segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O EXISTENCIALISMO DE SARTE EM O Ser e o Nada





            Comprei o Ser e o Nada de Sartre quando entrei na faculdade de filosofia queria me inteirar do que se tratava e finalmente entender o que era existencialismo. O livro foi lançado em 1943 em plena Segunda Guerra Mundial, é volumoso, e sua leitura, pelo menos para mim, é densa e difícil, mas, ao final é fundamental para entendimento desse posicionamento filosófico. O existencialismo parte do principio de que a liberdade humana é a essência de todas as coisas, o homem seria capaz de se fazer a si mesmo a partir de suas escolhas.


            O livro se inicia tratando sobre a consciência humana afirmando que esta é relacionada a algo exterior a ela própria. O homem é o grande elemento central de sua obra, e para ele, é esse homem que é capaz de modificar as coisas, já que a existência precede a essência, e é aí que reside a liberdade da natureza humana. Os outros seres são predeterminados, o homem é livre, então o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si  mesmo. Sendo assim, o próprio homem decide o seu caminho, se decidir ser herói ou covarde ele é o único responsável por esse ato praticado.


            Sartre defende a acusação de que o existencialismo seria pessimista afirmando que seria uma doutrina otimista, pois nela está inserida o destino do homem. O homem existe, se descobre, aparece no mundo, só depois ele se define, sendo assim, o único fundamento de ser é a liberdade. O homem escolhe os seus projetos usando de sua liberdade e os seus valores, esses valores serão criados a partir das escolhas por ele feita, de onde não tem como fugir.


Essa liberdade é diferente da liberdade do humanismo que está relacionada a livre arbítrio, fazer ou não fazer, a liberdade sartreana é a capacidade do sujeito encaminhar o que será de sua vida responsabilizando-o pelos seus atos. A liberdade do existencialismo apresenta limitações impostas pela sociedade e suas regras as quais devemos nos submeter e é devido a essa submissão que as vezes o homem entra em conflito com o meio social em que vive.


Ao colocar o homem como responsável por sua existência, Sartre afirma ser um existencialista ateu, desse modo conclui que não há uma natureza humana e que não há um Deus para originá-la. Entendo que aqui o que Sartre pretende é que independente de Deus existir ou não, nada poderá livra-lo de si próprio, nem mesmo a concretude de Deus.


Toda a proposta apresentada por Sartre nessa obra é muito forte, e tive a sensação de que não sabemos exatamente quem somos, falta o ser, vivemos num caminho de contentamento com nossas ações fragmentadas, ao ponto de ser quase insuficiente a criação de uma identidade definitiva e autônoma. Lendo Sartre sinto um mal estar inquietando o meu ser, capaz de provocar minha existência, e consumir ilusões e crenças de que somos sustentáculo, da identidade, do nome, do título, da profissão e tudo o mais que seja capaz de levar a esperança vazia de ser humano, de ser Deus. 

domingo, 24 de novembro de 2013

TRUFA NEGRA: O DIAMANTE DA GASTRONOMIA



Se algo não dá emoção não significa nada para mim, uma das melhores emoções que tenho são as gastronômicas, aquelas que agradam os sentidos como o paladar, o aroma e a vista. Essas emoções são testadas em meu restaurante preferido, uma cantina italiana, aqui na minha cidade que serve um Fettuccini al tartufi nero, a trufa negra é o ingrediente protagonista. Gosto de seguir a tradição e antes desse prato principal peço a entrada, que é sempre um Focaccia de alecrim, e após um doce.



A trufa negra é o diamante negro da gastronomia, é um fungo que brota espontaneamente de novembro a março nos bosques da Úmbria, região que fica no centro da Itália, mas ele dá também em outros países como França e Alemanha, são encontrados também, no Óregon Estados Unidos e na Nova Zelândia. Lendo sobre o assunto soube que o apreço e os aspectos culturais e simbólicos que a trufa negra exerce na Itália é tão grande que a população encontra formas de preserva-la.


Reitero o pensamento da maioria, o seu sabor é inigualável, me arrisco a dizer, que tem um gosto que remete a nozes, porém muito mais aromático, suave, refinado, com um que de sensual. O prato de massa é mero coadjuvante, as trufas são o elemento central, a alegria do prato e do momento gastronômico, não podem ser misturadas com ingredientes de sabores fortes, como alho ou manjericão, degustar um prato preparado com elas, vai além da experiência meramente gastronômica, é algo sensorial. O segredo da gastronomia italiana não é algo rebuscado, as receitas são simples, mas, os ingredientes são de qualidade.


Acredito que o prazer dessa lembrança, em degustar um prato de azeite e massa com um toque trufado, está em entender que as melhores coisas da mesa e da vida são muito mais simples do que a gente imagina. 

sábado, 23 de novembro de 2013

KENNEDY, O MITO 50 ANOS DEPOIS



            Ontem fez 50 anos da morte do Presidente Jonh Kennedy dos Estados Unidos da América, imprensa de todo o mundo fala no assunto, e mais do que nunca acredito que os mitos repercutem através dos tempos, como uma ideia hipnótica que se perpetua e se projeta para a posteridade. Kennedy foi o 35º Presidente dos Estados Unidos, com o seu assassinato foi criado um dos mistério mais enigmáticos do século XX, quem realmente matou o presidente?


