domingo, 10 de fevereiro de 2013

O BRASIL NÃO SUPEROU A CASA GRANDE E SENZALA




            Em uma das férias da faculdade li Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre e minha professora orientadora me estimulou a apresentar um trabalho sobre o cotidiano de senhoras, sinhazinhas e escravas descritas na magistral obra, digo sem nenhuma dúvida que esse primeiro trabalho acadêmico, foi responsável por influenciar minha visão sobre o servilismo à brasileira. Na segunda metade de janeiro desse ano a OIT (Organização Mundial do Trabalho), divulgou uma pesquisa que aponta o Brasil como o país com o maior número de serviçais, (empregados domésticos), pessoas que cuidam de outras e realizam trabalhos que vão de passear com o cachorro, estacionar o carro ou fazer compras em shoppings centers.


            Os números mostram que de cada 6 mulheres que trabalham no país 1 é doméstica, e que a grande maioria é de mulheres entre 25 e 45 anos, pretas ou pardas, além de registros de maus tratos físicos e psicológicos. Isso mostra os resquícios perversos de nossa escravidão, e da cultura construída no Brasil de que trabalho braçal é coisa de preto. Sergio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, atribui essa tendência da exploração do trabalho braçal do outro, a nossa colonização portuguesa, onde mostra os portugueses como aventureiros, em busca de resultados fáceis, diferentemente dos ingleses que não teriam dificuldades em realizar esse tipo de trabalho.


            Essa cultura de se cercar de serviçais para realizar as tarefas mais comezinhas, só se sustenta pela colossal desigualdade que vive o Brasil, ainda não superada, embora amenizada pelos programas de transferência de renda do Governo Federal. Fico pensando qual o sentido de se ter um cachorro, e pagar alguém para andar com ele, ou mesmo cuidar de coisas pessoais, empurrar o carrinho de supermercado ou cuidar do filho em tempo integral, pois é no Brasil funciona assim, trabalho braçal é coisa a ser realizada por essa imensa casta de serviçais.


            Acredito que os mais ricos do país deve aprender a ver o outros como iguais, e romper a barreira de andar com a babá imaculadamente vestida de branco empurrando o carrinho do bebe e esperando de pé em restaurantes e shoppings centers enquanto os patrões fazem refeição. A ideia é superar esses hábitos da cultura brasileira do exibicionismo mimado e da vulgaridade melindrada e ver que cada um pode cuidar de seus próprios prazeres, caprichos, desejos e deveres. O limite para o trabalho do outro é a dignidade humana. 

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O QUE GILDA AINDA TEM A NOS DIZER




            Gilda (1946) é um desses filmes que se sabe quase tudo, mas nunca se vê, lembro que cresci vendo a imagem enigmática na velha Enciclopédia Britânica, daquele mulher de cabelos esvoaçantes num vestido preto de alta costura, uma luva numa mão e na outra um cigarro, com o título “nunca houve uma mulher como ela”. Essa semana, muito tempo depois comprei o filme e vi que o título do passado realmente faz jus a essa máxima e a toda a mitologia que se criou em torno da personagem.


            Antes de qualquer coisa é preciso pensar na Hollywood dos anos 1940, período que o cinema americano, viveu uma época imensamente lucrativa. O filme se passa em Buenos Aires na Argentina, mas nada da cidade é mostrada, o cassino é o cenário principal. A amizade entre os dois homens Johnny Farrell um aventureiro americano que vive na Argentina em busca de fortuna e torna-se o homem de confiança do dono do casino, Mudson, que no filme aparece com um ar meio lunático, é a base do enredo. Mudson aparece casado com Gilda, e logo de início dá para perceber que ela e Farrell já viveram algo no passado, Gilda faz de tudo para destruir a amizade dos dois, e o que achei mais intrigante é como a trama força sempre os dois a permanecerem juntos e essa tentativa forçada é banal e sem sentido.  


            O filme é cheio de estereótipos típicos da sociedade moralista da época, Gilda sai com homens, mas isso não há problema contado com que Mudson, o esposo não saiba. Apanha de Farrell o novo marido, após se pensar que o primeiro tinha morrido, e ainda assim se sugere que ela não traiu ambos. Além da dubiedade embora sutil, da relação entre os dois personagens masculinos. Além da fumaça constante dos cigarros que em várias cenas.


