Em uma das férias da faculdade li Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre
e minha professora orientadora me estimulou a apresentar um trabalho sobre o
cotidiano de senhoras, sinhazinhas e escravas descritas na magistral obra, digo
sem nenhuma dúvida que esse primeiro trabalho acadêmico, foi responsável por
influenciar minha visão sobre o servilismo à brasileira. Na segunda metade de
janeiro desse ano a OIT (Organização Mundial do Trabalho), divulgou uma pesquisa
que aponta o Brasil como o país com o maior número de serviçais, (empregados
domésticos), pessoas que cuidam de outras e realizam trabalhos que vão de
passear com o cachorro, estacionar o carro ou fazer compras em shoppings
centers.
Os números mostram que de cada 6
mulheres que trabalham no país 1 é doméstica, e que a grande maioria é de
mulheres entre 25 e 45 anos, pretas ou pardas, além de registros de maus tratos
físicos e psicológicos. Isso mostra os resquícios perversos de nossa
escravidão, e da cultura construída no Brasil de que trabalho braçal é coisa de
preto. Sergio Buarque de Holanda em Raízes
do Brasil, atribui essa tendência da exploração do trabalho braçal do outro,
a nossa colonização portuguesa, onde mostra os portugueses como aventureiros,
em busca de resultados fáceis, diferentemente dos ingleses que não teriam
dificuldades em realizar esse tipo de trabalho.
Essa cultura de se cercar de
serviçais para realizar as tarefas mais comezinhas, só se sustenta pela
colossal desigualdade que vive o Brasil, ainda não superada, embora amenizada
pelos programas de transferência de renda do Governo Federal. Fico pensando
qual o sentido de se ter um cachorro, e pagar alguém para andar com ele, ou
mesmo cuidar de coisas pessoais, empurrar o carrinho de supermercado ou cuidar
do filho em tempo integral, pois é no Brasil funciona assim, trabalho braçal é
coisa a ser realizada por essa imensa casta de serviçais.
Acredito que os mais ricos do país
deve aprender a ver o outros como iguais, e romper a barreira de andar com a
babá imaculadamente vestida de branco empurrando o carrinho do bebe e esperando
de pé em restaurantes e shoppings centers enquanto os patrões fazem refeição. A
ideia é superar esses hábitos da cultura brasileira do exibicionismo mimado e
da vulgaridade melindrada e ver que cada um pode cuidar de seus próprios
prazeres, caprichos, desejos e deveres. O limite para o trabalho do outro é a
dignidade humana.