país e se incorporaram a iconografia nacional.


            O corso foi a grande sensação do carnaval carioca no Rio de Janeiro no início do século XX, tratava-se de uma tentativa de reproduzir os carnavais mais sofisticados do fim do século XIX na Europa, como as batalhas de flores em Nice no sul da França. No Brasil, eram desfiles de carruagens, depois carros abertos, onde as pessoas se encontravam e lançavam entre si confetes, serpentinas e lança perfume. O corso acontecia na zona sul entre pessoas mais abastadas que possuíam carros, ou tinham dinheiro para alugar.


            Vejo que nos desfiles das escolas de samba as fantasias perdiam em cores para as de hoje, mas ganhava em samba e quem desfilava eram aqueles que moravam perto das escolas. Nos anos 1920 e 1930, de acordo com as imagens, tenho a impressão que o carnaval  tinha um toque de inocência, seja nas crianças nos bailes infantis, as fantasias dos blocos ou a picardia brasileira na letra das famosas marchinhas. E assim se brincava o carnaval, sassarindo e levando a vida num arame.