quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A BOA MÚSICA DO CLUBE DA ESQUINA



Clube da Esquina é um disco lançado em 1971 por Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes e Toninho Horta. É um disco de profunda musicalidade, com: música instrumental; regionalismo; latinidade; religiosidade; rock; jazz; arranjos bem definidos e a música brasileira das décadas anteriores. Gosto do disco porque ao ouvi-lo me remeto de imediato o clima de serenatas e rodas de violão, soa despojado.



É uma obra que busca superar o óbvio o que se toca recebe influencias de Clementina de Jesus a Beatles. Ouvindo as músicas é inevitável não lembrar das tradições populares e das festas de rua do interior de Minas Gerais. A influencia da Bossa Nova no Grupo, completa no que vou chamar aqui de hibridização cultural, em que valores relativos a cultura de elite, convivem com práticas ligadas aos meios populares e a cultura massiva.



É um música despretensiosa, que não tem a intenção de ser vanguardista, nem popularesca, é feita para o homem da cidade em si, o homem moderno, por isso,  mais de quarenta anos de lançamento ainda se encontra uma certa dificuldade em classificar o disco dentro de um padrão musical. Acho essas classificações antes de qualquer coisa, mercadológicas.



Suas músicas mostram um mundo próprio, capaz de ser cantado e alcançado como nos versos: Eu já estou com o pé nessa Estrada/
Qualquer dia a gente se vê/
Sei que nada será como antes, amanhã/ Que notícias me dão dos amigos/
Que notícias me dão de você/ 
Sei que nada será como está/ Amanhã ou depois de amanhã/ Resistindo na boca da noite um gosto de sol.



Lançado num momento político em que o Brasil vivia os horrores da Ditadura Militar, o disco com suas músicas e seu lirismo doce, exala perfume no jardim seco que o Brasil vivia. O disco é a expressão da música que soube conviver com seu tempo, seus medos, angústias, derrotas, mas que não desistiu. Ouvindo o disco tenho a sensação de uma doce tristeza mas não chega a ser uma sensação de melancolia porque logo começa uma nova música, capaz de trazer alegria e sensação de que é possível sempre ser alegre ouvindo de novo.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

ESTOU CANSADA DE NOTÍCIAS



            Paul Valery, o filósofo francês confessou que as notícias o entediavam, dita no contexto entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, parecia que os acontecimentos causariam qualquer coisa, menos tédio. Já é estranho que as coisas aconteçam ler sobre elas é mais maçante ainda. Esses dias em que estou sem atividade profissional, tenho sido bombardeada por uma avalanche de notícias, mas afinal de contas se a vida é o que acontece quando não se está prestando atenção, o ideal seria que ninguém nos chamasse atenção para que está acontecendo afinal se poderia viver melhor.



            Já vivi uma época de minha vida que radicalizei, não queria mais ouvir, ler ou ver notícias, me informaria o mínimo possível sobre o mundo. Mais que uma benção a ignorância pode ser uma forma de saúde, e a omissão um tipo de ecologia. No mundo em que vivemos, com a velocidade das informações, já sabemos seja como for muito.



            2014 promete ser um ano que já nasce a expectativa de uma copa do mundo, prossegue a tediosa sombra da explicação sobre as eleições e desfia sua sucessão maçante de eventos, vernissages, violências, novas novelas e escândalos políticos. Penso que a informação se encontra as voltas com uma aura de fetichismo desmensurado em informar ilimitadamente.



            Fico pensando que em 2014, vai ser difícil não acordar e ser noticiado pela preparação dos jogadores, treinos secretos e expectativas de substituições. Vamos está atualizados minuto a minuto com o resultado dos jogos. E as eleições? Ah essas vêm revestidas de um sabor singular, por serem nacionais virão com elementos de tragédia ou farsa onde recorrem a reações delicadas como: a vingança, o insulto, o despautério, a desforra. Reações comuns a esses dois grandes acontecimentos.



            A imprensa parece não está interessada em frear a suas obsessão pelos detalhes, o único problema é que num romance são saborosos, na vida pública cansativos. A quantidade de informações é tanta que sufoca, é bom indo nos preparando porque 2014 é um ano que promete. 

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

PULP FICTION: TEMPOS DE VIOLÊNCIA




            Pulp Fiction (1994) de Quentin Tarantino é o tipo de filme que gosto de quase tudo, dos diálogos, dos atores, da música e sobretudo, da irreverência sarcástica. São os diálogos que conduzem o filme. O boxeador profissional Butch (Bruce William) acaba de matar um homem no ringue e vai para o hotel onde está sua namorada, ele tem que fugir dos pistoleiros (Samuel L. Jackson e Jonh Travolta)do gângster Marcelus, ganhou dinheiro, mas só consegue salvar sua vida se conseguir fugir deles. Nesse momento de desespero, o diálogo entre Butch e a namorada não é óbvio, ela fala de coisas inusitadas como a vontade de ter uma barriga.



