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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

NIILISMO E JEITINHO BRASILEIRO





            O niilismo é um movimento filosófico que nos revela a ausência de fundamentos, verdades, critérios absoluto e universal e nos convoca diante de nossa própria liberdade e responsabilidade. Nietzsche descreve o niilismo europeu como sendo o mais estranho de todos os hóspedes em uma passagem dos seus famosos textos Vontade de Poder, pensando nisso, fico pensando: Existe um niilismo especificamente brasileiro?


            Quando Nietzsche fala do niilismo europeu ele assume em sua afirmação o ponto de vista de um migrante, alguém que está junto, mas que é possível olhar de fora. Descrevendo o niilismo europeu como a experiência histórica de esvaziamento de categorias tais como: verdade, propósito, sentido, gerando então uma crise de desorientação e insegurança. Um dos sintomas dessa crise é a atitude de desprezo pelo corpo e os prazeres. Sob essa ótica, não há nada menos niilista do que a cultura brasileira, já que aqui impera o culto ao corpo e a sua saúde aparente. Mas na verdade o hedonismo parece ser uma tendência comum na maioria das sociedades contemporâneas.


            Afinal existirá alguma manifestação específica de niilismo brasileiro? Acho que temos algumas expressões como na separação entre o que é cultura de massa e cultura de elite; a primeira manipulada pela elite, a segunda inacessível as massas. Um outro ponto é a relação ambígua do brasileiro com a natureza, entre a fascinação deslumbrante e a fúria exploratória. E principalmente, a tendência brasileira de preferir não se comprometer, do tipo eu não to fazendo nada.


            A filosofia existencialista costuma distinguir entre a atitude autêntica da atitude inautêntica daquele que delega inconscientemente a responsabilidade de suas opções para os outros. O que os existencialistas não previram foi o chamado jeitinho brasileiro: a escolha intencional da não-escolha, da inautenticidade, do cinismo. Os brasileiros diferente dos europeus que ao que parecem só sabem jogar para ganhar muito ou pouco, assumem uma nova modalidade, mudar as regras do jogo, uma metáfora inusitada presente no carnaval, no futebol e sobretudo na nossa política.


            O Brasil é uma utopia não no sentido de lugar inatingível, mas de um fora de lugar, um lugar não determinado, mas cheio de possibilidades. Em questionários aplicados por estudiosos da área das ciências sociais encontrou-se como resultado que somos o país do jeitinho identificado em três dimensões: a criatividade, a corrupção e a quebra de normas sociais. Ao que parece nossa grande dificuldade está em conseguir separar as relações pessoais das relações que necessariamente exigem impessoalidade e isso não deixa de ser uma forma de niilismo.