terça-feira, 9 de outubro de 2012

SOBRE FAZER CIÊNCIA





            Quando eu estava cursando o mestrado o que mais me fascinava era a construção do meu objeto de investigação às ferramentas que me levavam aos caminhos de se fazer ciência. Na graduação tive um professor de filosofia que me desencorajava, ele dizia com veemência que o que eu fazia não era ciência, mas senso comum, ao invés de me amofinar, resolvi entender o que seria ciência e começar a construir meus próprios caminhos.


            Sendo das ciências sociais, padeço de uma problemática, como irei objetivizar, quantificar, mensurar o mundo social, sendo este, complexo, dinâmico, dialético tão grande que é impossível de ser sintetizado em dados estatísticos. Além do que o social não pode ser testado com a mesma visibilidade material de um experimento das ciências naturais, como à farmacologia, só por exemplo.


            Entendi que compreender a sociedade é caminhar para o universo dos significados, atitudes, costumes e comportamentos. Sempre dei um enfoque chamado de sistêmico, já que este revela que nada numa sociedade acontece por acaso, já que ela é um sistema coerente de relações sociais.


            O interessante é que aprendi que a construção de um objeto científico é antes de qualquer coisa a tentativa de rompimento com o senso comum, procurando instaurar a conversão do pensamento, à revolução do olhar e a ruptura com o pré-construído. Desse modo, seguimos na tentativa de objetivação do mundo social, considerando porém que em qualquer ação está intrínseca a nossa subjetividade.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

CHICO BUARQUE E SEU NOVO DISCO.





            Me considero limitada em relação à música, gosto de alguns cantores e estilos e a eles sou fiel. Dentre todos tenho especial predileção pelo Chico Buarque, trata-se de uma relação de muitos anos, lembro que estava em plena adolescência e suas músicas eram um mundo fascinante à ser descoberto. Sentia uma felicidade e bem está ao ouvir A Banda e tentava entender com atenção o sentido de Geni e o Zepelin, que só vim compreender realmente alguns anos depois.


            Tenho quase todos os seus discos conheço quase todas as músicas e com o tempo a predileção se aprimorou, o meu sentimento sobre as suas músicas passou a ficar mais apurado e seus discos mais refinados com a gravadora Biscoito Fino. Entendo, ou imagino entender, o que ele diz e não necessito de grandes manifestações, gostar dele em silêncio, fazer com que ele preencha o meu mundo com suas crônicas e poesias, já me basta. 

            Seu novo disco Na Carreira é ao vivo e segue uma linhagem sóbria, antes de ouvir já tinha certeza que seria uma boa compra. O disco é uma reprodução da turnê que o artista fez em fins de 2011 e início de 2012 para promover o disco Chico. Trata-se de uma obra com arquitetura sofisticada, onde ele mixa músicas desse último disco com outras que fazem parte de sua produção de mais de quarenta anos.


            Voz e instrumentos estão em perfeita harmonia, o que valoriza a audição do disco. O disco abre com O Velho Francisco (1987) e fecha com Na Carreira (1982). O bom é que esse disco é o sexto ao vivo na carreira do cantor e marca o seu momento mais maduro e sereno em palco. Para mim o bom de tudo isso é que comprei um disco que não vou deixar de ouvir e que sempre vai me remeter ao melhor das músicas de minha vida. 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

SOBRE POLÍTICA, CARNAVAL E DEMOCRACIA.




Dizem que o homem é um animal político por excelência, na escala evolutiva da história foi preciso que ele se agrupasse com outros de sua espécie para que pudesse ser mais forte, já que era o mais fraco em constituição física dentre os animais da natureza. Esse sentimento de agrupamento é responsável por criar os grupos sociais e com eles a sociedade como um todo.


Como o homem não é autárquico necessita de uma garantia exterior a ele enquanto individuo é aí que entra a política, como instrumento capaz de normatizar a vida em sociedade, e que busca como fim último a felicidade comum. Acredito que esse conceito na prática é imensamente deturpado, entendemos contemporaneamente política somente na dimensão da administração pública executada por gestores a quem damos titularidade para administrar os interesses da coletividade.


Democracia seria esse regime de governo em que as pessoas, o povo, é o responsável por tomar decisões relacionada aos interesses de todos. No caso do Brasil, vivemos numa democracia indireta na qual os representantes são eleitos pelo povo, como tido para atender os interesses da coletividade.


Ontem fui ver uma manifestação de candidatos a eleição municipal da chapa governista. E fiquei indagando sobre esses conceitos. Me vi na Roma Antiga em que os interesses de uma casta privilegiada daqueles que são amigos do poder sempre prevalecem em detrimento dos interesses do povo. Vi várias pessoas com interesses claramente pessoais e cada um defendendo o seu terreno, a bandeira coletiva que se torna individual. O curioso é como o povo, a maior parcela dos participantes, entram como autômatos nessa marcha, dançam, cantam se entusiasmam e imaginam que a vida pode melhorar, mas o triste é que a vida melhora sim, mas para os amigos do poder.


Uma coisa bem particular do Brasil é a forma de manifestação pública, afora qualquer conceito sociológico, o povo se entorpece de álcool e entusiasmo carnavalesco, cada um com sua fantasia, seu bloco, seu cordão, seu abre alas. No fim tudo vira um grande carnaval, os candidatos e políticos de maior renome, são os artistas, da festa, o povo a grande massa necessária para o acontecimento e a pequena parcela privilegiada, os verdadeiros donos do poder.  

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

PARA ERIK HOBSBAWM.





            Gosto de tudo um pouco, por isso não consigo me definir exatamente como sendo de uma área específica. Como já disse em outros momentos nesse espaço tenho especial interesse pelas coisas do passado, sendo assim, tenho uma predileção por história. Daí vem o meu interesse pela obra de Hobsbawm. Seu estilo com forte caráter marxista me prendem a leitura agradável do início ao fim.



            Eric J. Hobsbawm nasceu em Alexandria no Egito, em 1917. Estudou em Viena, Londres e Cambridge. Fez parte do corpo docente do King’s College de Cambridge, entre 1940 e 1955, foi catedrático de História da faculdade de Birbeck da Universidade de Londres de 1959. Morreu hoje em Londres aos 95 anos, deixando um legado intelectual de grande relevo para explicar a nossa modernidade.


            Comecei a ler sua obra por Era dos Extremos: o breve século XX, que traz um aspecto politico da história mostrando que o século XX iniciou-se com a Primeira Guerra Mundial em 1914 e terminou com o fim do regime Socialista da antiga URSS em 1991. Depois voltei no tempo e comecei no estudo das eras com: A era das Revoluções (1789-1848); A era do Capital (1848-1875); A Era dos Impérios (1875-1914). O interessante dessas três Eras é a monumental força que possuem para analisar a história mundial.


            É traçado com extraordinária clareza o processo de transformação pelas quais passaram todas as camadas sociais da Europa, indo da Revolução Francesa ao período das Revoluções passando pela formação dos Impérios Coloniais que marcaram o século XIX e deram ensejo à Primeira Guerra Mundial.


            O que me fascina é a forma como ele integra a cultura, a política e a vida social, com precisão teórica e capacidade de síntese. Sua visão é abrangente, original, seu estilo é conciso e elegante. Analisando as transformações sociais sob um ótica que transcende a visão oficial daqueles que ganharam às batalhas da sociedade que ele analisa.



            Por tudo isso, hoje mais do que nunca reafirmo a imortalidade do seu legado. E do prazer que causa a leitura de suas obras.