quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A PAISAGEM BRASILEIRA CRIADA POR BURLE MARX



            Fiz mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, quando comecei a dá aulas a temática   que mais me interessou foi o desenvolvimento urbano, principalmente as criações do paisagista Roberto Burle Marx que com Oscar Niemayer e Lúcio Costa formou o trio central do modernismo arquitetônico brasileiro. Sua obra é tão notável que quando observamos milhares de pessoas desfilando no calçadão de Copacabana no Rio de Janeiro, um dos maiores cartões postais do país fica difícil deixar de notar que o desenho ondulante das pedras do passeio dialoga perfeitamente com a própria baía e o pão de açucar ao fundo.


            O interessante é que a curva da praia não dialoga somente com o piso da calçada mas também com as árvores plantadas na ilha central da Avenida Atlântica e com os jardins calculadamente dispostos ao lado dos prédios. Vista do alto dá a ideia de uma pintura modernista. O brasileiro Roberto Burle Marx (1909-1994), ajudou a desenhar também com plantas, flores e lagos, alguns dos endereços mais divulgados do Brasil como o Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro, o Parque o Ibirapuera em São Paulo, e o conjunto da Pampulha em Belo Horizonte.


            Burle Marx, sempre entendeu que ao artista, vale a mesma máxima que a distância, no caso atemporal ajuda a mostrar a real dimensão das coisas. Juntamente com Oscar Niemayer forma os elementos do nosso modernismo arquitetônico, com características próprias que vai além do racionalismo em voga na época na Europa por Le Courbisie. Além do instável em sua obra ele é ainda inovador por: incluir aos jardins um caráter pictórico; incorporar plantas a sua criação, atitude pioneira na década de 1930; precursor do pensamento ecológico na década de 70; fez do jardim uma experiência estética para criar sensação.


            Uma coisa é certa não houve no mundo quem levasse a estética moderna para o paisagismo como fez Burle Marx, daí sua dimensão; as curvas que surgiram depois das construções de concreto armado de Lúcio Costa e Burle Marx apareceram pela primeira vez nos jardins de Burle Marx. Admirar os seus jardins é perceber seus contrastes texturas e volumes. Ele abandonou o modelo quase estático europeu em que predominavam as rosas azaleias e magnólias. Para se aproximar a criações mais livres que se assemelham a própria mata virgem.


            Eu particularmente gosto de sua obra e o que sempre procurei mostrar aos meus alunos foi que sua experiência do jardim é toda ela feita de ritmos. Como experiência física põem em cheque toda a experiência do corpo, sua verticalidade. É uma peça em puro deleite para deixar os sentidos em forma de amostra. Considero-o modesto e em uma das entrevistas que deu ao longo da vida, disse que foi poeta de sua própria vida. E o interessante é que com sua poesia mudou os parâmetros da arte moderna no país, provocando até hoje um deleite aos nossos sentidos. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

VIAGEM A LUA DE Méliès



            Quem gosta de cinema e se interessa pelo assunto, conhece, já viu ou já ouviu falar do filme Viagem a Lua de 1902 do ilusionista francês Georg Méliès, um dos precursors do cinema que usava inventivos efeitos fotográficos para criar mundos fantásticos. Já tinha lido muito sobre o assunto, mas ontem, assisti o filme no You tube e me questionei se faria ou não uma crítica aqui para o blog. É muito difícil analisar esse filme, primeiro para os nossos olhos contemporâneos, um filme desse soaria tolo e simplório, mas é preciso avaliar o período em que ele foi lançado e para a época seria até ousado, já que o homem só veio a pisar a lua 67 anos depois. Um outro problema seria o que dizer de um filme que tem apenas 12 minutos? Vamos as impressões.  


            O filme apresenta um mundo de paisagens fantásticas, onde um grupo de velhos professores entram em uma cápsula de metal em formato de bala, disparada de um canhão em direção a lua. Lá os viajantes são submetidos a um julgamento pelos tribunal e pelos habitantes de lá, esse são um mistura de crustáceo, papagaio e esqueleto. O filme apresenta uma violência infantil, os viajantes matam alegremente os nativos e viajam de volta a terra. 


            O filme vale ser visto, pela técnica inovadora para a época, a imaginação apurada do diretor que era capaz de pensar como seria a lua, satélite que fascina a humanidade a tanto tempo e que na época era apenas um mistério. Os cenários magnificos para a época com cogumelos gigantes e palácios lunares. E sobretudo, pela manipulação engenhosa dos cenários teatrais, como a lua que é apenas um rosto humano coberto de massa e que chora quando o foguete atinge seu olho. É um mundo mágico e encarpado, onde impera acima de tudo a criatividade. 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A ÉTICA EM HANNAH ARENDT



As minhas últimas aulas como professora foi na disciplina de Ética, o que para mim foi de grande valia, porque a discussão sobre o assunto transcende os aspectos puramente acadêmicos ou filosóficos e alcançam a vida pessoal. Um dos principais textos que  gostei de trabalhar foi A Condição Humana de Hannah Arendt que apresenta uma ética com pressupostos ligados mais ao mundo, seu maior interesse, muito maior do que qualquer inquietação com o espírito, ou com o ser em si.


