Na história
da arte a palavra gênio se aplica a pouquíssimos criadores. Da Vinci, Picasso,
Michelangelo. Dentre esse grupo existe um ainda mais seleto o dos visionários, que
figuram Giotto de Bondone (1267-1337) e o francês Michel Duchamp (1887-1968).
Giotto é responsável pelas noções de perspectiva e tridimensionalidade que
moldaram a escola renascentista e a produção dos séculos seguintes. Por
muito tempo artistas hesitaram antes de obedecer aos princípios do mestre
italiano ou em desafia-los. Até que surgiu Michel Duchamp.
A revolução
perpetrada pelo francês é mais difícil de ser definida por causa de sua
complexidade e da maneira anárquica com que ele mudou tudo na esfera artística.
O conceito que orientou seu trabalho, no entanto, é bastante claro. Com Duchamp
nasceu a ideia de que uma obra só está completa quando ela se soma a
interpretação do outro, no caso o expectador. Ele não se contentava com a arte
que se apura simplesmente com a visão, estimulava uma verdadeira troca intelectual
com o admirador de suas peças.
A arte de
Duchamp é desprovida de qualquer sentido heroico. Ele não desejava levar arte
as massas nem beleza ao cotidiano. Estava interessado em pensar, e em pensar em
companhia. Ao tirar um objeto comum do seu contexto usual e elevá-lo a
categoria de arte ele anunciava ao mundo que a habilidade manual do artista já
não basta para definir uma obra. Instalar uma roda de bicicleta sob um banco
era o jeito que tinha de fazer com que o espectador deixasse de vê-la como roda
de bicicleta e passasse a admirar os seus contornos. A escolha do objeto
deveria partir do artista e isso ganhava valor.
Em 1913 em
seu estúdio em Paris, nasceram os primeiros ready-made
da história, exatamente A Roda e o Porta Garrafas. Dois anos depois ele se
mudou para Nova York conseguindo sair do anonimato e tendo uma vida pessoal
movimentada. A história é ilustrativa do quanto que Duchamp era avançado para a
sua época ele integrava a Sociedade dos Artistas Independentes, que tinha como
objetivo organizar exposições sem jurados ou premiações. Acredito
particularmente que ele foi muito mais radical do que Picasso ou Matisse, pela
sua grande capacidade visionária. O simbolismo de suas produções são hoje
marcas indeléveis da nossa contemporaneidade.
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