            Para os americanos e as teorias conspiratórias, tudo foi possível, desde os comunistas russos até Fidel Castro, o que não aceitam por certo é  que Lee Oswald, o assassino apresentado pela polícia e morto dois dias após tenha provocado o fato. Foram mais de mil dias de governo, e a projeção para a história de um jovem político e carismático, herói de guerra, com a família perfeita, defensor da democracia e das liberdades individuais.


            Vendo a sua vida antes do mito, quando era meramente um mortal, penso no poder que o mito tem em glamourizar, pessoas e situações. O mito antes de qualquer coisa é uma instituição, uma forma espontânea de situar os seres humanos na sociedade, suas raízes se acham na explicação simbólica anteriores a consciência. Antes de ser pensado um mito é vivido, adorado, venerado, sustentado pela força misteriosa da fé.


            Acredito que os sonhos e mitos construídos dentro do imaginário coletivo de uma nação, são paradigmas difíceis de serem superados, deve ser por isso, tanto apelo místico em relação a morte de Kennedy e a manutenção do suporte comercial que o tema acarreta, são milhares de livros e filmes produzidos sobre o assunto. Se a verdade fosse realmente conhecida talvez tivesse maiores consequências na política norte americana. Se o presente é consequência do passado, é fundamental saber, com o maior grau de assertividade possível o que é esse passado afinal? Ou a verdade nunca aparecerá e ficará num tempo entre a fronteira do heroismo e do banditismo. 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

AS CIDADES INVISÍVEIS DE ÍTALO CALVINO





            Esse texto do Ítalo Calvino se tornou inesquecível para mim porque fiz uma citação dele na minha dissertação de mestrado e o meu orientador me pediu para retirar e eu não o fiz. Calvino era minha identidade maior com a temática da cidade como um todo, que eu tratava no trabalho de dissertação. O seu texto é tão impactante que provoca transformações após a leitura, muda-se o olhar que se tem diante das cidades. 


Moro a mais de dez anos na mesma cidade, e durante esse período venho acompanhando seu crescimento e suas mudanças, e mais do que nunca vejo a tese suscitada pelo livro como atual, afinal existem múltiplas cidades dentro de uma só, variando de acordo com os grupos sociais. Quando eu morava no trecho leste a cidade tinha uma cara, cheiros e sabores, mais regionais e aparência menos urbanizada, quando me mudei para o oeste encontrei uma outra cidade, mais próspera, mais urbaniza, mas no entanto, mais quente.


            Essas reflexões trazidas pela obra, nos coloca diante de uma das mais agradáveis produções do século XX, onde o autor lhe dá as diretrizes para que você possa fazer as coisas do seu jeito. É um texto construído de forma a dá passagem a muitos outros espaços, ele mostra que uma cidade espelha-se na outra, gera outra, depende da outra num processo de apagamento de autoria única. Logo que iniciamos a leitura, temos aflorado uma ideia de espanto, não só pelos seus mistérios e segredos, mas pela indeterminação de imagens fugidias que tem as cidades.



            As cidades apresentadas são sempre afirmadas num não lugar, o que impossibilita de serem cartografadas e isso reafirma a potência virtual do texto. O interessante é a capacidade geométrica de articulação de Calvino, que divide a obra em onze blocos, cada bloco apresentando cinco cidades, chegando a um total de cinquenta e cinco. Essas cidades são deslocadas dentro da obra, e a leitura pode começar por qualquer uma, são textos curtos e independentes. O leitor tem ainda a opção de ler apenas o diálogo entre Marco Polo e o Grande Khan, ignorando o relato das cidades. Mesmo avulsas a histórias estabelecem entre si um fio condutor que é o de que não há cidade que não seja sujeita a mudanças.


            O mais curioso é que essas cidades imaginárias sempre têm nome de mulher através de caminhos que se abrem e se bifurcam e nunca se apresentam os mesmos, são elas: Diomira, Isidora, Dorotéia, Zaíra, Izaura, Marília, Zenóbia e tantas outras e escapam do controle humano, racional que oferecem surpresas constantes a todos os sentidos. Suas ruas e vielas nunca podem ser fixadas no papel, sendo comparadas por Marco Pólo aos caminhos das andorinhas que cortam o ar acima dos telhados, perfazem parábolas invisíveis com as asas rígidas, desviam-se para engolir um mosquito, voltam a subir em espiral rente a pináculo, sobranceiam todos os pontos da cidade de cada ponto de suas trilhas aéreas.


            A percepção que Ítalo Calvino desperta através do simbólico e da descrição de Marco Polo, que adentra o império de Kublai Khan traz a ideia de que é preciso superar as aparências e mostrar que as múltiplas cidades são somente uma. Eu particularmente, acredito que As Cidade Invisíveis são construções a partir de nossa memória, que é pilar e edificação de cada cidade. Uma coisa tenho por certo cada cidade só alcança significado, só toma forma a partir daquilo que atribuímos a ela, através de nossas lembranças, vínculos e identificações.