            Mas o forte do filme é mesmo a figura de Rita Hayworth, na época com 28 anos, sua sensualidade é explícita e antes dela no cinema nunca tinha aparecido uma mulher capaz de ser o eixo central do filme e prender as plateias do início ao fim. Fiquei meio sufocada com os cenários fechados e claustrofóbicos do filme, nem uma cena se passa a luz do dia. Mas vale a pena a fotografia de cunho noir, os cenários art decó e sobretudo o número em que Gilda canta e dança Put the Blame a Meme. 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O MISTÉRIO DO TEMPO




            A coisa mais enigmática que existe é o tempo ele acaba com tudo, desde as árvores, as construções, passando por bichos e humanos, mas o pior é que acaba sobretudo, com os sentimentos. Fico pensando que aquela união entre duas pessoas que teve um fundamento tão apaixonado, simplesmente evaporou-se nada restou.


            As vezes, me entristeço quando vejo a vida de pessoas muito próximas e o que o tempo é capaz de fazer. Ele acaba com o vigor físico, o interesse em conhecer novas gastronomias ou em viajar, em encontrar um encontrar um amigo ou simplesmente, em dá cor a vida, é o tempo pode ser bem cruel.


             Existem aqueles que se salvam do tempo? Acho que os que vivem intensamente os momentos presentes e que não pensam no futuro, mas nem esses conseguem se livrar dos efeitos do tempo, quando se apercebem esses estão aí postos para todos indistintamente. Um fato curioso é que quando se está muito feliz, temos a sensação de que o tempo voa, e quando se está triste que demora uma eternidade.



            Mas o tempo é também um grande aliado, quando se perde um grande amor, não há nada que ajude só o tempo e este é capaz de tornar aquela dor tão sofrida em apenas uma leve mancha na memória da vida.


            Considerando esses mistérios do tempo acho que não deveríamos perder um só instante da vida nos aborrecendo, principalmente com coisas banais, ou criando problemas e necessidades que são impossíveis de ser resolvidas. Para que perder tempo provando que se tem razão, mesmo que se tenha. Quando se vê aquele momento que poderia ter sido aproveitado para sorrir, foi usado para se aborrecer, e quando se percebe já passou e quanto a isso, ninguém pode fazer nada. 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

CARMEM MIRANDA E O BRASIL





            Descobri o quanto que eu gosto do Brasil quando tive a oportunidade de morar fora e vi que era inconcebível morar em outro lugar. Dentre as coisas daqui a música, a letra, as cores, os ritmos e as alegrias são peculiares. Quando criança via meu pai e minhas tias cantando os sambas de Carmen Miranda, e suas músicas me remetem ao melhor da vida, a infância.



            Carmen Miranda nasceu no início do século XX, entre 1930, quando despontou para o sucesso com a música Taí, a 1939 se moldou como estrela e foi a maior: no rádio, cinema, palcos e casinos do Brasil. Digo sem nenhuma dúvida que até então, nenhuma outra mulher foi tão famosa, querida pelo público, disputada pela imprensa e desejada pelos homens, quando ela.


            Carmen mostrou que o Brasil era uma terra de pessoas alegres, sua alegria segundo Ruy Castro, seu biógrafo mais proeminente, contagiava à todos, o samba cantado por ela, moldou a nossa identidade e o carnaval de rua, que Carmen tanto gostava, com seus blocos e fantasias, a nossa festa por excelência. Sambas como : Tico Tico no Fubá; O que que a baiana tem; Mamãe eu quero;  camisa listada lembram o Brasil em qualquer lugar do mundo onde forem tocados.


            Quando foi para os Estados Unidos aos 30 anos já era uma fenômeno e já tinha identidade própria e originalidade, basta ver suas roupas de palco, com a indefectível baiana. Em Nova York o mercado mais disputado do mundo, levou pouquíssimo tempo para conquistar os americanos, da moda a companhia todos queriam vê-la e ouvi-la. Com o cinema, seu nome alcançou dimensão mundial.


            Seu personagem mais notável é a baiana e através dela o mundo descobriu o Brasil, se fez diva e estrela num espaço em que os latinos são discriminados, teve a perspicácia de cantar o povo e as coisas de sua terra, afora o que fez para o mercado comercial, veio ao mundo para trazer alegria e cantar o Brasil, como nos versos da canção de Ari Barroso: O Brasil do meu amor, terra de nosso senhor; Brasil pra mim, Brasil...