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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

ROMANCE DA PEDRA DO REINO DE ARIANO SUASSUNA



            Sempre li que Romance da Pedra do Reino era a obra magistral do paraibano Ariano Suassuna, trata-se de uma produção quase épica sobre o sertão e o nordeste brasileiro que só é possível conhecer a sua dimensão após a leitura. O Auto da Compadecida é a sua obra mais conhecida e está marcada pelo assassinato do seu pai em 1930, então governador do Estado da Paraíba.


            Romance da Pedra do Reino, é uma obra extensa com mais de 700 páginas, complexa, híbrida que não cabe em classificações limitadoras. Para Suassuna, essa obra é um romance picaresco. Ao longo da narrativa há epopeia, poesia, romance de cavalaria, e mais outras formas que indicam lembrança tradição e vivência que sinaliza uma integração do popular ao erudito, com toque pessoal de originalidade e improvisação.


            Me arrisco a dizer que se trata da nossa epopeia épica, sertaneja, mestiça, criada por um escritor nordestino. Uma projeção profética e simbólica do futuro do tempo de agora, a expectativa messiânica de redenção dos mais pobres. A historia é contada pelo cronista-fidalgo-Rapsodo-Acadêmico e poeta escrivão Dom Pedro Diniz Ferreira Quaderna, ilustre descendente de Dom João Ferreira Quaderna, ou Dom João o execrável. Semelhante a uma narrativa policial, pelo tom do crime e o tom de mistério, o romance epopeia é formado por cinco livros, dividido em folhetos, que mostra como o protagonista foi parar na prisão.


            O protagonista é um herói que após perder a integridade afasta-se dos outros para então viver uma série de aventuras e, assim, lutar para rever sua identidade. O enredo mistura a realidade do mágico e leva ao Nordeste, um espírito medieval, explícito no domínio da piedade, nas santas que aparecem para interceder, nas entidades que veem assassinatos em tocaias e se tornam outros personagens.


            Assisti uma palestra de Ariano Suassuna aqui na cidade que moro, a algum tempo, sua postura é de alguém comprometido com a cultura nacional, tanto que fundou no Recife, em 1970, o movimento Armorial, cuja proposta era realizar uma arte brasileira erudita com base em raízes populares e da cultura do país. Muito desse princípio está implícito em Pedra do Reino onde há uma notável intertextualidade com autores da literatura local e elementos característicos regionais, perceptíveis inclusive nos seus aspectos linguísticos.


            Livro indispensável para nos aproximar da busca de uma cultura que seja nossa, autentica, que dê sentido aos nossos costumes enquanto povo pertencentes a nação brasileira e sobretudo, nordestina. Grande Ariano Suassuna!
            

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O NOME DA ROSA DE UMBERTO ECO



            O Nome da Rosa de Umberto Eco foi o romance em que ele ficou conhecido do grande público, é uma obra de grandes dimensões com a pluralização de discursos das áreas de história, sociologia, teologia, ciência política, filosofia, semiótica e crítica literária. É um livro longo com mais de 600 páginas e tem um caráter meio detetivesco, contextualizado em um mosteiro beneditino da Itália, em 1327, durante a leitura fiz um mergulho temporal entre os anos 1316 a 1327, quando o Papa era João XXII.


            A história é montada de forma magistral, sete mortes misteriosas ocorrem ocorrerem e todas elas ligadas a existência ou não de um livro de Aristóteles sobre a Comédia. Eco critica impiedosamente questões que os teólogos medievais trocavam entre si, se Jesus Cristo sorriu em alguma vez da sua vida. Para os teólogos tal comportamento era inconcebível com a gravidade da missão do filho de Deus. Para investigar as mortes um investigador religioso com grande poder de indução é chamado Frei Guilherme que relaciona as mortes ao dito livro que estaria oculto em uma das partes de uma complexa biblioteca.


            A obra suscita uma reflexão já proposta pela Idade Média, sobre a consciência semiótica de que todos os signos mudam ao longo do tempo. Assim, a codificação e a decodificação dos signos aparecem por meio de debates entre os personagens. E nos permite refletir sobre o conceito de língua enquanto contrato social, além de permitir longas digressões com as ampliações dos conceitos de imaginário e fantástico de realismo e história.


            Há obra explora arquétipos que subvertem nossos aspectos habituais como: a biblioteca como labirinto que encaminha o homem para dentro de si mesmo, para o seu inconsciente. Outro arquétipo explorado na obra é o da rosa, que na iconografia cristã representa a taça a qual recolhe o sangue de Cristo. A obra é atraente não só pelos arquétipos, mas pela aventura detetivesca como a morte, o risco e elementos do bestiário medieval.


            É uma obra densa, porém imensamente agradável, capaz de suscitar discussões consistentes pela mistura auto-reflexiva e ideológica, permitindo justamente aquilo que costumamos separar no pensamento humanista. Ao ler O Nome da Rosa, aprendi que a linguagem pode ter muitos usos e abusos. As coisas importantes estão além da palavra, mais ainda são intensamente reais, e até mais reais por não serem articuladas e nomeadas. O mais significativo para mim que sou fascinada por história, é que o historiador pode escrever em conjunto com outro e entre si.


            O romance me permitiu rever meus conceitos prévios e por consequência ampliar minha visão de mundo. Leitura que além de entreter enriqueceu as bases da formação dos meus conceitos de mundo. Livro essencial em minha estante e em minha vida.