terça-feira, 26 de novembro de 2013

O SURREALISMO DE BUÑUEL EM UM CÃO ANDALUZ



Conhecia Um Cão Andaluz (1929) de Luiz Buñuel da maioria dos manuais especializados em cinema, além da associação do nome de Salvador Dali. Partindo de uma linguagem vanguardista de superação dos moldes clássicos da arte, o filme cria uma realidade não tangível aquela que engloba o mundo exterior e interior, sintetizando todos os aspectos da existência humana. O filme não se faz de imagens fantásticas nem de cenários artificiais, o trabalho das imagens é feito com base na recriação da realidade absoluta.



O cinema surrealista de Um Cão Andaluz trabalha bem a ideia de aproximação de imagens aparentemente inconciliáveis, funda-se imagens de objetos cuja significância aparentemente não se assemelham como os pelos da axila de uma mulher e um ouriço, porém relacionam-se pela forma que se apresentam como um formigueiro saindo da mão de um homem. Talvez tente passar a ideia de que a multidão curiosa é como um formigueiro na rotina das ruas.



O filme mostra também fatos irrealizáveis na vida cotidiana: a mulher que tem o olho cortado, aparece oito anos depois, sem nenhuma marca; o ciclista que havia se acidentado e desaparecido aparece depois na casa da mulher; isso mostra que o cinema surrealista, ultrapassa a linguagem tangível. Uma outra noção que é ultrapassada é a de espaço como a mulher que sai direto do cômodo de sua casa para uma praia. Para mim a cena que mais carrega nas tintas do simbolismo e da metáfora, é a do homem puxando arreios presos a dois padres e dois pianos de calda cada um com um jumento morto em cima após acariciar os seios da mulher, o que lembra a culpa sentida pelo fato.



Mas a grande sacada do filme é tratar da reprodução da lógica dos sonhos e do funcionamento da mente humana, não há necessidade de mensuração de tempo e de espaço. O que importa não é o ambiente onde a ação se constitui, mas a ação em si. Acho que o filme trabalha com a ideia de um espectador que deseja uma linearidade, aquele espectador acostumado ao cinema tradicional, com um nexo causal e lógico entre as cenas.


Como o sonho o filme nega essa linearidade, pois para a proposta surrealista que Buñuel e Dali apresentam a arte que se deixa seduzir aos apelos da clareza, acaba por subestimar a inteligência do espectador. Buñuel quando lançou o filme esperava a plateia com um balde cheio de pedras, caso o filme fosse mal recebido, e disse que não aceitaria nenhuma imagem que pudesse se prestar a uma explicação racional, a regra era subverter, por isso que acredito ser o tipo de filme que é preciso ver, para se tirar conclusões particulares sobre o que é apresentado.
 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O EXISTENCIALISMO DE SARTE EM O Ser e o Nada





            Comprei o Ser e o Nada de Sartre quando entrei na faculdade de filosofia queria me inteirar do que se tratava e finalmente entender o que era existencialismo. O livro foi lançado em 1943 em plena Segunda Guerra Mundial, é volumoso, e sua leitura, pelo menos para mim, é densa e difícil, mas, ao final é fundamental para entendimento desse posicionamento filosófico. O existencialismo parte do principio de que a liberdade humana é a essência de todas as coisas, o homem seria capaz de se fazer a si mesmo a partir de suas escolhas.


            O livro se inicia tratando sobre a consciência humana afirmando que esta é relacionada a algo exterior a ela própria. O homem é o grande elemento central de sua obra, e para ele, é esse homem que é capaz de modificar as coisas, já que a existência precede a essência, e é aí que reside a liberdade da natureza humana. Os outros seres são predeterminados, o homem é livre, então o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si  mesmo. Sendo assim, o próprio homem decide o seu caminho, se decidir ser herói ou covarde ele é o único responsável por esse ato praticado.


            Sartre defende a acusação de que o existencialismo seria pessimista afirmando que seria uma doutrina otimista, pois nela está inserida o destino do homem. O homem existe, se descobre, aparece no mundo, só depois ele se define, sendo assim, o único fundamento de ser é a liberdade. O homem escolhe os seus projetos usando de sua liberdade e os seus valores, esses valores serão criados a partir das escolhas por ele feita, de onde não tem como fugir.


Essa liberdade é diferente da liberdade do humanismo que está relacionada a livre arbítrio, fazer ou não fazer, a liberdade sartreana é a capacidade do sujeito encaminhar o que será de sua vida responsabilizando-o pelos seus atos. A liberdade do existencialismo apresenta limitações impostas pela sociedade e suas regras as quais devemos nos submeter e é devido a essa submissão que as vezes o homem entra em conflito com o meio social em que vive.


Ao colocar o homem como responsável por sua existência, Sartre afirma ser um existencialista ateu, desse modo conclui que não há uma natureza humana e que não há um Deus para originá-la. Entendo que aqui o que Sartre pretende é que independente de Deus existir ou não, nada poderá livra-lo de si próprio, nem mesmo a concretude de Deus.


Toda a proposta apresentada por Sartre nessa obra é muito forte, e tive a sensação de que não sabemos exatamente quem somos, falta o ser, vivemos num caminho de contentamento com nossas ações fragmentadas, ao ponto de ser quase insuficiente a criação de uma identidade definitiva e autônoma. Lendo Sartre sinto um mal estar inquietando o meu ser, capaz de provocar minha existência, e consumir ilusões e crenças de que somos sustentáculo, da identidade, do nome, do título, da profissão e tudo o mais que seja capaz de levar a esperança vazia de ser humano, de ser Deus. 

domingo, 24 de novembro de 2013

TRUFA NEGRA: O DIAMANTE DA GASTRONOMIA



Se algo não dá emoção não significa nada para mim, uma das melhores emoções que tenho são as gastronômicas, aquelas que agradam os sentidos como o paladar, o aroma e a vista. Essas emoções são testadas em meu restaurante preferido, uma cantina italiana, aqui na minha cidade que serve um Fettuccini al tartufi nero, a trufa negra é o ingrediente protagonista. Gosto de seguir a tradição e antes desse prato principal peço a entrada, que é sempre um Focaccia de alecrim, e após um doce.



A trufa negra é o diamante negro da gastronomia, é um fungo que brota espontaneamente de novembro a março nos bosques da Úmbria, região que fica no centro da Itália, mas ele dá também em outros países como França e Alemanha, são encontrados também, no Óregon Estados Unidos e na Nova Zelândia. Lendo sobre o assunto soube que o apreço e os aspectos culturais e simbólicos que a trufa negra exerce na Itália é tão grande que a população encontra formas de preserva-la.


Reitero o pensamento da maioria, o seu sabor é inigualável, me arrisco a dizer, que tem um gosto que remete a nozes, porém muito mais aromático, suave, refinado, com um que de sensual. O prato de massa é mero coadjuvante, as trufas são o elemento central, a alegria do prato e do momento gastronômico, não podem ser misturadas com ingredientes de sabores fortes, como alho ou manjericão, degustar um prato preparado com elas, vai além da experiência meramente gastronômica, é algo sensorial. O segredo da gastronomia italiana não é algo rebuscado, as receitas são simples, mas, os ingredientes são de qualidade.


Acredito que o prazer dessa lembrança, em degustar um prato de azeite e massa com um toque trufado, está em entender que as melhores coisas da mesa e da vida são muito mais simples do que a gente imagina.