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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

OS MELHORES SAMBAS DE NOEL ROSA


            O samba é a expressão mais autêntica da música brasileira, minha primeira lembrança musical são os sambas da década de 1930 que meu pai cantava. Selecionei quatro dos mais especiais do Noel Rosa (1910-1937), são sambas híbridos que misturam refrão de marchinhas carnavalescas e ginga do samba.


Com que roupa (1930) na interpretação do próprio Noel- samba sincopado, com ritmo que lembra exatamente o modo de perguntar com que roupa? Foi o primeiro sucesso de Noel, dizem que a origem do samba foi o fato de sua mãe ter escondido suas roupas quando ele ia para a boemia. Gosto de sua interpretação porque parece mais longa, além de dá a impressão que o próprio Noel está me repassando um recado.



Até Amanhã (1932) na interpretação de João Petra de Barros- acho um samba triste dos mais belos que a despedida já inspirou. Tanto a letra quanto a melodia transmitem dor e vibração. Como o melhor da música a despedida pode também ser alegre e contagiante afinal, o abandono é provisório “até amanhã se Deus quiser”...


Fita Amarela (1932) na interpretação de Mário Reis- Noel queria dizer que há alegria no samba e alegria na morte desde que ambos se integrassem na cerimonia fúnebre. Gosto da ideia que a morte poderia ser celebrada nos dias de carnaval como qualquer outro acontecimento cotidiano.



Palpite Infeliz (1935) na interpretação de Aracy de Almeida- segundo os historiadores Noel usou dessa música para desqualificar seu colega Wilson Batista que ousou falar mal da Vila Isabel. O que mais gosto na canção é a sua atriz entoativa vinculada a fala, além da ideia que seu destinatário foi reduzido a zero.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

PORQUE GOSTO DO NOEL ROSA




Não sou contemporânea nas minhas preferências em relação à música e a outros temas relacionados à arte. Da música brasileira tenho um interesse especial pela música dos anos 1930, que para mim foi à geração responsável definitivamente pela introdução do Modernismo na nossa música rompendo com músicas de estilo parnasiano que existiam anteriormente. E a obra de Noel é uma prova disso ao fazer um novo estilo, construindo letras críticas, nacionalistas e irônicas. Ele vai abraçar o samba e executa-lo entre os anos 1929 até perto de sua morte em 1937.



Como um arguto observador da cidade onde morou, analisa as máximas da civilização e as ironiza. Como um típico cronista traz para o texto a simplicidade e brevidade, o cotidiano dos cariocas seus hábitos e problemas. Trata a cidade do Rio de Janeiro de forma íntima e familiar.  Na música conversa de botequim, percebe-se uma crônica perfeita de um bar e alguns costumes dos anos 1930 e 1920.

Seu garçom faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol.




                O somatório de quase 300 músicas onde pontos se interligam e dão unidade ao conjunto constituem uma obra de grande envergadura. O samba ocupa lugar central no seu trabalho, onde ele usou toda a sua bossa, ajudando a dar formato quando define primeira, segunda, terceira parte e refrão.  Como em Com que Roupa eu vou: em que aparece o refrão.

Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?





            A obra de Noel se situa dentro de uma visão antropocêntrica fazendo emergir o discurso do outro na sua produção. Outra questão importante é o forte sentido nacionalista do seu trabalho, em que empreendia críticas ao estrangeirismo como podemos ver na música, Tarzan: o filho do alfaiate. Quando o filme do Tarzan chegou ao cinema os rapazes procuraram as academias em busca de músculos e o samba é uma crítica a isso.

Quem foi que disse que eu era forte?
Nunca pratiquei esporte, nem conheço futebol...
O meu parceiro sempre foi o travesseiro
E eu passo o ano inteiro sem ver um raio de sol
A minha força bruta reside
Em um clássico cabide, já cansado de sofrer
Minha armadura é de casimira dura
Que me dá musculatura, mas que pesa e faz doer.





             Outra coisa que gosto, e me identifico, é o romantismo de Noel, porque, este não apresenta grandes sofrimentos, sentimentalismos, ornamentações nem choros, a sua sensação de mal estar do mundo é fluídica e poética como nesse trecho da antológica o Último Desejo:

Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violão (..)
            Noel é um cronista diferente que vem construir a história com o que sobrou do dia a dia. Produziu músicas de valor considerável e viveu delas, projetando seu nome para o mercado através do rádio. A música se constitui como porta voz, dos novos tempos, desse novo mundo imediatista que situa novos valores e perspectivas. Seus versos eternizam coisas e personagens do dia a dia. Como um cineasta ele vai juntando os cacos da “vida como ela é” como disse Nelson Rodrigues.


            O mais interessante de tudo isso é que a obra de Noel serve de paradigma para à música brasileira, vai atravessando décadas e influenciado compositores. Inegavelmente ele foi responsável por transformar o samba em gênero musical de primeira grandeza. Tratou os cariocas de forma tão íntima que foi capaz de contribuir substancialmente para a criação da imagem que temos deles no nosso imaginário coletivo.