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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

PALAVRAS NO VENTO



Meu pai me deu ao mundo  sem ter mais o que me dá
Me ensinou a jogar palavra no vento para ela voar
Dizia: filha palavra tem que saber como usar
Aquilo é que nem remédio cura, mas pode matar


Cuide de pedir licença antes de palavrear ao dono da fala
Que é quem pode transformar o que você diz em flecha que chispa no ar
Quando o tempo for de guerra e você for guerrear, use pétalas de rosa se o tempo for de amar. 
Palavra é que nem veneno mata ou pode curar. 



Diga sempre o cuidado que se deve dedicar as forças da natureza: o bicho, a planta, o mar;
Palavra foi feita para se gastar, acaba uma, vem outra que voa no seu lugar.
Palavra é que nem veneno mata ou pode curar.



Ainda ontem lá em casa quando cozia o jantar lembrei da voz do meu pai que o vento trouxe a vagar, dos casos de outras eras que desandava a contar.
Gostava de ouvir sua voz, com mundos a inventar, minha cabeça rodava de tudo que ia contar e ainda hoje, quando para me sustentar, palavras no vento eu continuo a jogar.




domingo, 16 de setembro de 2012

POESIA DE FERNANDO PESSOA






Hoje é domingo e nesse momento ouvindo músicas de meditação que ganhei de uma amiga tive uma vontade imensa de postar uma poesia do mestre Fernando Pessoa que tanto gosto.



NÃO SEI QUANTAS ALMAS EU TENHO

Não sei quantas almas eu tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho eu desejo.
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “fui eu?”
Deus sabe porque escreveu.