            Se fosse num enredo convencional, Butch falaria para ela o que estava acontecendo, e o diálogo seria conduzido pelo enredo. A conversa é aparentemente irrelevante para estabelecer a personalidade dela e o relacionamento entre eles. É uma diálogo sempre cheio de alusões.



            Os diálogos preparam para as cenas vindouras, como a discussão banal sobre um sanduiche de queijo, para falar de como Marcelus atirou num homem do quarto andar porque ele massageou os pés de sua mulher. Essa é a preparação que Tarantino faz para quando Vicent (Jonh Travolta), leva Mia (Uma Thurman), para sair e ela acidentalmente sofre uma overdose e ressuscita no fornecedor de drogas de Vicent com uma injeção de adrenalina no coração. Imaginei que essa cena seria repulsiva, mas na verdade não o momento da agulha entrando é cortado e atenção é desviada para os espectadores, uma cena grotesca acaba virando comédia.



            O que mais gosto é que Tarantino usa o tempo todo, planos gerais abertos, surpresas, cortes, e o contexto do diálogo para o filme parecer menos violento do que ele realmente é. Brinca com a cronologia, o assalto ao restaurante inicia e fecha o filme, e outras linhas de história entra em sai sem nenhum sentido cronológico.




            Para mim, a grandeza do filme está nos personagens originais (essencialmente cômicos), uma série de eventos vivos e meio fantasiosos, e fundamentalmente pelo diálogo que é a base de todo o filme. Os personagens de Pulp Fiction estão sempre falando e são sempre interessantes, engraçados, assustadores ou audaciosos. Digo sem medo de errar, filme de violência que mesmo carregado de tensão consegue passar uma diversão incrível como na cena em que Jonh Travolta e Uma Thurman dançam no concurso de Twister. Diversão cinematográfica das melhores.
            

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ENTENDENDO NIETZSCHE



Fico pensando por que Nietzsche vende tanto já que é um filósofo tão erudito e as pessoas compram mesmo que não consigam acompanhar. Quando você se relaciona com o seu pensamento uma coisa que é evidente desde o inicio é a sua crítica a história da filosofia. Nietzsche é um pensador do século XIX, período marcado por uma euforia moderna, que vende a ideia de que no futuro o mundo será melhor. A ciência e o pensamento seriam veículos de transformação social.



Nietzsche estudava os pré-socráticos que fundamentavam seu pensamento no devir que seria a vida como processo de transformação constante, mostrando que tudo muda o tempo inteiro, nada é fixo.  Filho de pastor protestante, ele está inserido numa cultura cristã extremamente forte. Seu pensamento foi extremamente marcado por três elementos: modernidade, pensamento arcaico e cultura cristã.



Gosto do Nietzsche porque ele tira o antropocentrismo do homem e diz que somos vítimas do pensamento que cria um outro mundo para o homem além daquele que ele vive. Ele diferentemente dos pensadores de sua época não discute quem está com a verdade, mas para que e porque dá verdade. Ele diz que a verdade não é produto da curiosidade humana em saber como as coisas são, a verdade, é produto do nosso medo da morte, é o produto de uma necessidade psicológica de duração.



Ele entende que o pensamento cristão é uma forma de niilismo negativo, já que eu nego essa vida, em nome da outra. Na modernidade sob o aporte da ciência, o homem não quer mais morrer, então, a morte de Deus é o que marca a modernidade. Essa morte de Deus é a ideia de que quando a ciência nasce, a religião perde o valor, antes o homem rezava para se livrar das doenças, agora ele vai ao médico. Mesmo que esse homem, ainda acredite que Deus existe, esse é colocado em segundo plano, porque primeiro é o médico.



Nietzsche condenava os idealistas a quem afirmava que tentavam mudar o mundo através de sua filosofia pré-concebida, refugiando-se num mundo que nega a realidade que o cerca, eles não constroem uma filosofia a partir do mundo, que era o que ele pretendia, mas tentam mudar o mundo em que vivem. Vejo isso sendo comum na nossa contemporaneidade, você idealiza o filho, a profissão e a sua própria vida, embora esta nem de longe seja feita do ideal, mas somente daquilo que é possível.



Nietzsche entende que na nossa sociedade o que se estabeleceu foi o poder da fraqueza, já que a força estaria no enfrentamento das próprias contradições inerentes a vida humana. A sua grande sacada e nos fazer pensar a nós mesmos nessa vida exatamente como ela é, sem subterfúgios com dor e prazer, elementos centrais na caminhada da humanidade.