Essa ética não está centrada em elementos subjetivos, mas na política e no centro de suas questões. Daí comungo com o pensamento dela, o que pode ser visto em outros textos aqui no blog, de que a crítica da falência ética está centrada contra a consagração do sujeito moderno e seu processo de alienação do mundo, a ponto desse sujeito vir a ser somente mais um objeto passível de destruição.


Como o mundo é condição da existência da condição humana é preciso que se tenha cuidado com ele, é esse espaço em que o homem por meio de algumas atividades condiciona a sua própria existência, sendo assim, tudo que adentra esse mundo, ou por ele é trazido pelo esforço humano faz parte da condição humana.


O bom do pensamento e da obra de Arendt é que ela nos apresenta uma ética que não tem um modelo definido como na ética tradicional, é uma ética ativa em que o próprio movimento se configura na referencia de como agir novamente. A prática (práxis) é o que revela o conteúdo ético. Essa práxis é toda atividade que ao ser executada é um fim em si mesma. O caráter político de sua ética é reafirmada quando entende que transformações sociais só são feitas por muitos homens e nunca por um só.


Como esse pensamento de uma ética que pode ser mensurada na prática pode ser materializada? Pode ser através das respostas as questões que surgem da experiência cotidiana, do inesperado, do contingente que atuam em nossas vidas, não poderiam ter um único sentido nem uma essência invariável que predetermina o modo de agir, o ainda que existe o Bem essencial, onde todas as ações deveriam convergir para esse fim. O que existe são bens que surgem e se mostram a medida que os homes se movimentam em seus espaços de mundo.


A ética de Arendt apresenta uma proposta voltada não para o EU mas para o mundo. Sua ética se forma a partir de uma prática referenciada pelo cuidado em relação ao espaço que vivemos e compartilhamos com os outros, o qual garante nossa dignidade como seres singulares. E nossa visão crítica dos hábitos e costumes dos grupos sociais dos quais somos parte. 

domingo, 1 de dezembro de 2013

A FOTOGRAFIA REALISTA DE SEBASTIÃO SALGADO



            Estava vendo uma edição antiga de uma revista de arte e encontrei uma matéria sobre o Sebastião Salgado fotógrafo documentarista  mineiro de notável reconhecimento internacional, e pensei como a sua arte em preto e branco retrata os sofrimentos do mundo. A produção da imagem fotográfica sempre implica que o ato fotografado constitui um julgamento da realidade apresentada. Sendo assim a produção de Sebastião Salgado certamente tem uma conotação política.


            Suas imagens produzem efeitos sociais e a questão do sentir como um dos efeitos produzidos pela fotografia, torna-se grande, porque não é o sentir individual, mas coletivo, e o visual que nos afeta está relacionado ao fato de que o mundo social é a representação que os grupos fazem deles mesmos.


            Podemos notar em sua obra fotográfica a presença de marcas visuais fortes e insistentes. Acredito que ele escolheu com seu trabalho, perguntas difíceis de serem respondidas. Embora se proponha desvendar os danos causados pela miséria do mundo, sua visão é ampla e está longe de ser redutora, quando mostra de forma extraordinária pessoas que lutam para manter suas vidas.


            Suas fotos dão nobreza e respeito a quem está sendo fotografado, e obedecem uma série de técnicas fotográficas como: focalização em contraluz, contraste claro e escuro, profundidade de campo, a granulação a variação de texturas contribuem para dá a aparência estético-artística ao seu trabalho. Isso engrandece e volta o olhar para as problemáticas políticas que se encontram as pessoas fotografadas.


            Seu gênero é o de fotografia documental, o que nos remete de imediato a finalidade de denúncia social, mas alguns gestos, olhares e poses dos fotografados têm um que de estereotipados, a apresentação de elementos simbólicos que caracterizem etnia, profissão e condição social atestam isso.


            Mas sua obra é muito grande, e seria simplista reduzi-la a qualquer pequeno elemento, o que ele busca é mistura de justiça social, sensibilização, solidariedade, reconhecimento social entre outros elementos. Sua política passa pela compaixão, mas não para aí, ele vai em direção do reconhecimento social, reconhece, às pessoas representadas e à sua dignidade, o direito ao respeito.


E esse reconhecimento não é somente possível, mas, em certo sentido, torna-se obrigatório, pois Salgado não retrata a condição de pobreza de maneira humilhante. Não humilhar as pessoas é, a primeira condição para a edificação de uma sociedade decente, e somente uma sociedade decente em espírito pode constituir uma sociedade igualitária no verdadeiro sentido político do termo.